Thursday, January 19, 2017

LAÇOS EM RECLUSÃO (de Ademir Demarchi crônica publicada em 30/07/2015)



O México é um país maravilhoso, de cultura estranhíssima. Sua sociedade também e talvez por isso não saia das manchetes pelos motivos mais banais e também engraçados. Se alguém perguntar o que vem à mente em primeiro lugar, corremos o risco de ouvir que será o Chaves, o querido super herói dos jovens irreverentes, Chapolim Colorado, ou as novelas mexicanas, verdadeiros dramalhões que o SBT tornou populares por aqui, com mulheres carregadas de cosméticos e lágrimas e parecendo tão mal feitas diante do padrão Globo que, parecidas com o Chapolin, caíram no gosto por engraçadas. Tal como as lutas livres ou Telecatch, que foram muito populares no Brasil nos anos 1960/70, mas que em verdade vieram do México, onde existem até hoje. Fantomas, o Múmia ou o Homem Montanha, todos eram inspirados nos mascarados mexicanos, que usavam uniformes muito mais estilizados que os daqui. Esses lutadores se foram e nos restaram hoje em dia os picolés mexicanos, que nada têm a ver com os verdadeiros, que são populares, com frutas e sucos de frutas naturais e não essas gororobas açucaradas da moda que são verdadeiras falsificações “repaginadas” para shopping e que custam o dobro do preço. Exatamente como muitos automóveis que são fabricados aqui e no México mas que, sendo iguais, aqui custam o dobro do preço. Quando se constata uma coisa dessas dá vontade de vestir um macacão de luta livre e sair dando porrada. Porém, enquanto o modelito não fica pronto, vamos lendo os jornais do dia, onde encontramos outra notícia, desta vez sobre uma tal de Juana, não a poeta Soror Juana Inés de La Cruz, que no século 17 se retirou para um claustro confortável longe da violência que as cidades ofereciam às mulheres, coisas assim como um casamento arranjado com um estranho de enormes bigodes, e se tornou escritora para escrever poemas contra homens néscios, do qual vai um trecho: “Bem com muitas armas fundo/ que luta vossa arrogância/ pois em promessa e em instância/ juntais diabo, carne e mundo”. No entanto falo de outra, ainda viva e na prisão, também vitimada por violências da mãe alcoólatra que nela batia, xingava e a vendia aos homens e que se tornou famosa nos ringues de luta livre, onde ficou conhecida como A Dama do Silêncio, que não falava, ia pra cima dos marmanjos. Nada diferente da vida fora dos ringues, pois descia deles e passava a perseguir velhinhas, fazia amizade com elas e as estrangulava, esfaqueava ou esmurrava, atitude que justificou como sendo para se vingar da mãe. Disse que foi só aquela que matou quando foi pega, mas já descobriram 17 e acreditam que foram 40 velhinhas que morreram e foram esquecidas. Diferentemente dessa Juana, quando foi presa ela ganhou mais um apelido, A Matavelhinhas e caiu na gozação e imaginário dos mexicanos que criaram um programa de televisão e canções inspiradas nela. Ficou famosa e sua última novidade foi que encontrou o amor aos 56 anos na prisão, com um condenado por assassinato, um Miguelito de 74 anos que tem Anjo no nome, com tudo feito numa cerimônia coletiva promovida pelo governo com nome de novela mexicana, Laços em Reclusão. Se essa novela fosse filmada aqui, poderiam colocar como coadjuvante a Suzane Richthofen, que, depois de ter se tornado evangélica e se unido com a loira da mala, Elize Matsunaga, a assassina do Kitano, recentemente se casou com a Sandrão, uma sequestradora e assassina gente fina e evangélica, pois isso é bem de novela mexicana, os evangélicos têm horror de homossexuais, mas lá na prisão tá liberado. E essa em que elas estão fica bem ao lado daquela em que está Marcola, líder do PCC, uma org atuante, com a qual o Estado fez acordo de cavalheiros para que acabasse a onda de crimes nas ruas del Estado de San Pablo, no México, anos atrás...


Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
são publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho




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