Tuesday, July 14, 2015

APRENDA COM O SANTISTA JOSÉ ROBERTO TORERO "COMO FAZER UM FILME DE AMOR"

por Ricardo Rangel
publicado originalmente em Cine Revista



A idéia não é lá tão original assim, mas apesar disso, não quer dizer que não vá dar certo: fazer uma sátira de como são feitos os filmes românticos no cinema, "filmes de amor" (e entenda-se por "amor", aqui, as comédias água-com-açúcar do gênero), utilizando-se dos seus próprios clichês para isso. 

Foi o que José Roberto Torero teve em mente ao realizar "Como Fazer um Filme de Amor", uma comédia romântica que satiriza os próprios filmes do gênero, e que, se não é uma obra-prima do cinema nacional, que está excelente em termos de qualidade de alguns anos para cá, é diversão na certa e garante, em vários momentos, algumas boas gargalhadas.

Para começo de conversa, Torero parte do princípio que toda estória de amor deve ter um narrador, e em "Como Fazer um Filme de Amor", essa figura é Paulo José, que está a procura do casal ideal em torno de quem toda a estória irá girar (afinal, em um filme de amor, há que se ter um casal apaixonado), casal esse que se conhece por acaso, bate aquela paixão à primeira vista, ainda que há uma antipatia inicial de um com o outro, mas depois vem a empatia, e a "babação" mútua, blábláblá... (típico clichê de filme de amor, não é mesmo?). 
O casal escolhido é uma fotógrafa de casamentos, Laura (Denise Fraga), uma moça tímida e ingênua, que cuida da mãe cega que sonha com um transplante de córnea, e o executivo Alan McDermott (Cássio Gabus Mendes), milionário yuppie, dono de uma agência de modelos, viúvo, entediado com a vida vazia que leva e que não quer mais saber de envolvimentos emocionais (tem como conselheiro o seu mordomo, figura bastante curiosa, cuja sabedoria Alan segue à risca). 

Os dois se conhecem, há a antipatia clichê habitual, mas logo em seguida começam a se dar bem, e a paixão é despertada (clichê... novidade). E, para não fugir desse bom clichê, há a vilã da estória, Lilith ( Marisa Orth ), que é apaixonada por Alan e fará de tudo para tê-lo e passar por cima de Laura, (mais clichê...), sempre auxiliada pelo seu fiel escudeiro, o bizarro Alfred ( André Abujamra), com direito à maldades e baixarias que deixariam a Nazaré Tedesco de Renata Sorrah da novela "Senhora do Destino" com inveja.

Tudo isso é contado pelo narrador, que é constantemente interrompido pelos protagonistas, em algumas boas tiradas de humor, assim como em cenas que tiram uma onda dos melôs bregas que os apaixonados insistem em entoar para as suas amadas, em situações ridículas, como a encenada por Alan, ao cantarolar uma serenata de cima de um caminhão de pamonha com músicas do ultra-brega cantor Wando para Laura através de um "afinadíssimo" Cássio Gabus (ahahah... igualmente impagável é a cena na beira da praia que Alan se declara para Laura, dizendo : "Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida", e no fundo está tocando o grande clássico da MPB de Tom Jobim e Vinícius de Moraes).
O narrador Paulo José alerta: esses clichês dos filmes de amor só servem para tirar o seu tempo e o seu dinheiro, caso presente também com este filme, um ensaio satírico e divertido de como realizar um filme romântico (e os clichês não se resumem apenas às cenas do tipo: há uma referência a alguns clássicos da história do cinema, como "Janela Indiscreta", "Nosferatu", na famosa cena do ataque do vampiro em que a sua sombra aparece na parede, e "O Iluminado"). 

José Roberto Torero cumpre a sua função, ao utilizar o clichê do clichê para fazer o seu "filme de amor", tirando um sarro de tudo, e a fórmula acaba funcionando bem. 

Diversão garantida, com direito a chocolate, pipoca e refrigerante, claro, para não fugir do clichê.


COMO FAZER UM FILME DE AMOR 
(2004 - 84 minutos)

Direção e Roteiro
José Roberto Torero.

Elenco
Denise Fraga
Cássio Gabus Mendes
Marisa Orth
André Abujamra
José Rubens Chachá


Quarta - 15 de Julho - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP 
Telefone:(13) 3219-2036

Ao final da exibição,
 um breve debate com os curadores
 do Cineclube Pagu:
 Carlos Cirne e Marcelo Pestana




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