Os circos hoje em dia praticamente nem existem mais ou se transformaram num complexo de luminotecnias: combinam muitas luzes com malabarismos recobertos pela ilusão da mágica que engana os olhos dos espectadores, competindo com televisão e cinema e, mesmo assim, são raros de se encontrar. Além disso, com a crescente moralização contemporânea que humaniza os animais e animaliza os humanos, os circos estão proibidos de usar animais como antigamente, sob a pecha de cometerem maus tratos. Esse pode ter sido um dos fatores que fizeram que desaparecessem tal como eram, somados a outros como encarecimento da atividade com transporte, uso de espaços para instalação, cada vez mais raros nas cidades, e inflacionados pelo alto aluguel e muitas vezes pela necessidade de pagar propina para político autorizar sua instalação. Já nem chamaria de circo isso que restou, agora também transformado em escola de malabarismo e, felizmente, de palhaços, e que, por ainda carregar uma lona, não traz o mesmo encanto sob ela que um dia os mambembes traficaram pelas pequenas cidades do interior iluminando os olhos infantis ávidos por imaginar como seria o mundo fora do seu diminuto quintal. Foi num desses circos de várzea que pela primeira vez vi um teatro, me encantando com a encenação, de tal forma que posso dizer que isso foi uma das coisas que atraiu minha atenção para o teatro, uma vez que já adorava os filmes das matinadas passadas em Maringá nos domingos pela manhã, antes da macarronada da mama. O primeiro circo em que entrei instalou-se numa esquina da Avenida Tuiuti, em Maringá, onde hoje está o Colégio Branca da Mota Fernandes. Foi por volta de 1970. As ruas e avenida eram de chão batido e encascalhado para não virar atoleiro nos dias de chuvas. O terreno nessa esquina era um lugar onde se batia uma bola, atividade atrapalhada pelo circo que ocupava todo o lugar. A chegada do circo era uma novidade sem precedentes, pois havia um desfile pelas ruas com seus carros estranhos, animais “exóticos”, pessoas esquisitas. Assistíamos os homens num bate-marreta suarento até enfiarem integralmente longos eixos de caminhão no solo que serviriam para amarrar com segurança as cordas que esticariam as lonas, sendo esse o primeiro momento mágico, começado com o mastro central com uma alegre bandeirola colorida e um cordame incrível. Enquanto isso, via-se um carro com alto-falantes e um bicho circular pelas ruas anunciando o espetáculo, ou bisbilhotava-se os animais e as pessoas transitando de um carro-alojamento para outro, sendo esse outro fato incrível, habitar num veículo, que tentávamos espiar como era dentro aquela casa... Ainda que os palhaços sempre tivessem a preferência geral, indispensáveis, o circo naquela época dos anos 1960/1970 atraía as pessoas com uma peça teatral, inspirada no cinema popular da época, que era assistido por multidões. Sobre essa peça, contarei na próxima semana. Até lá.
Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho
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