Em 1983, a escritora belga Marguerite Yourcenar travou uma relação um tanto curiosa com ninguém menos que Michelangelo, grande artista do Renascimento italiano, considerado divino ainda em vida, transformado em mito no momento de sua morte, mas a quem Marguerite Yourcenar, sem dúvida, imortalizou. A escritora de língua francesa toma Michelangelo para si, e ela mesma lhe dá a voz. Ela abre mão da passividade biográfico-narrativa do escritor diante de seu objeto. Ela lhe devolve a voz através de sua própria voz; lhe devolve a vida através de sua própria vida. Ela assume a primeira pessoa e quem fala não é mais Marguerite de Crayencour – anagrama imperfeito de Yourcenar. É Michelangelo quem lhe toma a voz, ou ao contrário: ela é quem toma a voz de Michelangelo, como quem rouba uma parte vital de alguém que lhe permite o surrupio com sorriso macio no rosto. “Sistina”, capítulo de “O Tempo, esse grande escultor” é uma narrativa delicada, com tom de confissão, entoada pela voz do artista forçado pelo papa a executar a pintura que seria um sucesso no momento imediato de abertura da capela ao público. É um relato de alguém que parece lidar com um tumulto de conflitos entrelaçados e que já se confundem. Ou melhor: tudo isso é uma bela farsa; Michelangelo não escreveu absolutamente nada daquilo. São escritos que revelam um gosto especial pela apreensão da essência do outro. Talvez seja um desejo de pertença tão agudo que a única maneira de ter e ser Michelangelo seja dando-lhe ou tomando-lhe a voz. Marguerite Yourcenar não está em momento algum se comprometendo em forjar uma nova face para o artista italiano; não pensa em criar um grande vulto para a História, porque ele já o é. Seu empenho parece ser apenas em dar vida ao artista através de substância literária, com a massa da palavra. Em 1980, Marguerite Yourcenar seria a primeira mulher integrante da Academia Francesa.
Daquelas manhãs que acordamos com a roupa do dia pendurada, porque há sempre um quê de loucura no amor, mas também há o seu quê de razão na loucura. Tanto quanto Nietzsche , estou bem com a vida, creio que para saber da liberdade não há como as borboletas e bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens. Com roupa bem talhadas, protegidas por uma boa capa, guardo nos bolsos largos alguns jogos de palavras, soluções gramaticais, generalizações de fatos muito estreito, muito pessoais e sorriso de Mona Lisa. Borrifo o apocalipse de São João, pego uma carteira com Nietzsche e tomo meu café ouvindo Cole Porter, suspiro desejando BOM DIA
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
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