Tuesday, April 12, 2016

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE "JUVENTUDE", DE PAOLO SORRENTINO (por Fábio Campos)



Juventude é um filme sobre a essência do homem, mas de um homem em extinção, aquele que há alguma décadas atrás era o modelo de masculinidade, aquilo que o Don Draper representou tão bem. O homem que vive pra impressionar a sua musa (não necessariamente a mesma), que usa seu talento somente pra que ela o note. Se outros também o notam, é apenas consequência do esforço bem-sucedido.

O filme foca no dia a dia de dois amigos de muito tempo num spa na Suiça, Harvey Keitel faz um cineasta e Michael Caine um maestro. A relação com a musa, ou musas, não poderia ser mais antagônica. Um deles passou boa parte da vida ao lado da sua, enquanto o outro foi alternando várias ao longo da vida. As consequências ficam evidentes, em um, temos uma certa apatia, sem a necessidade de impressionar a musa, nada mais vale a pena, enquanto o outro busca desesperadamente continuar relevante, já numa fase decadente.

Não à toa, os protagonistas estão idosos, enfatizando a extinção desse perfil, quando confrontado com as novas gerações. Convivem com eles o jogador de futebol, gordo e decadente, claramente inspirado no Maradona, que se ressente das glorias, e que carrega a esposa como uma serviçal, o homem de meia idade que se encanta com a artista pop sem talento, o jovem e talentoso ator, sempre ótimo, Paul Dano, que nem se abala com a tietagem de uma belíssima miss Universo. Isso tudo enfatiza a mudança do papel da musa com o passar das gerações, até praticamente desaparecer, sendo substituído narcisismo de hoje em dia.

Rachel Weisz, cada vez mais bonita, faz a filha de um deles e o principal personagem feminino - é interessante vê-la passar de abandonada a musa novamente - e Jane Fonda faz uma pequena, mas poderosa, aparição como a musa inesquecível de muito tempo atrás (quem melhor que ela pra fazer isso). Mas o filme é essencialmente sobre homens, o companheirismo, a fidelidade, a solidariedade, tão presentes na amizade masculina e a eterna busca da musa e suas consequências.



Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábui é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.





No comments:

Post a Comment