Tuesday, November 17, 2015

QUATORZE ANOS TOCANDO A REALEJO (por José Luiz Tahan)


Há exatos 14 anos eu abria uma pequena loja dentro de uma tradicional universidade em Santos. A Realejo ganhou este nome por ser simpático, passar um perfume de tempos idos, de quando lembrávamos dos nomes dos vizinhos. O órgão manivelado tocava canções com uma sonoridade mágica, jeitão de Fellini dos trópicos. O periquito torcia pelo nosso futuro, com o bico cravado no bilhete com uma sentença de sorte. O homem do realejo perambula pelas ruas, livre, cadenciado, solitário. Gostei do batismo. Quando pergunto para o pessoal mais novo o que acham do nome a maioria hesita, não sabe o que significa, mas dize achar bonito o som da palavra.

Confesso que perdi a paciência com a rotina da universidade, achava aborrecido vender livros obrigatórios, os alunos declaravam que leriam por temor ao orientador, e sempre praguejavam por não termos copiadora, e eu repetindo sempre “Não faço e não adianta insistir. A cada xerox morre um autor”.


Após dois anos da abertura expandimos para a rua, numa movimentada esquina a uma quadra da praia do Gonzaga, mantendo ainda a livraria da faculdade. Na rua me senti bem, com um público variado, que entrava na livraria por curiosidade e por gosto. Depois de três anos na rua comecei a editora... com o pé esquerdo. As memórias do maior canhoto do futebol mundial marcaram o início de uma editora santista, que se dedica a temas ligados às histórias de Santos e do Santos, de Pepe, Pelé e companhia.

Um ano e meio depois da estréia como editor aceitei um convite arrojado. Ampliar e abrir uma livraria de Shopping. Me senti valorizado e fui com tudo, com muito mais ímpeto do que planejamento. Somando inexperiência com uma crise econômica internacional me vi em apuros, descrente do modelo shopping e temeroso de decidir o rumo certo, que era pouco suave. Tinha de fechar uma das lojas, decidi pela unidade do shopping. O fechamento desse delírio em forma de livraria se deu em julho de 2010.


Depois de tomar este remédio amargo pensei muito sobre o negócio, vi que conquistei algo importante, o de me misturar ao meu ofício, sou livreiro, editor e idealizador de um festival de literatura, a Tarrafa Literária. Gosto de me lembrar que todos os negócios nasceram sempre do balcão da livraria, assim como boa parte dos meus amigos.

Completar 14 anos é saboroso. Quero chegar aos 15 anos no ano que vem sem grandes pretensõe. Quero fazer bem feito. Vender, ler, editar e fazer muito barulho com o negócio literatura, com diversão e seriedade, lembrando sempre do nosso público alvo:

AAAAlfabetizado!




José Luiz Tahan, 41, é livreiro e editor.

 Dono da Realejo Livros e Edições em Santos, SP,
 gosta de ser chamado de "livreiro",
 pois acha mais específico do que
 "empresário" ou "comerciante",
 ainda mais porque gosta de pensar o livro
 ao mesmo tempo como obra de arte e produto.

 Nas horas vagas, é um pai de família exemplar.

Já nas horas vagas de pai de família exemplar,
assume sua identidade (não muito) secreta
 como o blues-shouter Big Joe Tahan.


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