Os
jornais brasileiros, particularmente os definidos como grande imprensa, parecem
ter perdido a noção do que significa notícia. Nos últimos 10 anos, suas
manchetes têm se resumido a este cotidiano terrível que nosso País tem proporcionado:
uma corrupção aqui, outra ali, mais outra acolá e assim vamos levando a vida.
Homicídios à granel, agressões às mulheres, roubos de carros, bancos, todos os
tipos, enfim, que estejam definidos no nosso Códugo Penal. Notícia boa, nada.
Mas
saibam que existem algumas que são surpreendentes. Imaginem, caras senhoras e
caros senhores, que existe uma vereadora na maior cidade do País, São Paulo,
que economizou aos cofres públicos, até agora, exatos R$ 1.759.839,42 e tem sua
meta definida até o final do mandato: R$ 4 milhões! Vamos lá, é uma quantia de
respeito, consideramdo-se trata de apenas uma vereadora. Seu nome? Janaina
Lima, uma bela moça (jovem ainda) do partido NOVO que resolveu cortar verbas de
gabinete, diversas mordomias e diminuiu consideralvelmente sua equipe de
trabalho. Vamos brincar de fazer contas: essa economia feita por Janaina
equivale aos seus primeiros 18 meses de mandato; portanto economizou em torno
de R$ 150 mil/mês. Se os 55 vereadores de São Paulo (crianças, não é brincadeira,
55 mesmo!) resolvessem assumir a mesma atitude, chegaríanos a uma economia
mensal de, aproximadamente, R$ 8,5 milhões. Se multiplicarmos por 48 meses (o
tempo de um mandato), essa conta atingiria um número absurdo que bobo não
conta: R$ 4,9 bilhões!!!!!!!!!!!!!!
Não
podemos usar essa metodologia para todas as Câmaras municipais do País por
motívos lógicos: as cidades têm populações diferentes; portanto diferentes
quantidades de vereadores; umas mais ricas, outras mais pobres, e assim segue o
andor. Mas poderíamos imaginar, o montante que os deputados estaduais, federais e senadores poderiam economizar para o País,
apenas com um simples gesto de espontâneidade, um gesto de seriedade, pensando
apenas no bem do País. É bom lembrar que Janaina não abriu mão de seus salários.
Apenas cortou as gorduras e deu no que deu. Nenhum, com certeza nenhum,
deputado estadual, federal ou senador abrirá mão daquelas maravilhosas e
sedutoras mordomias que a grande teta de madame proporciona!
A
situação é tão interessante que o presidente do partido NOVO, João Amoêdo,
candidato à presidência, já se comprometeu a cortar todas as mordomias, decisão
seguida por todos os candidatos do partido. O problema é que a armadilha criada
por velhas raposas da política é tão bem pensada que ele e seu partido, por
exemplo, não podem devolver o dinheiro recebido por conta do famigerado Fundo
Partidário (alguma coisa em torno de R$ 2 milhões), ou a verba extra que o
governo resolveu liberar para que os políticos possam “cobrir despesas de
campanha”, uma mixaria em torno de R$ 1,7 bilhão e que tiveram o cinismo de
chamar de “Fundo de Defesa da Democracia”. Essa verba, que não pode ser
devolvida, está depositada num banco até que se encontre uma solução para ela,
pois o partido de Amoêdo comprometeu-se a não usar o Fundo Partidário...coisa
de maluco!
Estranho
e desapontador é descobrir que veículos importantes do País não se preocupam
com esse tipo de notícia. Não estou aqui defendendo o partido NOVO e seus candidatos, mas criticando ações como a
de VEJA que dedica de sua página 42 até a página 49, uma matéria (se é que
podemos chamar assim...), ao “cotidiano do sr. Silva na cadeia”, como se esse
fosse um assunto que poderá elevar ou baixar o dólar. Descobrimos, isso sim,
que seus privilégios são obcenos e que deveriam ser revistos. Paralelamente,
publica uma importantíssima matéria, “Escravos do século XXI” nos fundos da
revista, página 81 até página 87, contando a vida dos 160 mil trabalhadores
brasileiros (a maioria no norte/nordeste) que trabalham em situação deplorável,
por conta da escassez de verbas para as equipes de fiscalização do Ministério
do Trabalho. Ora, chegamos à conclusão que um brasileiro é infinitamente mais
importante do que os 160 mil miseráveis, considerando-se que a revista ainda
teve o desplante de colocar o sr. Silva –que não precisa fazer a faxina de sua
cela- na primeira página. Não sei o que estão fazendo com o jornalismo
brasileiro...
Na
verdade, fica a impressão de que a revista está comprometida com todo mundo,
exatamente como os grandes jornalões representantes da grande imprensa. Fala-se
muito em mudar; fala-se muito em
“higienizar a política”; fala-se muito em limpeza geral; apostas em novos
personagens, mas a verdade é que são sempre os mesmos figurões borrados de
corrupção que aperecem diariamente nos jornais. Não estou afirmando que essas
notícias não devem ser publicadas, apenas considero que o sr. Silva, por
exemplo, só voltaria a ser uma grande notícia, caso algum golpe jurídico o
livrasse das grades. Caso contrário, no máximo um rodapé de página e olhe lá...inté.
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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