Monday, January 2, 2017

AS "BOAZUDAS" DOS ANOS DE OURO DO CINEMA BRASILEIRO #04: SANDRA BARSOTTI







Sandra Barsotti nasceu no Rio de Janeiro em 25 de abril de 1951.

Começou sua carreira como atriz de cinema, atuando em duas dezenas de pornochanchadas na década de 1970 e também em fotonovelas das revistas Sétimo Céu e Amiga da Editora Bloch.

Sua extraordinária beleza logo chamou atenção do diretor Daniel Filho, que a lançou na televisão.

Inicialmente ela seria Linda Bastos, uma estrela de cinema, na primeira versão de Roque Santeiro em 1975.

Mas, com a proibição da novela pela censura da época, acabou estreando em Pecado Capital, no papel de Gigi, uma temperamental e ciumenta modelo.

No ano seguinte ela teria sua maior oportunidade na televisão: a jovem Carolina na segunda fase de O Casarão.


Mas ao final da novela, depois de um tumultuado final de romance com Daniel Filho, ela se transferiu para a TV Tupi para atuar em Um Sol Maior.

A emissora, porém, enfrentava uma de suas costumeiras crises e a novela não fez sucesso.

A partir daí atuou em produções da TV Bandeirantes e TV Manchete, mas sem repetir o sucesso de suas primeiras novelas na TV Globo, onde voltaria anos depois em papéis de pouco destaque.

Também no cinema, suas atuações minguaram e ela dedicou-se a atuações em teatro, sempre em peças de apelo mais comercial.


Apesar dos reveses, nunca abandonou a carreira e será sempre lembrada como a super gata das pornochanchadas e a doce Carolina de O Casarão.















Como começou sua carreira de atriz?

Comecei no cinema por acaso. Um amigo de infância, diretor de produção, me chamou para participar de um projeto. Achei que era um anúncio. Aos poucos, eu fui entendendo que era um filme, e o ator principal era o Romuald, um cantor francês que eu achava o máximo! No primeiro dia eu quase desmaiei. Me levaram para comprar roupa em Copacabana, me maquiei e troquei de roupa dentro de uma Kombi e me botaram na pedra do Arpoador para filmar. Eu era bobinha ainda, virgem. O diretor de fotografia até reclamava que eu não tinha sex appeal. Mas, apesar de ter sido filmado primeiro, eu acabei ficando conhecida com “Quando as mulheres paqueram”, que estreou antes. Nesse filme eu já tinha 20 anos, já não era mais virgem. (risos)

O que seus pais acharam de você virar estrela de filmes tão ousados para a época?

Mamãe ficou encantada, adorava. Já meu pai ficou meio passado. Imagina, descendente de italianos, meio machista. Os amigos ficavam fazendo mil piadas, coitado...

É verdade que você foi chamada pela imprensa brasileira de “A nova Sharon Tate” do Roman Polanski?

Pois é, mas eu nunca tive nada com ele. Viajamos para a Inglaterra para filmar “Quando as mulheres paqueram”. Acabamos conhecendo o Polanski, que nos levou para conhecer os estúdios de “Macbeth”. Depois fomos para um pub, onde eu vi o Marlon Brando. Baixinho, de sobretudo, mas lindo! Enfim, acabou chegando no Brasil a notícia de que eu estava saindo com o Polanski. “Estrelinha brasileira é a nova Sharon Tate” (mulher do diretor polonês, brutalmente assassinada em 1969), foi o que saiu nas colunas sociais. Vários repórteres começaram a ir lá em casa, no Rio, entrevistar a minha mãe, e eu na Europa sem poder desmentir a história. Quando voltei, desmenti tudo, mas já era tarde. Acabei ficando famosa depois dessa confusão. Até hoje não pude me explicar para o Polanski, ele deve me achar uma ridícula.

E como era ser famosa nos anos 70? O assédio era grande?

Não era tão intenso como é hoje. Até porque eu ficava mais na Zona Sul, e o pessoal lá era mais blasé. (risos). Mas eu mesma nem tomava conhecimento da fama. Aliás, eu achava ruim tudo o que eu fazia. As pessoas elogiavam meu trabalho, mas eu sempre fui muito crítica, nunca me achei o máximo. Hoje me considero uma boa atriz, mas que ainda tem limites a explorar.

Você sofria preconceito por fazer pornochanchada?

Com certeza. Nós, as mulheres que faziam esse tipo de filme, éramos consideradas burras. Eu até cheguei a engordar em uma época, não queria que me vissem só como um pedaço de carne. Os amigos do meu então marido (o fotógrafo Jorge Monclar), todos intelectuais, caçoavam de mim. Eu não era chamada para fazer filmes e peças bacanas. Eu me sentia só, era uma chatinha carente. Engravidei, perdi o filho... Aí me separei e virei meio “juventude transviada”. (risos)

Você considera que a pornochanchada teve importância para a história do cinema brasileiro?

Sim, com certeza. Pornochanchada foi um jargão inventado pela crítica em tom depreciativo. Mas depois os filmes começaram a fazer muito sucesso, davam muita bilheteria. E as atrizes, tão criticadas, com sua beleza, charme e ousadia, pagaram um preço alto por isso. Mas todos esses filmes são historicamente importantes. E eles tinham uma ingenuidade... Eram mais inocentes do que as novelas das seis de hoje.

E como você começou a fazer televisão?

Fui chamada para a primeira versão de “Roque Santeiro”, em 1975, que acabou sendo proibida pela censura. Depois fiz a Gigi de “Pecado Capital”, onde realmente aprendi a ser atriz. Eu não conseguia chorar em cena, então resolvi fazer manha. E deu certo. Até hoje as pessoas vêm falar comigo por causa da Gigi manhosa. Depois fui protagonista de “O Casarão”, que foi uma novela linda. Eu era a Carolina. Graças à novela, consegui trabalhos em Portugal.

Você é considerada uma das atrizes mais bonitas da época. Você cuidava da pele, do corpo?

Não fazia nada. Hoje eu tenho várias manchas na pele de tanto ter passado coca-cola, urucum no corpo antes de ir à praia. Era boêmia, não fazia ginástica...Tinha preguiça. Mas, graças a Deus, nunca tive tendência para engordar.

Quais são seus projetos mais recentes?

Fui convidada para fazer a novela do Manoel Carlos, “Viver a Vida”. Vou fazer a mãe da Christine Fernandes. Fiquei muito feliz com o convite, foi uma surpresa. Também estou participando de um filme sobre as atrizes nos anos 70, que mostra a importância desse cinema para o Brasil, o momento cultural. É parte documentário, parte ficção.Conheço o diretor desde criança (Adolfo Lachtermacher), trabalhei com o pai dele (Saul Lachtermacher) em “Deixa, amorzinho... Deixa” e “O marido virgem”. Fiquei muito sensibilizada com a homenagem.


(entrevista concedida ao website EGO em 02Agosto2009)






SANDRA BARSOTTI
TV
1975 - Roque Santeiro
1975 - Pecado Capital
1976 - O Casarão
1977 - Um Sol Maior
1980 - Dulcinéa Vai À Guerra
1980 - Alice
1980 - Um Homem Muito Especial
1981 - Os Imigrantes
1982 - As Cinco Panelas de Ouro
1984 - Viver a Vida
1985 - Tudo em Cima
1985 - Ti Ti Ti
1986 - Tudo ou Nada
1990 - Gente Fina
1992 - Tereza Batista
1993 - Sex Appeal
1996 - Quem É Você?
1997 - Velas de Sangue
1998 - Brida
2005 - A Lua Me Disse
2009 - Viver a Vida Yolanda
2011 - Morde & Assopra



























SANDRA BARSOTTI
FILMES
1971 - Romualdo e Juliana
1972 - O Grande Gozador
1972 - Quando as Mulheres Paqueram
1972 - Patrícia Eu Transo, Ela Transa
1972 - Leninha A Difícil Vida Fácil
1973 - Divórcio à Brasileira
1973 - O Azarento Sandra
1973 - Os Primeiros Momentos
1973 - Como Nos Livrar do Saco
1973 - O Marido Virgem
1974 - As Mulheres que Fazem Diferente
1974 - Um Varão Entre as Mulheres
1975 - Confissões de Uma Viúva Moça
1975 - Deixa Amorzinho...Deixa
1975 - Os Maníacos Eróticos
1975 - Mulher do Industrial
1977 - Ouro Sangrento Sandra
1978 - Assim Era a Pornochanchada
1978 - Os Melhores Momentos da Pornochanchada
1978 - PecadoSem Nome
1978 - Mulher do Delegado
1978 - A Noite dos Duros
1982 - Um Casal de Três
1991 - O Filme da Minha Vida
1992 - Vênus de Fogo
2000 - Vida e Obra de Ramiro Miguez Dias
2002 - O Amor Segundo o Aurélio
2006 - Vestido de Noiva
2013 - O Caso Letícia
2014 - Guia Prático para Escolher o Sofá dos Seus Sonhos
2016 - Cartas de Amor São Ridículas











Quem quiser conhecer melhor a vida artística de Sandra Barsotti, recomendo a leitura do dicionário ASTROS E ESTRELAS DO CINEMA BRASILEIRO, publicada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo na Coleção APLAUSO.

Apesar da edição não estar esgotada, o livro é meio difícil de encontrar nas livrarias.

Mas a versão versão PDF do livro pode ser baixada gratuitamente AQUI, direto do portal da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, assim como todos os outros volumes da Coleção APLAUSO, coordenada por Rubens Ewald Filho e editada por Marcelo Pestana e Carlos Cirne.




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