Tuesday, May 29, 2018

JOÃO e JEREMIAS - A PORRA DA HISTÓRIA (um folhetim beat de JR Fidalgo - 14ª de 16 partes)



CAPÍTULO XXIV

Olhando para o mar, ele pensou que devia achar algo mais importante pra dizer a respeito da porra daquele mar.

Mas não conseguia pensar em nada mais importante, além do fato daquela porra daquele mar banhar a porra da cidade onde ele viveu grande parte da porra da sua vida.

Contudo, se alguém tinha mesmo que contar a porra daquela história, ele estava disposto a tentar. Por quê?  Ele não fazia idéia.

Isso, contudo, não importava.

Afinal, era apenas uma porra de uma história.

Era preciso, porém, encontrar alguém para escrever a tal história, já que ele mesmo, por uma série de razões que agora não vinham ao caso, nunca faria isso.

Mas quem faria isso, quer dizer, quem contaria aquela história? E que história era exatamente aquela?

Estar naquela cidade novamente, depois de tanto tempo, era estranho e assustador. Se havia algo sensato a fazer, depois de tudo o que passara, era nunca voltar àquele lugar. Ironicamente, foi exatamente isso que fez. Quando cruzou aquela porta, pensou aonde ir. Os locais em que vivera nos últimos tempos estavam fora de cogitação.  Nenhuma das pessoas com quem convivera em tais lugares ficaria exatamente feliz em revê-lo. Muito pelo contrário e, em alguns casos, ele pressentia que isso envolvia até mesmo um certo risco de vida ou, na melhor das hipótese, algumas escoriações leves mas doloridas em seu corpo.

Então, como que atraído por imã invisível, foi sendo trazido de volta àquela cidade, e agora estava lá, olhando pra porra daquele mar e avaliando se não tinha feito uma grande cagada. Contudo, a idéia de escrever a história o animou um pouco. Seria, pelo menos, um objetivo, ainda que meio maluco, para preencher o tremendo vazio que sentia dentro dele e a falta de qualquer perspectiva a respeito da vida que levaria dali para a frente.


O que primeiro chamou a sua atenção foi o título, A Porta dos Fundos do Paraíso. Depois achou engraçado que alguém tivesse escolhido a foto de uma minhoca para ilustrar a capa de um livro. Começou a folhear o livro, tentando descobrir de que diabos se tratava. Não conseguiu chegar à conclusão nenhuma, já que, em um trecho, aquilo parecia um romance, no outro, um tratado filosófico e, mais adiante, um manual de bruxaria. Ah, e havia lá também algumas páginas que pareciam ser poesia ou coisa semelhante.

Quando retornou à capa para rever a foto da minhoca, teve a impressão de que ela estava esboçando um leve sorriso. Mas definitivamente não foi isso o que o surpreendeu. O leve tranco no peito aconteceu quando viu o nome do autor. Puta que pariu, quer dizer que o cara tinha escrito um livro? Um livro maluco com um título maluco, A Porta dos Fundos do Paraíso. Ah, e com a foto de uma minhoca sorrindo na capa.


Puta que pariu! Não, puta que pariu era pouco.

 

CAPÍTULO XXV

“Olhando para o mar, eu pensei que devia achar algo mais importante pra dizer a respeito da porra daquele mar. Mas não consegui pensar em nada mais importante, além do fato daquela porra daquele mar banhar a porra da cidade onde eu vivi grande parte da porra da minha vida. Contudo, se alguém tinha mesmo que contar a porra daquela história, eu estava disposto a tentar. Por quê? Eu não fazia idéia. Isso, contudo, não importava. Afinal, era apenas uma porra de uma história. Era preciso, porém, encontrar alguém para escrever a tal história, já que eu mesmo, por uma série de razões que agora não vêm ao caso, nunca farei isso.

“É provável que você até se assuste com esta mensagem. Afinal, faz tanto tempo… De qualquer forma, sempre achei que, de todos nós, você era o cara que tinha o dom de escrever. Aliás, acabo de comprar seu livro. Foi na contracapa que descobri seu e-mail. Bem, como estou com um pouco de pressa e porque também não quero ficar tomando seu tempo, vou direto ao assunto. Queria te pedir para você colocar no papel, quer dizer, na tela do computador, uma história que eu queria que fosse contada. Além do tal dom que você tem, e sobre o qual já falei, acho você a pessoa ideal para contar a história, até porque você estava quase sempre por perto, quando tudo aconteceu. Aguardo uma resposta sua. Abraços, Jeremias. PS. Ainda não li o seu livro, mas pretendo começar ainda hoje.”

Na semana seguinte, ele foi, pelo menos uma vez por dia, até alguma lan house, verificar se sua mensagem tinha sido respondida. Na última dessas vezes, desistiu de esperar uma resposta e resolveu escrever alguma coisa e mandar para paraisoperdido@denovo.com, o e-mail que ele tinha visto na contracapa do livro da minhoca sorridente.

No e-mail, Jeremias começava a contar uma história:

“E também não havia absolutamente nenhuma poesia no fato de seu pinto estar agora amolecendo dentro da boceta melada dela, logo após terem gozado. Isto é, se é que ela também havia gozado.

“Tempos atrás, uma outra mulher, com quem ele havia acabado de trepar, lhe disse que a última coisa que queria ouvir, depois de uma trepada, era o cara ao seu lado lhe perguntando se havia gozado.

“Desde então, ele, que antes achava “elegante” perguntar se a parceira também tinha gozado, nunca mais abriu a boca após uma trepada. Somente ficava lá, de barriga pra cima, olhando o teto, como estava fazendo agora, depois de ter gozado dentro da boceta de Mô.

“Apesar de se conhecerem há anos, era a primeira vez que ele e Mô trepavam. Os dois já haviam trepado com quase todo mundo ao redor, mas nunca tinha rolado entre eles. Mô resumiu a situação quando ele começou a enfiar seu pinto nela e ela disse: “Caramba, até que enfim. Eu pensei que isso nunca fosse acontecer com a gente”.


“Na verdade, o ácido que eles haviam tomado contribuiu muito para aquilo tudo. Era um ácido particularmente fraco, pois naquela época já era difícil arrumar alguma coisa de qualidade na cidade. No entanto, eles tomaram a pedra num dia atípico, totalmente atípico…”




CLIQUE ABAIXO PARA ACESSAR OS CAPÍTULOS ANTERIORES







JR Fidalgo: um jornalista
que tem preguiça de perguntar,
um escritor que não tem saco
pra escrever e um compositor
que não sabe tocar.

(mas que, mesmo assim,
já escreveu três romances
e uma quantidade considerável
de canções ao longo
dos últimos 45 anos)

No comments:

Post a Comment