Tuesday, January 3, 2017

BRIGA DE FACÇÕES, UMA BOMBA RELÓGIO (por Antonio Luiz Nilo)



Enquanto o povo permanece nas discussões intermináveis sobre esquerda/direita, cassação de políticos corruptos, desvio de dinheiro público ou se são relevantes ou não as benesses sociais dos governos de Cuba e Venezuela, uma praga extremamente poderosa vai corroendo os alicerces do país sem que a sociedade lhe dê a devida importância.


Estou falando das facções criminosas que se espalharam pelo território brasileiro como um bicho geográfico que se enraíza na sola do pé. Inicialmente infectando apenas as duas maiores capitais sob as siglas CV e PCC, esses parasitas sociais criaram verdadeiros túneis subcutâneos no mapa do Brasil e hoje já depositam suas larvas contaminadas por mais de uma centena de cidades.



Enquanto ainda eram larvas migratórias amigas, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital apenas ocupavam seus espaços, conquistando territórios, como num jogo de War onde se respeita o oponente, apesar da clara intenção de conquistar o mundo (do crime).



Mas o respeito acabou. O paulista PCC, mais organizado e com uma visão claramente “empresarial” do tráfico de entorpecentes e do comércio de armas, acabou ganhando força suficiente para se impor e conquistar alguns territórios importantes do carioca CV, oferecendo a alguns chefes do tráfico de cidades estratégicas vantagens que o Comando Vermelho não oferecia, como acordos comerciais mais interessantes e o monopólio na distribuição de drogas e armas. Afinal, o PCC controla os carregamentos de cocaína vindos da Colômbia e Bolívia e maconha do Paraguai perdidos pelo CV com a prisão de Fernandinho Beira-Mar em 2001.



O PCC passou então a atrair traficantes da própria cidade do Rio de Janeiro, oferecendo empréstimos em dinheiro, assistência jurídica, privilégios de celas com TV e alimentação de qualidade nas prisões... e até mesmo seguro médico e funerário em casos extremos.



Os cariocas, enrolados com dívidas e uma má administração, ainda se fragilizam com uma guerra de território com outras duas facções locais, a Amigos dos Amigos (ADA) e o Terceiro Comando Puro (TCP).



As diferenças são evidentes: enquanto o PCC investe no mercado imobiliário, em bancos e no comércio, num perfeito esquema de lavagem de dinheiro, o CV ainda acumula cédulas de 50 e 100 reais em sacolas escondidas na laje.



Mas o golpe de misericórdia veio mesmo com a aliança do PCC com a ADA, inimigo número um do Comando Vermelho, que garantiu à facção paulista o monopólio do comércio de armas e drogas na Rocinha, a favela mais rentável e numerosa da capital carioca.



A retaliação parece ter vindo agora, na virada do ano, no massacre do Complexo Penitenciária Anísio Jobim, em Manaus, onde membros da facção Família do Norte, ligada ao Comando Vermelho, executaram 57 detentos do PCC.



As investigações correm soltas, mas o governo parece impotente em relação à força da facções criminosas. Afinal, além dos melhores advogados contratados para suas defesas, elas têm também a conivência e a cobertura de políticos importantes de seus estados (quem não lembra do filme Tropa de Elite 2, que tratava abertamente do tema e que fez o seu diretor e roteirista José Padilha se mudar com a família para os Estados Unidos com medo de ser perseguido por policiais militares, políticos e traficantes no Brasil? Curiosamente, José Padilha dirigiu, e hoje produz, a série “Narcos” que tem o brasileiro Wagner Moura no papel do colombiano Pablo Escobar, o maior traficante de todos os tempos)



O fato é que essa guerra entre facções criminosas virou uma verdadeira bomba relógio. As autoridades pouco têm a fazer. Superfragilizada, a Segurança Pública no Rio de Janeiro vive um pesadelo sem fim. Dificilmente o PCC cruzará os braços diante do ocorrido em Manaus. E o Rio pode ser a próxima e grande vítima.



Mas aí vocês perguntam: por que um comunicólogo como eu estaria tratando de um assunto como esse, que não tem absolutamente nada a ver com comunicação? Aí eu respondo: tem sim.

Não sou um expert no assunto em questão, mas, como comunicólogo, sinto que tudo isso está acontecendo justamente porque as facções, comandadas por traficantes que estão presos em penitenciárias de segurança máxima, se comunicam via celular dentro de suas celas, sem a menor restrição, dando ordens e estabelecendo as suas conexões.

Aí você pergunta mais uma vez: e as operadoras, não podem rastrear ou abrir escutas para essas conversas? Claro que podem. Mas será que interessa? Será que não existe alguém facilitando a vida desses traficantes a troco de dinheiro ou até mesmo de segurança pessoal? Será que os órgãos de segurança pública não são pressionados pelas facções a ponto de facilitarem a comunicação dos presos em suas celas?



Não importa de quem é a culpa. Um dia, quem sabe, acabamos descobrindo. O que acontece é que vivemos um período crítico, em que estamos nas mãos de traficantes e assassinos, provavelmente acobertados por autoridades públicas, e nem paramos pra pensar nas consequências.



Tudo por causa de um sinal aberto de celular. Um canal de comunicação. E viva a liberdade de expressão.


Antonio Luiz Nilo
nasceu em Santos
e é redator publicitário
e diretor de criação
há quase 30 anos,
com prêmios nacionais
e internacionais.
Circulou a trabalho
por todo o país,
com paradas prolongadas
em Brasília, Belo Horizonte e Salvador.
Publicou em 1986
"Poemas de Duas Gerações"
e, mais recentemente, o romance
"Ascensão e Queda de Pedro Pluma"
(à venda em alnilo@gmail.com).
Além disso, atuou como cronista
para o diário Correio da Bahia.
De volta a Santos desde 2013,
Antonio segue sua trajetória
cuidando de Projetos Especiais
na Fenômeno Propaganda
e como sócio-diretor
da Agência de Textos
TP Texto Profissional.






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