E por falar em saudades onde anda você Dorothy?
Confesso ter recorrido a Dominique Saint Pern para ouvir dela os passos da tua estrada.
Aqui na terra parece que o mundaréu te engavetou.
Eu não!
Eu e o Marcelo Pestana Não engavetamos.
Dorothy foi dessas pessoas que faz as pessoas pararem, passou cada dia se reinventando trazendo sempre a graça maliciosa de um humor fatal, sempre segurando uma belíssima taça de champanhe.
Foi rainha de Nova York e certamente é hoje rainha de alguma estrela de Ursa Maior.
O legado foi saber ler a alma humana como poucos, dos poucos que sabem ou souberam, menos ainda foram os que brincaram com o pior dos seres humanos tendo um humor infernal.
É o que falta nos dias atuais com essa invencionice do politicamente correto.
Sua poesia é difícil de traduzir, mesmo tendo uma linguagem simples, de imagens fortes e diretas.
Grande parte do seu charme reside em ser impecavelmente rimada e metrificada, a um ponto quase impossível de preservar nos versinhos curtos e compactos que eram sua forma predileta. Seu talento para a rima rica e original é também famoso.
Dorothy também foi roteirista em Hollywood (duas vezes indicada ao Oscar, em 1937 e 47). Depois da guerra, voltou para New York e para o trabalho jornalístico.
Em 1944, Dorothy ganhou edição luxuosa do Portable, uma coleção prestigiadíssima, reunindo o melhor dos melhores escritores, onde ela fica, ao lado de Shakespeare e da Bíblia, como as três, únicas, coleções a serem editadas ou reimpressas contínuamente.
Ruy Castro em Big Loira, diz que Dorothy está, de fato, em companhia de Oscar Wilde, Mark Twain, Platão, Voltaire, James Joyce, Cervantes e Nietzche e por aí vai, até mesmo a Bíblia.
E arremata: “isso é o que se pode chamar de uma escritora em boa companhia. Resta saber é se Dorothy gostaria da companhia deles.”.
Eu acho que sim.
Quer ter uma ideia da potência de Dorothy?
“Dele só ganhei até hoje uma flor
E tão terna, mas com um coração à espreita
Pura, púrpura, e tendo do orvalho o odor/Uma rosa perfeita
Já conheço a linguagem do buquê
Nestas folhas frágeis
Meu coração se estreita
E imagino perfeitamente em quê:
Numa rosa perfeita
Bolas, por que nunca me dão
Uma bela limusine – ou…você não suspeita ?!?
Não, todos eles me mandam
Uma rosa perfeita”
A Cantora Careca, aborda a história de duas famílias inglesas do pós-guerra, decadentes e pertencentes à burguesia: os Smith e os Martin.
O tema principal centra-se na dificuldade de comunicação entre as pessoas.
Não têm nada para dizer umas às outras, ficando completamente desconectadas.
As frases feitas, os clichés, os lugares comuns, passam a dominar a comunicação diária, eliminando desta maneira a autenticidade do seio das relações humanas, gerando-se assim seres autômatos, desprovidos de emoções, de paixões, de utopias, perfeitamente substituíveis uns pelos outros, como se de verdadeiros clones se tratasse.
Seres que deixaram de pensar, absorvidos pelo mundo da alienação, do autismo, da demência, da realidade virtual.
A Cantora Careca, um texto de enorme atualidade, criatividade e clarividência, antecipador de futuros problemas humanos, que nos faz ver e apreciar um Ionesco visionário.
Hoje sem piano, mas ao cair da tarde, eu Marcelo Pestana, Carlos Cirne e Ila tivemos um encontro das águas na transversal do tempo e falamos da peça do Ionesco.
Bom acrescentar que Teatro do Absurdo é atribuída ao crítico norte-americano Martin Esslin.
A contribuição de Ionesco para este gênero de teatro, diz respeito à popularização de uma grande variedade de técnicas surrealistas, tornando-as aceitáveis para uma audiência condicionada a um teatro que reproduzia o quotidiano da vida real.
Assistimos a peça com grupos e momentos diferentes e o mundo foi realmente absorvido pela alienação, pois onde você pode assistir Ionesco nos dias de hoje?
Um verdadeiro absurdo!
Café que não esfria na manhã de uma Belo Dia.
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
No comments:
Post a Comment