Meu encantamento com Rabelais surgiu ocasionalmente.
Desprovido de recursos no final dos anos 70 coletei alguns livros num bazar.
Paixão imediata pelo padre e médico francês do Renascimento, que usou também o pseudônimo Alcofribas Nasier (um anagrama de seu verdadeiro nome).
Ficou para a posteridade como o autor das obras primas cósmicas Pantagruel e Gargântua, que exploravam lendas populares, farsas, romances, bem como obras clássicas.
O escatologismo é usado para condenação humorística.
A exuberância da sua criatividade, do seu colorido e da sua variedade literária asseguram a sua popularidade.
Erudito apaixonado pelo saber, de espírito ousado e com propensão para as novidades e para as reformas.
O humor escatológico e as suas narrativas cósmicas abriram-lhe o caminho para a perseguição.
A sua vida estava dependente do poder de várias figuras públicas, nos tempos perigosos de intolerância que se viviam na França.
Por ordem da Sorbonne, viu confiscados os seus livros.
Pretendeu libertar as pessoas da superstição e das interpretações adulteradas.
Em Gargantua e Pantagruel (1532-52), François Rabelais escreveu uma utopia imaginária onde seu princípio era “Faça Como Queira”, lugar no qual não havia governantes ou governados.
Graças a esta contribuição literária, bem como aos seus questionamentos críticos de fundo ético através da sátira aos governantes de seu tempo, Rabelais é considerado por alguns anarquistas, entre eles Voltairine de Cleyre, um importante precursor do pensamento ácrata no final do medievo.
“Obra em Negro” retrata uma Europa em convulsão devido a um choque ideológico, religioso, político, econômico e social como pano de fundo.
Marguerite Yourcenar descreve ao longo deste livro três partes, usando o questionamento existencial de Zenão, que é o próprio drama existencial da Europa num cenário caótico de um cisma religioso, de onde emergem seitas dispostas a matar e a morrer pela sua verdade que creem ser absoluta.
Enquanto isso, nos bastidores, de forma sub-reptícia a riqueza aparentemente infinita da banca seduz os Reis que perseguem com
objetivos expansionistas, ao subsidiar-lhes as guerras que lhes satisfazem o desejo insaciável de poder.
A burguesia toma o freio nos dentes e ameaça rivalizar com a aristocracia pela posição dominante da sociedade.
Afinal a História, com todas as suas dissoluções e reedificações, nada mais é que a história da circulação das elites, que mexem as forças oculta desencadeadores do caos que gera a mudança.
Lemos na “Obra em Negro” uma certa modificação naquilo que compõe o tecido social das elites com as ascensão da burguesia, com tudo aquilo que tem de positivo (o desenvolvimento científico e o apoio às artes, libertação da servidão) e de menos positivo (uma maior dependência do estado do setor financeiro).
Mario Monicelli em “O Incrível Exército de Brancaleone” apresenta o sistema da sociedade feudal da Idade Média.
Mostra as estruturas políticas, religiosas, culturais e mentais da época em que se passa.
Brancaleone, um cavaleiro que apesar do título vive em uma cabana pobre com seu insubordinado cavalo Aquilante deixa bem clara a hierarquia medieval onde mais importante do que a situação financeira era a classe social.
Quatro amigos maltrapilhos roubam um pergaminho que dá ao seu possuidor o direito de tomar o feudo de Aurocastro.
Mesmo sendo os novos donos do papel eles não podem tomar posse da região porque são meros servos.
Para isso eles recorrem ao falido cavaleiro em busca de um acordo pelas terras.
A atividade comercial é representada por Habacuc, um velho judeu que sabe ler e viaja carregando seu imenso baú cheio de mercadorias.
Bom negociador e esperto ele logo se interessa pelo pergaminho e apresenta os maltrapilhos à Brancalone visando obter algum lucro da situação.
Como na Idade Média a única maneira de tornar-se nobre ou adquirir uma herança era se casar com a filha de um senhor feudal, Brancaleone vai participar de um torneio de cavalaria cujo premio era o saudoso e desejado casamento.
Como era pobre e não possuía equipamentos de qualidade, que custavam caro, Brancaleone acaba perdendo e é obrigado a aceitar a proposta de dominar o feudo de Aurocastro e dividir suas riquezas com os donos do pergaminho.
CAFÉ ONDE A SERIEDADE E O ESCRACHO DÃO AS MÃOS NA MANHÃ DE SEXTA
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
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