Wednesday, July 1, 2015

TODAS AS MULHERES DO MUNDO: A COMÉDIA CARIOCA ABSOLUTA (Hoje 19h Cineclube Pagu)

por Ricardo Cota
publicado originalmente em críticos.com.br

No livro "Ela é Carioca" – subintitulado "Uma Enciclopédia de Ipanema"  Ruy Castro refere-se da seguinte forma aos agitos que ocorriam no cafofo do teatrólogo Domingos Oliveira, em Copacabana: “As festas de Domingos eram famosas (para Jaguar, elas formaram o núcleo da Ipanema moderna) e não era incomum que, no dia seguinte, acordassem vinte pessoas no apartamento”. 

Pois foi numa dessas noitadas que Domingos conheceu e apaixonou-se por Leila Diniz. 

O romance marcou de tal forma a vida do cineasta que inspirou aquele que é seu mais conhecido, e melhor, filme – "Todas as Mulheres do Mundo". 
Visto hoje, 49 anos depois de realizado, "Todas as Mulheres do Mundo" sustenta-se como marco de um gênero tipicamente nosso: a comédia carioca. Carioca da zona sul, diga-se de passagem, com seus personagens divididos entre a consciência política e os goles de uísque, entre os livros de Marx e os biquinis provocantes, entre a guerra contra a ditadura e a paz da saudável libertinagem. 

Mas não é só pela deliciosa verve cômica  a mesma vista em vários outros filmes de Domingos Oliveira  que o filme permanece atraente. 

"Todas as Mulheres do Mundo" vale ainda como documento, registro de uma Zona Sul que não existe mais: poética, polêmica, etílica e idílica. 
Paulo (Paulo José) é um jornalista boa vida que passa a maior parte do tempo colecionando paqueras. Só quando conhece Maria Alice (Leila Diniz), noiva do amigo Leopoldo (Ivan de Albuquerque), decide dar um tempo no esporte, namorar firme e, para grande decepção dos amigos, casar. O matrimônio vai bem até pintarem o ciúme e a recaída no donjuanismo. 

Enquanto as brigas e reconciliações se sucedem, Domingos Oliveira aproveita para traçar comentários sociais, zombando dos existencialistas e enaltecendo os boêmios, muito bem representados num personagem vivido por ninguém menos que o saudoso Albino Pinheiro, grande carioca e tricolor.
"Todas as Mulheres do Mundo", com bela fotografia de Mário Carneiro, faz do Rio cinema. 

Os personagens levam a poesia de suas histórias comuns para as ruas do centro da cidade, o calçadão de Copacabana e a Ipanema de poucos prédios e muitas palmeiras (o melhor lugar para um amasso, como é sugerido numa seqüência).

Há ainda o calor das madrugadas e o charme irresistível dos cariocas: alegres, apaixonados e encantadores. 
Em linha paralela ao estipulado pelo Cinema Novo, o filme reivindica o direito ao prazer, ao bem-estar, como primeiro passo rumo à transformação.

Para quem viveu os anos 60, rever "Todas as Mulheres do Mundo", acredito, deve dar uma baita saudade.

Para quem sequer era nascido, acredite, também. 
TODAS AS MULHERES DO MUNDO
(1966 - 86 minutos)

Direção e Roteiro
Domingos Oliveira

Fotografia
Mário Carneiro

Elenco
Paulo José
Leila Diniz
Joana Fomm
Ivan de Albuquerque
Marieta Severo

Quarta - 1 de Julho - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP 
Telefone:(13) 3219-2036
Ao final da exibição,
 um breve debate com os curadores
 do Cineclube Pagu:
 Carlos Cirne e Marcelo Pestana



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