Muitas das amizades que cultivei nasceram do atendimento como livreiro.
Uma das daminhas do meu casório, funcionários foram contratados e até sociedade nasceram do papo no balcão.
Outra linha de amizades são dos vizinhos de comércio, a gente sempre faz uma terapia de grupo, chora as pitangas e sonha com uma vida menos atribulada.
Um desses amigos é o Ernesto, antigo dono da Confeitaria Viena.
Depois de mais de cinco décadas ele pendurou as chuteiras, para azar da legião de fãs de suas receitas.
Filho de Alemães, apesar do nome Viena, que vem dos pais do antigo sócio, o homem setentão, de suspensórios e bengala, se aproxima das mesas da calçada para uma prosa, bradando meu nome com sua poderosa voz de barítono.
Em busca de um inquilino para a sua antiga loja ele é figura fácil nas redondezas, e volta e meia nos encontramos para um papo sobre o passado e alguns palpites pro futuro.
Ontem, depois de dividir algumas ideias sobre o que pode vir a ser o imóvel da confeitaria, Ernesto começa a tamborilar na mesa da calçada, olhando para a frente, quase em transe.
Tamborilava com algum ritmo, digo algum pois não esperamos ginga vinda de um filho de alemães.
Ele me olhava, esperando talvez que fizesse algo parecido, e eu nada.
Ele somou uma sonoridade ao batuque, da..di, da, dáá.
Ele se explicou.
Ouu melhor, começou a me ensinar letras do Código Morse.
Ouu melhor, começou a me ensinar letras do Código Morse.
Depois da aula, que incluía uns palavrões, ele combinou que das próximas vezes buzinaria no ritmo as letras aprendidas na aula, que ficasse atento.
Estou atento, Ernesto, meu grande amigo.
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