Tuesday, July 21, 2015

"DRAGONWYCK", DE JOSEPH L. MANKIEWICZ, CARTAZ DESTA QUARTA NO CINECLUBE PAGU

por Chico Marques


"O Solar de Dragonwyck" lembra, logo de imediato, "Rebecca", de Alfred Hitchcock -- e não é por acaso.

 O filme é baseado num dramalhão histórico escrito por Anya Seton, que chamou a atenção do "tycoon" Darryl Zanuck, da Fox, por mesclar elementos de "Rebecca" e de "E O Vento Levou". 

"O Solar de Dragonwyck" herda de "Rebecca" o clima sombrio e misterioso e a relação difícil entre uma mulher jovem e um homem bem mais velho. 

Já de "E O Vento Levou", o filme resgata a tenacidade e o orgulho do "espírito americano", capaz de resistir às mais terríveis adversidades.
    
Darryl Zanuck entregou a direção do projeto nas mãos de Joseph L. Mankiewicz e a produção nas mãos de Ernst Lubitsch, ambos artistas de prestígio e também homens de confiança dele. 

E apostou suas fichas em algo que nunca tinha feito antes: um melodrama gótico luxuriante, centrado na luta entre os ricos e os  pobres na América do século XIX. 
A trama é mais ou menos assim: 

Após receber uma carta de Nicholas Van Ryn (Vincent Price), um primo distante, Ephraim Wells (Walter Huston) concorda que sua filha mais velha, Miranda, vá morar na mansão de Nicholas, onde será dama de companhia da filha dele, a pequena Katrine de 8 anos (Connie Marshall). Nicholas é um riquíssimo dono de terras, onde explora mais de 200 colonos. Ao chegar ao Solar de Dragonwyck, lar dos Van Ryms, Miranda chama a atenção de todos por sua beleza, particularmente a do Dr. Jeff Turner (Glenn Lagan), médico da região. Apesar de casado com Johanna (Vivienne Osbourne), Nicholas começa a se insinuar para Miranda, que não perceba suas reais intenções. Então, Joanna adoece. O Dr. Turner a examina e não encontra nada além de um simples resfriado. E então Joanna morre, inexplicavelmente. Logo a seguir, Nicholas procura Miranda, a quem declara estar iremediavelmente apaixonado. Miranda reluta, mas não encara a parada, e volta para a casa dos pais, onde passa a se comportar como se seu mundo não fosse mais aquele. Ela não quer admitir, mas está também apaixonada por Nicholas -- que, dois meses depois, procura os pais de Miranda e pede a mão dela em casamento. Eles casam. Miranda engravida. Em meio a um parto difícil, nasce o filho homem que Nicholas Van Nyn tanto queria -- mas morre poucos dias depois de uma dença do coração. O pai não aceita a morte do filho, e se fecha num quarto de uma das torres do Solar. Os dias se passam sem que ele saia de lá. Miranda vai até ele, que a recebe muito mal, acusando-a a a sua falecida mulher de serem incapazes de dar a ele um filho homem. E então, pouco tempo depois, Miranda adoece da mesma fraqueza que matou Johanna...

O resto eu não conto.
Nicholas Van Ryn é um personagem notável. Um esnobe pomposo e afetado, dono de um cinismo diabólico, que maltrata seus empregados como um senhor feudal. 

Já Miranda Wells é o extremo oposto: tem orgulho de sua origem humilde e de seus valores humanitários, com seu jeito delicado, despojado e -- sim, claro -- temente a Deus.

 A personificação do mal vivida por Vincent Prince é precisa, nada caricata -- o extremo oposto do que ele iria desenvolver nos Anos 50 e 60 nos filmes baratos de Roger Corman. 

Se em 1945, Vincent Price fez escada para Gene Tierney e Clifton Webb brilharem em "Laura", aqui acontece o contrário: Price é quem brilha, perpetuando na tela grande um vilão medieval magnífico.
Dois fatos curiosos sobre o filme:

Quando Nicholas Van Ryn trata com desprezo uma deficiente física que é empregada por Miranda Wells, numa referencia clara ao culto à perfeição da Era Hitler, ele encontra uma resistência natural da parte de sua mulher. É a América defendendo seu ideário liberal, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Motivos anti-nazistas assim estão em todos os filmes da época, e aparecem em vários momentos de "O Solar de Dragonwyck"

O grande diretor Joseph L. Mankiewicz iria trabalhar novamente o mesmo clima gótico de "O Solar de Dragonwyck" de forma menos melodramática e mais romântica em seu filme seguinte: o encantador "O Fantasma e a Senhora Muir" (1947), novamente com Gene Tierney, além de George Sanders, Rex Harrison e a pequena Natalie Wood.
Ao contrário de "O Fantasma e a Senhora Muir","O Solar de Dragonwyck" não figura entre os maiores cinco trabalhos da carreira de Mankievicz.

Mas é um belíssimo filme.

E faz parte de um segundo time glorioso em sua filmografia. 

Se você ainda não viu, veja. 

Se já viu, reveja. 

Vale a pena.
O SOLAR DE DRAGONWYCK
Dragonwyck 
(1946 - 103 minutos) 

Direção e Roteiro
Joseph L. Mankiewicz

Produção
Ernst Lubitsch

Fotografia
Arthur C. Miller

Música
Alfred Newman

Elenco
Gene Tierney
Vincent Price
Walter Huston
Glenn Langan
Anne Revere
Spring Byington
Connie Marshall
Harry Morgan
Vivienne Osborne


Ao final da exibição,
 um breve debate com os curadores
 do Cineclube Pagu:
 Carlos Cirne e Marcelo Pestana
Quarta - 23 de Julho - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17 
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP
Telefone: (13) 3219-2036




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