Juventude é um filme sobre a essência do homem, mas de um homem em extinção, aquele que há alguma décadas atrás era o modelo de masculinidade, aquilo que o Don Draper representou tão bem. O homem que vive pra impressionar a sua musa (não necessariamente a mesma), que usa seu talento somente pra que ela o note. Se outros também o notam, é apenas consequência do esforço bem-sucedido.
O filme foca no dia a dia de dois amigos de muito tempo num spa na Suiça, Harvey Keitel faz um cineasta e Michael Caine um maestro. A relação com a musa, ou musas, não poderia ser mais antagônica. Um deles passou boa parte da vida ao lado da sua, enquanto o outro foi alternando várias ao longo da vida. As consequências ficam evidentes, em um, temos uma certa apatia, sem a necessidade de impressionar a musa, nada mais vale a pena, enquanto o outro busca desesperadamente continuar relevante, já numa fase decadente.
Não à toa, os protagonistas estão idosos, enfatizando a extinção desse perfil, quando confrontado com as novas gerações. Convivem com eles o jogador de futebol, gordo e decadente, claramente inspirado no Maradona, que se ressente das glorias, e que carrega a esposa como uma serviçal, o homem de meia idade que se encanta com a artista pop sem talento, o jovem e talentoso ator, sempre ótimo, Paul Dano, que nem se abala com a tietagem de uma belíssima miss Universo. Isso tudo enfatiza a mudança do papel da musa com o passar das gerações, até praticamente desaparecer, sendo substituído narcisismo de hoje em dia.
Rachel Weisz, cada vez mais bonita, faz a filha de um deles e o principal personagem feminino - é interessante vê-la passar de abandonada a musa novamente - e Jane Fonda faz uma pequena, mas poderosa, aparição como a musa inesquecível de muito tempo atrás (quem melhor que ela pra fazer isso). Mas o filme é essencialmente sobre homens, o companheirismo, a fidelidade, a solidariedade, tão presentes na amizade masculina e a eterna busca da musa e suas consequências.
Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás.
desde que nasceu, 49 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábui é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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