Wednesday, September 2, 2015

UM PANORAMA GENEROSO NA PRODUÇÃO DA ATLÂNTIDA FILMES (Hoje 19hs Cineclube Pagu)

por Chico Marques


A Atlântida Cinematográfica foi fundada em 1941, no Rio de Janeiro. Até 1962, produziu 66 filmes. Rolava de tudo: dramas sociais, romances, policiais, mas sobretudo comédias musicais influenciadas pelo teatro de revista, várias delas com alusões a filmes de sucesso de Hollywood, como "Matar ou Correr" e "Nem Sansão nem Dalila".

Essas sátiras ganharam o nome de chanchadas, e se transformaram no gênero cinematográfico que melhor define o cinema brasileiro das décadas de 30, 40 e 50, e que também melhor atendeu aos anseios de público nesse período, emplacando um sucesso de público após o outro, sempre produzidos a toque de caixa, sempre na pressão.



Desnecessário dizer que a chanchada é a cara do Rio, e sempre foi vista com um certo desdém pelos produtores de cinema de São Paulo durante os Anos Vera Cruz. Eram escrachadas, maliciosas, cheias de piadas de duplo sentido e sempre exibindo os corpos de lindas vedetes. As chanchadas podiam até ser precárias no quesito produção, mas tentavam driblar esse "pequeno detalhe" com uma criatividade a toda prova. E conseguiam.

"Assim Era A Atlântida", de Carlos Manga, na verdade, é muito mais do que apenas a versão brasileira do documentário "Isso É Hollywood", de 1974, que coletava o melhor dos musicais da MGM. Reúne trechos de apenas 27 dos 66 filmes produzidos pela Atlântida porque todos os demais foram destruídos nos anos 50 por um incêndio e por uma inundação que arrasaram seus estúdios.



 Carlos Manga nunca escondeu seu fascínio por Hollywood e suas produções. Começou a trabalhar na Atlântida por volta dos 20 anos de idade. Foi ajudante de carpintaria, almoxarife, assistente de produção e de montagem. Até que em 1952, estreou na direção no filme "Carnaval Atlântida". A partir daí, dirigiria os melhores filmes produzidos pelo estúdio. Segundo ele próprio: "Os nossos musicais eram exuberantes, pretensiosos, e infelizmente, nunca conseguimos atingir o fausto de Hollywood, embora sinceramente nós pretendêssemos isso".



"Assim Era A Atlântida" reúne depoimentos de grandes estrelas da época como Adelaide Chiozzo, Anselmo Duarte, Cyll Farney, Eliana, Fada Santoro, Grande Otelo, Inalda, José Lewgoy e Norma Bengell. Infelizmente, Oscarito já não estava mais vivo quando o filme foi realizado. Depoimentos seus certamente teriam somado muito ao resultado final do filme, que é preciosíssimo.


O único ponto falho de "Assim Era A Atlântida" é a falta de legendas identificando os filmes e os depoimentos dos atores. Afinal, trata-se de um documentário, e não apenas de uma coletânea de cenas de chanchadas clásicas. Esse estranho desleixo documental de Carlos Manga sem querer acaba por situar este documentário sobre a Atlântida no mesmo universo precário das produções do estúdio carioca.



Quem quiser conhecer profundamente o legado cinematográfico da Atlêntida Filmes, recomendo assistir aos filmes originais na íntegra e ler o genial livro de Sérgio Augusto "Esse Mundo É Um Pandeiro", publicado em 1989 pela Companhia das Letras.
E prepare-se para descobrir o Brasil através da chanchada.   



ASSIM ERA A ATLÂNTIDA
(1975 - P&B - 105 minutos)

Direção
Carlos Manga

Roteiro
Carlos Manga
Sílvio de Abreu

Com depoimentos de
Adelaide Chiozzo
Anselmo Duarte
Cyll Farney
Eliana
Fada Santoro
Grande Otelo
Inalda
José Lewgoy
Norma Bengell


Quarta - 2 de Setembro - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP
Telefone: (13) 3219-2036

Ao final da exibição,
 um breve debate com os curadores
 do Cineclube Pagu:
 Carlos Cirne e Marcelo Pestana






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