Thursday, May 17, 2018

UM TEATRO DE OFICINA (por Flavio Viegas Amoreira)



Talvez o ícone mais longevo em atuação no teatro latino americano seja mesmo Zé Celso através desse monumento a liberdade criativa que é o Oficina.... Zé Celso que encenou Gorky com rara maestria num Brasil dado ao panfletário, Zé que dirigiu um Tchekhóv impecável em ´´As três irmãs´´, Zé que no recheio nos deu ´´O Rei da Vela´´ e ´´Roda Viva´´  forças da natureza culturais da brasilidade , Zé que estava em Paris em 1968 e em Lisboa na ´´Revolução dos Cravos´´ em 1974, Zé que é expressão máxima da arte da mais deleuziana cidade do Ocidente: Sampa de Cacilda que um dia vai voltar virar sertão engolida pela Mata Atlântica fazendo fronteira com o mar belo mar selvagem na ribanceira do mundo....Antropofágico, regurgitofágico hoje, Zé Celso nunca foi tão contemporâneo de nossa perplexidade.  O fragmento, a literatura do estilhaço,  a libertação tranZmoderna, essa obra em transe entre Rimbaud e Hakim Bey feita nos trópicos para interpretar o planeta a partir do nosso umbigo. Como diria Haroldo de Campos sobre o ´´Serafim Ponte Grande´´ de Oswald cai perfeito ao teatro de Zé : bricolage ou ´pensée sauvage´´  modernista e pós pós moderno.  Nesse caos aparente existe sim uma ordem imanente:  as entradas e saídas para o Brasil estão expostos na obra aberta do Oficina.   Onipresente até onde a vista alcança lá está Zé Celso e a subversão generosa  no país de Sousandrade e Qorpo Santo.  No Bexiga assistir Zé Celso sempre êxtase , ainda assim curto muito num palco neutro, sem aparato que não o humano demasiado dionisíaco desnudamento da alma do demiurgo e sua plêiade de talentos insurretos .  Nesse sábado 19 de maio cinqüenta anos pós 68 vou assistir Zé Celso & Marcello Drummond e todo Oficina na re-encenação do ´´Rei da Vela´´ no teatro do Sesc na terra de Plínio Marcos & Patricia Galvão!  Em tempos de milícias, neo-fascismos e extorsão consumista  Abelardo e sua gente bizarra nos diz muito nesse paroxismo ideológico canhestro .  Vivemos mesma ortodoxia idiota dos anos 30, sectarismo estéril e o cinismo do mercado correndo solto.... aja vista resistência do Oficina na Rua Jaceguai.  Semana que vem comento aqui nesse espaço maravilhoso com casaquinho e tudo a noite do ´´Rei da Vela´´. Evoé amigos!







Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).


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