Tuesday, January 10, 2017

FÁBIO CAMPOS, NOSSO HOMEM NA FLORIDA, VIU E APROVOU "MANCHESTER À BEIRA MAR"



O cinema é, cada vez mais, um espaço para sonhar, relaxar e se divertir sem compromisso com a reflexão. Parece que isso é uma das maiores características da vida contemporânea. Gostamos de imaginar que a vida é um mar de rosas, e, caso não seja, que existe uma solução magica para cada um dos nossos problemas.

De vez em quando aparece um filme como Manchester à Beira Mar, focado nas dificuldades da vida de pessoas comuns, que nos lembra como somos vulneráveis, e como um pequeno descuido pode gerar uma tragédia sem precedentes. Como pequenos eventos podem modificar nossas vidas, muitas vezes, sem que tenhamos nenhum controle sobre eles.

Lee - Casey Affleck em uma atuação brilhante - trabalha como zelador num conjunto de prédios em Boston. Aos poucos somos apresentados a sua rotina, trabalhos de manutenção nos apartamentos, o pequeno quarto de zelador, as saídas para beber em bares locais. Lee sempre está solitário, evita ao máximo o contato com outas pessoas, mesmo quando aparecem algumas oportunidades. Age como se estivesse anestesiado, como se apenas esperasse a vida passar.

Uma ligação vai retira-lo desse purgatório, fazendo com que seja preciso retornar à sua cidade natal, a tal Manchester, em Massachusetts.

Por meio de flashbacks, que se alternam com o tempo atual, vamos sendo apresentados a seus fantasmas. Não há atropelo, temos tempo de refletir, de nos colocar no lugar de Lee. Com isso, passamos a dividir o seu sofrimento, seu incomodo de ter retornado à cidade natal, suas dúvidas quanto ao futuro.

Boa parte do filme é sobre esse reencontro com fantasmas do passado, que, apesar de adormecidos, voltam com força total no território conhecido.

Os amigos, a família, a ex-mulher -– Michelle Williams também numa atuação magistral, apesar de pouco tempo em cena -– fazem com que seja impossível continuar naquela vida anestesiada. Os acontecimentos que o levaram até lá fazem com que Lee precise tomar decisões que não se sente capaz de tomar. A essa altura, já dividimos as angustias com ele. Como nada é apressado, temos tempos para nos colocarmos no seu lugar, dividir suas duvidas e sua imensa dor.

O diretor e roteirista Kenneth Lonergan conduz o filme com muita delicadeza, usando o frio intenso do inverno daquela região, como uma espécie de espelho da alma dos personagens. Sem nunca apressar o ritmo e, principalmente, sem impor soluções magicas. Estamos diante da vida como ela é. Até em meio a tragédias, é preciso encontrar uma maneira de seguir em frente, mesmo que isso, algumas vezes, pareça impossível.

Manchester à Beira Mar foi um dos filmes mais emocionantes que assisti ultimamente, tem uma intensidade impressionante, sem nunca ser piegas ou estabelecer julgamentos. Foi o primeiro filme que assisti no ano, mas dificilmente não estará na lista dos melhores filmes de 2017.


MANCHESTER À BEIRA MAR
(Manchester By The Sea)

Direção
Kenneth Lonergan

Elenco
Casey Affleck
Michelle Williams
Kyle Chandler
Gretchen Mol
C J Wilson

estreia nos cinemas brasileiros
dia 19 de Janeiro











No comments:

Post a Comment