Thursday, April 21, 2016

2 OPINIÕES SIMPÁTICAS A "AMOR POR DIREITO", DRAMA COM JULIANNE MOORE E ELLEN PAGE


MUITO MAIS QUE UM DRAMA PESSOAL DE UM PACIENTE TERMINAL
por Renato Hermsdorff
para Adoro Cinema


Tudo vai bem, obrigado, até que a personagem de Julianne Moore descobre que tem uma doença terminal. Você pode até pensar que já viu esse filme. Mas, não, não viu.

Sim, o argumento, serve para explicar as agruras por que passa a personagem-título de Para Sempre Alice, uma renomada professora de linguística, que é diagnosticada precocemente com Alzheimer – papel que rendeu à atriz o Oscar. Mas a premissa vale também para Freeheld, novo filme protagonizado por Moore.

As semelhanças, no entanto, param por aí.

Na produção, dirigida pelo pouco conhecido Peter Sollett (Nick & Norah - Uma Noite de Amor e Música), ela incorpora a policial Laurel Hester, lésbica, reservada quanto à sua vida privada, dado o caráter machista do ambiente de trabalho. O que não quer dizer que seja enrustida. E, um belo dia, numa escapadela para uma partida de vôlei – um pretexto para encontrar gente nova –, ela conhece Stacie Andree (Ellen Page).

O namoro engata e tudo que elas querem é ter para quem dar boa noite na hora de dormir, uma casa com quintal, um cachorro – grande, de preferência. Nada muito diferente do que, anonimamente, anseia dois terços da população mundial. E conseguem. Tudo vai bem, obrigado, até que Laurel descobre que tem um câncer de pulmão em estágio avançado.

Mesmo nos momentos mais difíceis do tratamento, é possível notar uma personagem completamente diferente da doente que Julianne Moore interpretou em Still Alice. E, mesmo com a fatalidade, o filme é bem-sucedido em mostrar a atuação profissional da policial, em campo. Sim, ela é lésbica, está doente, mas tem uma carreira, com investigações em curso, de modo que Freeheld foge do “monotema”.

Tudo o que ela passa a querer é que o benefício da pensão – após servir a corporação de Nova Jersey por 23 anos – seja estendido para a companheira depois que a policial morrer. Elas acabam de assumir uma dívida com a compra da casa e esse seria o jeito de Stacie ter condições de arcar com os custos. Nada mais justo, não?

Não é o que pensam os cinco (quatro, pelo menos) conselheiros (ou freehelders) responsáveis pela decisão. Com argumentos que vão desde o burocrático (nunca antes na história dessa corporação) até o financeiro (mais gasto para a instituição), eles negam sucessivamente o apelo da veterana. Mas a questão é de outra ordem. Afinal, estamos falando de um casal homossexual.

O filme vai no cerne da polêmica para, pouco a pouco, desmascarar os argumentos – em geral religiosos e/ou hipócritas – dos freehelders. Facilita o fato de ter um conselheiro, ainda que sua atuação seja, em princípio, tímida, do lado das pleiteantes. Papel que cabe a Josh Charles.

Essa história, de fato, aconteceu. E recentemente, em 2002 – embora o cabelo de Julianne Moore, à la Farrah Fawcett dos anos 1970, diga o contrário (é fiel, contudo, à realidade da personagem).

A doença e, sobretudo o aspecto físico da decrepitude diretamente relacionada, no entanto, não é explorada como costumamos ver nas cinebiografias de Hollywood. Depois que Laurel adoece, o tempo em que Julianne Moore aparece em tela é até pouco, se comparado com outros filmes do gênero – inclusive com Para Sempre Alice.

Isso porque Freeheld não é sobre Laurel, mas sobre luta dos direitos civis dos homossexuais; não é um panfleto a favor do casamento gay; é uma convocação no sentido de brigar pelo status de igualdade. Claro, a não ser que você não tenha um coração, é inevitável não se emocionar.

Uma das atrizes mais prolífica em atuação hoje em dia, é lugar comum elogiar a performance de Moore – que está ótima, aliás (ela adota um gestual masculino sutilmente contido). O mesmo vale para Ellen Page, comovente que só como a companheira que vê sua amada partir aos poucos.

É preciso destacar, também, a atuação dos meninos. Além de Josh Charles, o conselheiro “do bem” e, portanto, gostável desde a concepção, o filme traz Steve Carell como um ativista gay judeu simplesmente hilário. O personagem é inserido na trama não necessariamente como um aliado de Laurel e Stacie. A causa de Steven (“Steven, com ‘n’ no final para ficar bem gay”, como ele mesmo se apresenta) Goldstein é o casamento de pessoas do mesmo sexo, antes de qualquer drama. Ele chega a dizer para o casal que esse era o caso com o qual ele “sonhava”, para levantar sua bandeira.

E Michael Shannon. No filme, o “general Zod” assume o papel de Dane Wells, o companheiro (dessa vez, de trabalho) de Laurel. Shannon simplesmente acha o tom certo para o personagem: desconfiado, mas emotivo.

No fim, é uma produção lacrimosa – como não poderia deixar de ser, em razão da trágica história real. Mas também de esperança, uma vez que retrata uma vitória dos homossexuais nos EUA na luta por igualdade. Por usar o drama pessoal como pano de fundo para o contexto maior (e não o contrário), Freeheld dá um passo adiante nas cinebiografias.



UM FILME RELEVANTE, AINDA QUE POUCO OUSADO
por Vitinho Barbosa Moraes
para Cine Com Pipoca


O filme conta a história real de Laurel Hester, interpretada pela Julianne Moore, uma mulher extremamente dedicada a seu trabalho que há 23 anos serve na força policial de Nova Jersey e no ano de 2005 descobriu estar com câncer no pulmão em estágio terminal. Como se não bastasse, ela se vê numa situação totalmente injusta, pois no caso de sua morte ela não poderá deixar sua casa para sua companheira Stacie Andree, interpretada pela Ellen Page, porque a legislação local não permite tais direitos conjugais para casais homossexuais. Eis que ela trava uma difícil e dolorosa batalha contra o tempo para reivindicar o direito de igualdade e fazer uma mudança política e social acontecer.

Julianne Moore nos entrega mais uma vez uma ótima interpretação. Ela faz uma personagem muito racional, durona e discreta, segura de sua sexualidade e consciente de não misturar a vida pessoal com a profissional, mas percebe-se que no fundo ela é apenas mais uma vítima sofrendo com a repressão do mundo exterior. Sem contar o preconceito mascarado por ela ser uma mulher com um cargo tão elevado no ramo da polícia. O filme poderia ter explorado muito mais dessa faceta machista e potencializar o fardo que a protagonista internaliza todos os dias, mas isso é posto de forma amenizada, pois seu real desafio é a questão da sexualidade. Assim como no filme Para Sempre Alice (Still Alice, 2014) em que ela incorporou brilhantemente uma personagem com Alzheimer, aqui ela convence assustadoramente o público como uma mulher sendo dominada pelo câncer. A maquiagem é ótima e auxilia bastante na aparência de exaustão da personagem, mas ela é só uma ferramenta e não ofusca o desempenho da atriz. Só a questão do cabelo que incomoda um pouco, porque várias vezes fica muito aparente que é uma peruca.

Ellen Page também está ótima. Ela é jovem, segura, curiosa, prestativa, dedicada, e transparece muito bem seu amor pela companheira. Eu apenas senti falta de mais momentos entre as duas juntas, pois serviria para transparecer mais do amor intenso entre elas. Do jeito que ficou, beirou o artificialismo. Outra coisa que eu estranhei um pouco foi a mudança de tempo em alguns momentos, pois pareciam um tanto bruscas e abruptas, mas não chegam a atrapalhar.

Michael Shannon interpreta no filme o parceiro de trabalho da Lauren, e faz um personagem que levanta ideias e questionamentos interessantes, pois está dividido entre apoiar a amiga de longa data, mas consequentemente será visto como alvo de chacota pelos colegas preconceituosos. Esse dilema envolve outros personagens também, e só expressa o quanto foi um problema difícil e que infelizmente ainda está presente na sociedade. Por vários momentos o filme instiga sentimentos de revolta no público e deixa claro o quanto a justiça ainda é falha, e muitas vezes por razões pessoais ou ideias religiosos. Há um personagem chamado Steven Goldstein, interpretado pelo Steve Carell, que tem um peso importante no filme, pois ele é o porta-voz da causa gay e o líder do movimento, que até se aproveitou da situação e da fama do caso da Laurel para promover seus próprios ideais. Ele também é uma tentativa de alívio cômico, mas é uma atuação e um personagem extremamente chato, estereotipado e sem graça.

De qualquer forma, acredito que o principal problema do filme foi sua maneira genérica demais de apresentar uma história real com tanto potencial. Faltou mais peso na direção em conduzir os fatos e adicionar elementos mais impactantes e surtos emocionais. Eu queria ter visto mais.

O filme é inspirado no ótimo curta-metragem de mesmo nome, Freeheld, que em 2008 ganhou o Oscar por Melhor Documentário de Curta-Metragem. Curiosamente o filme nem foi lembrado no Oscar este ano em nenhuma categoria, o que foi injusto, pois a canção tema é linda e merecia pelo menos uma indicação como Melhor canção original. A música se chama “Hands of Love” e é cantada pela cantora Miley Cyrus, que foi selecionada por ser um nome de peso para os jovens e por defender a causa GLBT.

Amor por Direito trata de um assunto muito sério, importante e atual, porém sua fórmula por várias vezes soa muito tradicional e comum. Talvez tenha sido uma tentativa de fazer um filme no “padrão Oscar”. Poderiam ter ousado mais para potencializar o efeito do filme. Mas ainda assim é um filme relevante, inspirador, pesado e que vale a pena pela mensagem e o desempenho das atrizes.


AMOR POR DIREITO
(Freeheld, 2016, 105 minutos)

Direção
Peter Sollett

Roteiro
Ron Nyswaner

Elenco
Julianne Moore
Ellen Page
Michael Shannon
Steve Carrell


em cartaz nas Redes ROXYCINEMARK e CINESPAÇO



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