por João Paulo Barreto
para Cabine Cultural
Lançado em um momento oportuno da cena política brasileira, Em Nome da Lei até que não faz referências explicitas ao juiz Sergio Moro na construção do personagem vivido por Mateus Solano, aqui, também um magistrado. Porém, é impossível não lembrar da figura jovial do responsável pelas investigações da lava-jato na presença do juiz Vitor Ferreira, que assume como titular na comarca de uma cidade situada na fronteira com o Paraguai, terra sem lei e dominada por um chefão do tráfico.
Em seu fraco roteiro, o veterano diretor Sergio Rezende apresenta uma espécie de faroeste moderno e até se sai bem na ambientação do local no que se refere à violência e insegurança. No entanto, há detalhes na construção de seus personagens e na criação um tanto novelesca de suas tramas paralelas que não deixam de incomodar o espectador no decorrer da apresentação e desenvolvimento destes elementos.
Alice e Vitor, procuradora e juiz se envolvem em uma terra sem lei
A começar pelo próprio Vitor, que chega à cidade com ar de galã e já começa a demonstrar uma falta de profissionalismo ao cantar sua procuradora na primeira semana de trabalho. Ok, admito que seria difícil se concentrar tanto na labuta tendo na sala ao lado (e no quarto vizinho do hotel, friso) alguém tão bonita quanto Paolla Oliveira, que vive a procuradora Alice Costa. Mas qualquer credibilidade que o roteiro tente passar para seu protagonista cai por terra quando o vemos secar garrafas de vinho em jantares durante dias úteis (sem qualquer sinal de ressaca no dia seguinte) e tenha como meta levar sua funcionária para cama. O que, claro, acaba por acontecer.
Deixando de lado esse detalhe da personalidade do juiz Vitor, Solano até consegue transmitir segurança nas ações perpetradas pelo seu personagem. Diante de uma cidade cuja justiça parece sempre omissa, a forma enérgica como o novo juiz passa a agir diante das atividades de tráfico de drogas do chefão Gomez (Chico Diaz) constrói bem um clima de antagonismo entre os dois, colaborando de forma positiva na ideia de um faroeste moderno. Porém, o modo como o roteiro insiste em inserir subtramas que não colaboram em nada para a história e a forma capenga como as motivações que levam ao desfecho frouxo do longa são inseridas na trama acabam por decepcionar.
Na figura do chefe do tráfico e senhor do crime na região, Chico Diaz até convence. Ator de expressão marcante, Diaz consegue transmitir bem a aspereza de seu personagem, alguém cuja autoconfiança bem como a certeza da impunidade subiu-lhe à cabeça. O problema está na ingenuidade de alguns dos seus atos, como no suposto desespero de sua atitude final, quando decide peitar de arma em punho a figura do juiz, algo que não condiz com a sua frieza construída pelo desenvolvimento do roteiro.
Do mesmo modo, há uma tentativa inútil de se inserir subplots que em nada acrescentam para a trama central, como a história do piloto de avião que leva as drogas para Gomez. Ao tentar estabelecer um conflito com o drama do personagem ao desconfiar de que sua mulher o trai e o resultado dessa dúvida sendo constatado na presença do chefão em fotos nonsenses tiradas com a digníssima, o filme tenta criar um possível choque ao espectador por conta do desfecho de crime passional e suicídio do traído, mas sem nenhum sucesso.
Além disso, há uma constrangedora maneira de se construir um desfecho surpreendente na ação do pacato e frágil oficial de justiça, que atira no vilão por conta de uma vingança cuja motivação é plantada no filme de modo a querer subestimar a inteligência do espectador.
por Lucas Salgado
para Adoro Cinema
Conhecido pelos trabalhos em Guerra de Canudos e Mauá - O Imperador e o Rei, o diretor Sergio Rezende vem deixando a abordagem histórica de lado nos últimos trabalhos e tentado investir num cinema nacional de ação e thriller. Foi assim com Salve Geral, de 2009. E também é o caso do novo Em Nome da Lei. Num cinema em que muitas vezes os cineastas ficam restritos aos seus gêneros favoritos, é muito bom ver um diretor que busca trabalhar em vários universos e não tem medo de tentar coisas novas.
Mas tem um problema: a falta de qualidade. Por mais que se valorize a tentativa de fazer algo novo, não dá para aplaudir quando o novo dá errado. E este é o caso presente.
Passado na fronteira entre Brasil e Paraguai, Em Nome da Lei conta a história de um juiz que chega numa cidade corrupta e tenta, ao lado da procuradora e de um policial, mudar aquela realidade, sem medo de enfrentar criminosos, políticos e até policiais.
Mateus Solano vive o jovem juiz Vitor, enquanto que Paolla Oliveira é a procuradora Alice. Completando o time principal, Chico Diaz vive Gomez, o vilão também conhecido como El Hombre. Diaz, por sinal, é quem se sai melhor no elenco. Mateus e Paolla não comprometem, afinal não havia muito o que tirar do roteiro, que coloca os dois em meio a um romance previsível e desinteressante.
Mas antes um romance desinteressante do que um completamente absurdo e sem sentido, não? Pois o filmes também tem um desses, entre a filha de Gomez (Juliana Lohmann) e o capanga Hermano (Emílio Dantas). Não só são personagens secundários, principalmente a garota, como o romance em si não contribui em nada para o desenvolvimento da história. E ainda conta com um flashback completamente sem sentido.
Repleto de clichês, frases de efeito ("Juiz não pede, determina") e cenas mal dirigidas (em especial, o julgamento de Hermano), o filme trata seus protagonistas como heróis, quase super-heróis, relevando vários erros do personagem principal. No final das contas, não funciona como romance, policial, drama ou suspense. Simplesmente, não funciona.
(2016, 93 minutos)
Direção
Sergio Rezende
Elenco
Mateus Solano
Chico Diaz
Paolla Oliveira
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