Friday, September 4, 2015

REFILMAGEM DE "DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA" FICA AQUÉM DE SUAS 2 VERSÕES ANTERIORES

por Raíssa Rossi
para ALMANAQUE VIRTUAL


Nunca a obra do francês Octave Mirbeau, escrita em 1900, esteve tão atual. 

No ano em que o cinema brasileiro nos presenteia com dois filmes que discutem a relação patrão-empregado – "Casa Grande" de Fellipe Gamarano Barbosa e "Que horas ela volta?" de Anna Muylaert –, a adaptação dirigida por Benoît Jacquot (e também roteirizada por ele ao lado de Hélène Zimmer) sobre uma inconformada camareira vem para somar, embora nem de longe com a mesma profundidade.

Terceira adaptação fílmica do romance de Mirbeau, “Diário de uma Camareira” focaliza na bela empregada de luxo Célestine (Léa Seydoux), que deixou Paris para trabalhar no interior para a estranha família Lanlaire, cujo senhor a assedia e a senhora rigorosa a destrata e explora. 

Lá, Célestine conhece o jardineiro Joseph (Vincent Lindon), que se apaixona por ela e a envolve secretamente em planos pessoais.


Exibido no Festival de Berlim 2015 e no Festival Varilux de Cinema Francês 2015, "Journal d’une Femme de Chambre" traz mais uma vez Léa Seydoux na pele de uma serviçal, porém muito mais segura de si, inconformada e questionadora em relação ao seu papel na sociedade, que é o que a difere dos papeis que interpretou anteriormente em "O Grande Hotel Budapeste", de Wes Anderson, e "Adeus, Minha Rainha", do mesmo Jacquot que a dirige aqui. 

Seydoux é o destaque do filme com sua Célestine rebelde, curiosa e ambiciosa, dona de uma expressão blasé que só a atriz sabe fazer e que a transforma numa incógnita para todos à sua volta, exceto para Joseph, que logo se reconhece nela. 

O que tinha tudo para ser uma relação interessante, no entanto, sob a batuta de Jacquot torna-se apenas mais um ponto mal construído em um roteiro que parece ter pressa de chegar ao fim.


A trama escrita por Jacquot e Zimmer não se aprofunda em nenhum dos temas essenciais da obra de Mirbeau, como o antissemitismo, o machismo e até a luta de classes – tudo é apenas pincelado rapidamente e tratado de forma superficial, enquanto flashbacks de empregos anteriores de Célestine são rapidamente apresentados.

Apesar dos belíssimos figurino, fotografia e direção de arte, “Diário de uma Camareira” não traz nada de novo que agregue aos longas antecessores “Segredos de Alcova” (1946), de Jean Renoir, e “Diário de uma Camareira” (1964), de Luis Buñuel. 

Pelo contrário: deixa a desejar com sua tentativa de suspense que leva a um desfecho pouco interessante. 

Não fosse a intensidade da interpretação de Seydoux, que monopoliza o olhar do espectador durante toda a projeção, o filme teria menor relevância. 

Uma pena que Jacquot tenha desperdiçado a oportunidade de ir a fundo numa discussão vigente que dialoga tanto com o romance de Mirbeau.


DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA 
Journal D’une Femme de Chambre
(2015 - 96 minutos)

Direção
Benoît Jacquot

Elenco
Léa Seydoux
Vincent Lindon
Clotilde Mollet
Hervé Pierre

em cartaz no Cinespaço Shopping Miramar



No comments:

Post a Comment