A expectativa era grande no segundo dia por causa do Neil Young, o único dos artistas que eu não havia assistido ao vivo. Na semana anterior seu show havia sido muito elogiado e isso elevou a minha expectativa.
A área com lugares marcados gera uma tranquilidade entre as pessoas, normalmente, muitos ficavam aguardando até a ultima hora na área de alimentação e bebida. Assim que os primeiros acordes de After de Gold Rush foram sendo ouvidos, as pessoas começaram a se encaminhar para o a área do palco, com um pouco de pressa, mas sem atropelo. Entrei na área das cadeiras e vi Neil sentando sozinho ao piano, caminhar tranquilamente até o meu lugar ouvindo essa musica foi algo espetacular pra quem está acostumado à correria da maioria dos shows.
Em seguida, Neil, sozinho no palco, com o violão e a gaita, emplacou em sequência Heart of Gold, Old Man, Long May You Run e Mother Earth, uma sequência matadora. A voz de Neil continua clara e cristalina, de todos os participantes sua voz foi a que menos sentiu o peso do tempo. Era como se estivesse escutando as gravações originais, algo emocionante. Apesar disso tudo, muitas pessoas nem havia chegado aos seus lugares. A expectativa era claramente o show do Paul McCartney. Mas, aos poucos, o publico estava sendo ganho.
No palco, o gigantesco telão central havia sido coberto com tecido de sacos de sementes, deixando visíveis apenas os dois telões laterais. Complementando a decoração minimalista do palco haviam algumas cabanas indígenas nas laterais.
Aos poucos a banda de jovens, Promise of the Real, foi se juntando a Neal para as próximas canções.
O show continuou com Out on the Weekend, Comes a Time e, pra mim, um dos pontos altos do show – e do festival – Harvest Moon, com uma lua cheia enorme desfilando no céu e no telão, para o delírio do publico. Depois tivemos versões acústicas de Neighborhood e Show Me, seguidas da belíssima Helpless, do Crosby, Stills, Nash & Young. A partir daí o volume das guitarras foi subindo, os solos aumentando e o clima foi ficando cada vez mais Rock n’ Roll. Eles tocaram Words (Between the Lines of Age), Alabama e -- subindo de vez o tom -- Powderfinger, Texas Rangers, Cowgirl in the Sand, Seed Justice e Like a Hurricane com intensos solos de guitarra.
Esse foi, sem duvida, o momento mais genuinamente rock n’ roll do festival, era claro que todos no palco estavam se divertindo muito, numa espontaneidade impressionante para um show para mais de 70 mil pessoas e com tamanha expectativa.
O palco foi transformado num gigantesco saloon no meio do deserto.
Houve uma interrupção para que sementes orgânicas fossem distribuídas à plateia, num convite para que todos violassem a “estupida lei da Califórnia” que impede que sementes orgânicas sejam transportadas por mais de 3 milhas. Todos que conseguiram pegar as sementes foram convidados a leva-las para casa, que, provavelmente, ficava a bem mais de três milhas do palco.
Pra fechar, ainda tivemos Peace Trail e Rockin’in the Free World, que levou a plateia ao delírio, fechando o melhor show do festival, na minha opinião.
Mais uma vez, no segundo dia, o contraste entre as apresentações foi marcante. Depois daquele show de rock n’roll, Paul McCartney entra no palco tocando A Hard Day’s Night dos Beatles seguida de Jet, dos Wings, numa apresentação que era praticamente um vídeo clip ao vivo. Paul entrou falante no palco, fez homenagens a Jimi Hendrix, George Martin e George Harrison, lembrou os 90 anos de Chuck Berry e tocou o maior número de musicas de um artista no festival. Mas, mesmo assim, pra mim, não conseguiu superar o impacto do Neil Young.
Em contraste com o show anterior, o show de Paul é muito limpinho, fica claro que Paul hoje é um artista muito mais pop – o mais pop do festival – do que rock n’ roll. O ápice do pop foi a participação de Rihanna, na musica FourFiveSeconds. Fiquei impressionando com a resposta do publico a ela. Não esperava tamanha ovação de um publico cuja a maioria havia passado dos 50, uma clara demonstração de sua popularidade nos EUA.
Depois disso o Rock n’roll volta ao palco. Neil retorna pra cantar A Day in The Live, Give Peace a Chance e Why Don’t We Do It In The Road, numa apresentação antológica que terminou com quase todas as cordas de sua guitarra arrebentadas, reforçando ainda mais o contraste entre o Rock e o pop. Antes, ao ser apresentado por Paul, Neil se autodenominou “dificuldade técnica” de Paul e o chamou de Charlie Chaplin do Rock, no que me pareceu uma certa ironia.
O show atingiu o ápice com Band On The Run, Back In The U. S. S. R., Let It Be e Live And Let Die e ainda teve um bis com seis musicas, fechando um show memorável, no melhor dia do festival. Mas que não conseguindo eclipsar o monumental show do Neil Young, na minha opinião. De qualquer maneira, não é qualquer artista vivo que consegue reunir um setlist desses.
A Hard Day's Night
Jet
Can't Buy Me Love
Letting Go
Day Tripper
Let Me Roll It
I've Got a Feeling
My Valentine
Nineteen Hundred and Eighty-Five
Maybe I'm Amazed
We Can Work It Out
In Spite of All the Danger
I've Just Seen a Face
Love Me Do
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Queenie Eye
Lady Madonna
FourFiveSeconds (com Rihanna)
Eleanor Rigby
Being for the Benefit of Mr. Kite!
A Day in the Life/Give Peace a Chance (com Neil Young)
Why Don't We Do It in the Road? (com Neil Young)
Something
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Band on the Run
Back in the U.S.S.R.
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude
Bis:
Happy Birthday
I Wanna Be Your Man
Helter Skelter
Golden Slumbers/Carry That Weight/The End
Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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