Wednesday, October 26, 2016

NOSSO HOMEM NA "DESERT TRIP" COMENTA OS SHOWS DE ROGER WATERS E DO THE WHO



No último dia de festival continuamos com os contrastes.

Acredito que a única banda na ativa capaz de rivalizar com os Rolling Stones em número de hits seja o The Who.

Mas, ao contrário dos Stones, que habitam o Olimpo e parecem se apresentar para plateias gigantescas se nenhum esforço, The Who parece habitar o mundo dos Semideuses que tentmr, com muito esforço, se manter próximo dos Deuses.

Chega a ser visível -- e é emocionante -- o esforço de Pete Townshend e, principalmente, de Roger Daltrey em manter a banda viva.

Se o tempo foi gentil com a voz do Neil Young, não dá pra dizer o mesmo com o Roger Daltrey. A voz dele está bem diferente do auge do The Who. Então ele se esforça pra entregar à platéia versões dignas dos hits que todos os fãs esperam.

Apesar de não produzir nada relevante desde 1982, todo o repertório da banda lançado até então já é suficiente para entregar um setlist dos sonhos.

E foi isso que a banda fez.


Abriram com I Can’t Explain, seguiram com The Seeker, levantaram o público com Who Are You e emendaram na sequência The Kids Are All Right, I Can See For Miles, My Generation e Behind Blue Eyes. Poucas bandas na história são capazes de abrir um show tão bem.

Depois de manter o clima com Bargain, Join Together e levar o publico ao delírio com You Better You Bet, começa a fase das operas rock, com quatro temas do disco Quadrophenia na sequência: 5:15, I’m One, The Rock e Love Rein O’er Me. Após inserir Eminence Front na lista, vieram temas do clássico Tommy: Amazing Journey, Sparks, Pimball Wizard e See Me Feel Me. Mais uma vez o esforço de Daltrey e Townshend em permanecer sendo The Who é bem visível. Mas o resultado é recompensador e emocionante.


O show fechou em grande estilo com Baba O’Riley e Won’t Get Fooled Again. Sem direito a bis. Mas acredito que ninguém tenha ficado decepcionado.


Depois de três dias, chegamos ao ultimo show do festival.


Se houve um erro na organização, acredito que foi escalar o Roger Waters para fecha-lo.

Acho que as músicas longas e um pouco mais lentas me fizeram sentir o cansaço de três dias de maratona, daí acabei assistindo praticamente o show inteiro sentado. Mas, como o publico terminou o show em êxtase, acho que essa é uma impressão só minha.

Vargas Llosa diz no livro Civilização do Espetáculo que os grandes concertos de musica popular foram substituindo, de alguma maneira, as cerimônias religiosas.

Neste caso, não existe alguém que represente melhor isso do que o Roger Waters. Os seus fãs são quase religiosos. Não à toa, foi o dia com maior consumo de álcool (sem nenhuma ocorrência maior) e onde a “maconha medicinal” foi mais utilizada. Tudo isso faz parte da cerimonia...

Como sempre, o visual é uma parte tão importante quanto o som. Desfilaram pelo palco um serie de efeitos especiais, chaminés, luzes intensas apontando para o céu, o famoso porco voador -- numa “homenagem” a Donald Trump, que, alias, foi bastante lembrando durante o show – e uma simulação de decomposição da luz em cores que foi o ponto alto da noite em termos visuais, lembrando a capa de The Dark Side of The Moon. O som surround, usado de forma modesta nos shows que vejo no Brasil, foi muito usado por aqui, e de forma impressionante. Palmas, gritos, helicópteros e outros efeitos envolviam a plateia, causando um efeito peculiar e muito eficaz.

Roger estava bem à vontade. Parecia bastante bem-humorado. Até leu um poema no palco. O tradicional número com crianças em Another Brick In The Wall também foi um dos pontos altos do show, que fechou de maneira grandiosa com Comfortably Numb, deixando os fãs extasiados, hipnotizados pelo conjunto música/imagem.


Segue o setlist do show:

Speak to Me
Breathe
Set the Controls for the Heart of the Sun
One of These Days
Time
Breathe (Reprise)
The Great Gig in the Sky
Money
Us and Them
Fearless
Shine On You Crazy Diamond (Parts I-V)
Welcome to the Machine
Have a Cigar
Wish You Were Here
(intervalo)
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall
Mother
Run Like Hell
Brain Damage
Eclipse
Why
Cannot The Good Prevail (poema)
Vera Bring The Boys Back Home
Comfortably Numb



Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.



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