por Chico Marques
John Waters nasceu em Baltimore, Maryland, em 22 de Abril de 1946, há exatos 70 anos.
Ao longo de sua carreira como roteirista e diretor de cinema, aprendemos que a aparentemente inofensiva a aprazível Baltimore -- palco de todos os seus 17 filmes -- pode ser um lugar muito estranho para um garoto crescer.
Lá ele iria conhecer uma legião de homens e mulheres estranhíssimos dispostos a trabalhar de graça em seus filmes absolutamente independentes -- muitos deles num padrão de produção semelhante aos clássicos filmes trash do lendário Ed Wood, um de seus mentores artísticos e "espirituais".
Para aquem não sabe, esses filmes realizados nos Anos 70 e 80 eram estrelados por sua trupe regular de colaboradores, conhecida como Dreamlanders, composta entre outros por Divine, Mink Stole, David Lochary, Mary Vivian Pearce e Edith Massey.
Pior: a partir de 1977, Waters começou a trabalhar com criminosos condenados como Liz Renay e Patty Hearst, e nunca negou guarita para estrelas sem boa reputação no meio artístico, como a atriz pornô juvenil Traci Lords.
Como Waters, pouco a pouco, passou de um realizador de filmes subterrâneos para uma personalidade de Hollywood, realizando comédias de humor negro para um público restrito, ainda é um mistério que até hoje desafia explicações.
Hoje, em tempos de correção política a toda prova, certamente uma carreira como a dele seria inviável.
Mas, apesar de contar com grana de Hollywood, é sempre bom lembrar que todos os seus filmes foram realizados com orçamentos muito modestos.
São filmes amorais, selvagens e libertinos, onde a inocência meio abobalhada do final dos anos 50 e início dos anos 60 quase sempre serve de pano de fundo para as histórias mais inusitadas e pervertidas possíveis.
O sucesso comercial só chegou a partir de Hairspray, de 1988, que lucrou 8 milhões de dólares nas bilheterias dos Estados Unidos.
Foi só depois disso que seus filmes começaram a ser estrelados por atores mais familiares do grande público, como Johnny Depp, Edward Furlong, Melanie Griffith, Chris Isaak, Johnny Knoxville, Martha Plimpton, Christina Ricci, Lili Taylor, Kathleen Turner e Tracey Ullman.
Para quem não sabe, John Waters também é um escritor realizado, fotógrafo e artista visual.
Já publicou vários volumes de suas façanhas jornalísticos, coleções de roteiros de cinema e obras de arte.
E se hoje ele trabalha pouco -- seu último filme foi rodado 12 anos atrás --, é sinal mais do que claro que Hollywood mudou, e não comporta mais subversivos que desafiam classificações como John Waters.
Hoje, ele circula pelo Planeta Terra com um one-man show onde conta histórias divertidíssimas sobre sua vida e seu universo temático: Baltimore.
Pois bem: John Waters completa 70 anos de idade e nós aqui selecionamos dois de seus trabalhos mais selvagens do início de carreira nos Anos 70 e quatro de seus filmes mais "maduros" para celebrar essa data especialíssima.
Lembrando que todos esses filmes estão disponíveis para locação na Vídeo Paradiso.
Longa-metragem americano de baixo orçamento, escrito e dirigido por John Waters, lançado no circuito underground, onde alcançou notável sucesso e tornou-se ícone do cinema bizarro. O filme conta a trajetória da drag-queen Divine e sua família na competição contra o casal Connie e Raymond Marble pelo título de "pessoas mais sórdidas do mundo", insensatamente almejado. O longa traz uma coleção de cenas bizarras. Em uma delas, mãe e filho praticam sexo oral. Na outra, mais chocante ainda, Divine se alimenta de fezes. O trabalho do diretor John Waters ainda conta com cenas de nudez frontal (na mais chocante delas, a câmera foca o ânus de um dos atores) e de sexo bizarro entre um casal e uma galinha. A cena mais nojenta de todas é a de um banquete com fezes de cachorro. Naquela época, os filmes ‘underground' passavam à meia-noite, junto com os pornôs, mas com a divulgação que conseguiu ‘Pink Flamingos' acabou atraindo multidões. Waters afirmou em uma entrevista que nunca faria um outro filme nos moldes de ‘Pink Flamingos', talvez por acreditar ser impossível superá-lo. Para estômagos muito, muito fortes.
PROBLEMAS FEMININOS
(Female Trouble, 1975, minutos)
John Waters presta uma homenagem aos melodramas de drive-in sobre "delinqüência juvenil". A mocinha da história, claro, é o traveco Divine, que está sensacional como a adolescente que foge da casa para uma vida de prazeres libertinos, tudo porque ela não ganhou seu sapato de "chachacha" no Natal. Na fuga, ela é molestada por um motorista, que a engravida. Mas ela não deixa que a maternidade interfira nos seus planos de estrelato e se transforma em uma bizarra apresentadora de um espetáculo apocalíptico. É menos asqueroso que o "Pink Flamingos", mas consegue ser tão surreal quanto ele. Destaque para o strip-tease inesquecível de Divine, no explendor de seu 150 quilos. Detalhe: a canção tema foi também marca o início da carreira de Divine como cantora, com a música tema do filme foi composta pela dupla Waters/Divine, e marcou a estreia de Divine como cantora no apogeu da Era Disco.
MAMÃE É DE MORTE
(Serial Mom, 1993, minutos)
Beverly Sutphin (Kathleen Turner) é a esposa que seu marido (Sam Waterston) sonhou, além de uma mãe perfeita. Ela tem, contudo, uma estranha obsessão: nada e ninguém podem afetar a harmonia do seu lar. Quem investir contra sua família, morre. Após uma série de assassinatos, ela é levada a julgamento como uma verdadeira serial killer. Mas apesar de todas as provas contra ela, consegue ser absolvida, dando continuidade a sua obsessão. Kathleen Turner e Sam Waterston estão divertidíssimos nessa deliciosa comédia amalucada. A cena em que a velhinha é morta a golpes de pernil lembra o John Waters dos velhos tempos.
O PREÇO DA FAMA
(Pecker, 1998, 87 minutos)
As fotografias desfocadas do jovem Pecker (Edward Furlong) chamam a atenção de um crítico, que o transforma na mais nova sensação da cidade. O rapaz passa a ser perseguido pela imprensa e pelo público, sendo forçado a decidir se quer prosseguir na carreira ou salvar sua vida pessoal e seu relacionamento com a namorada Shelley (Cristina Ricci). Um filme que destoa um pouco do habitual na filmografia de Waters, já que os exageros narrativos e os toques surrealistas do diretor seguem em tom menor. Mas isso não faz de "Pecker" um filme menor de John Waters. Pelo contrário, é apenas um filme menos selvagem.
CECIL BEM DEMENTE
(Cecil B Demented, 2000, 88 minutos)
Sinclair Stevens (Stephen Dorff), um cineasta lunático, e sua entourage de maníacos fanáticos por cinema, chamados Sprocket Holes, seqüestra Honey Whitlock (Melaine Griffith), a deusa número 1 de Hollywood, para forçá-la a atuar em seu filme terrorista underground. Aos 40 anos de idade, Honey é bela, rica, talentosa e está no auge de sua carreira, muito embora sua vida pessoal esteja um "deus nos acuda". Curiosamente, de dia Sinclair é o responsável gerente do Senator Theatre, que abrigará a noite da "Première Beneficente para o Fundo Pró-Cardíaco" do filme estrelado por Honey. Já à noite, ele se auto-declara Cecil B. DeMented, cineasta guerrilheiro e líder de cinéfilos renegados. Com o carisma de Charles Manson, o estilo de Andy Warhol e o temperamento artístico de Otto Preminger, Cecil não é um cara violento, a menos que você atravesse seu caminho. Uma esculhambação engraçadíssima ao showbiz e ao culto às celebridades, que colocou Waters de vez no modelo hollywoodiano -- mas, infelizmente, não por muito tempo.
CLUBE DOS PERVERTIDOS
(A Dirty Shame, 2004, 90 minutos)
Sylvia Stickles (Tracey Ullman), uma mulher de meia-idade sexualmente reprimida e mal-humorada, que é proprietária de uma loja de conviniências, fica viciada em sexo após uma concussão e começa a sentir desejos sexuais que fogem ao seu controle. Vaughn (Chris Isaak), seu marido bonitão, que antes tentava em vão seduzi-la, não consegue entender de onde veio seu repentino interesse em sexo. Sua filha Caprice (Selma Blair), dançarina de uma boate de strip-tease com seios gigantescos e um fã clube considerável, também não consegue entender o que aconteceu. O que se sabe é que depois de ser socorrida pelo sexy motorista de guincho Ray-Ray Perkins (Jimmy Knoxville), Sylvia percebe que aquele não é um homem comum; mas um verdadeiro terapeuta que pode ajudá-la a colocar para fora toda a sua sexualidade reprimida, mudando radicalmente seu dia-a-dia e de sua família. Um argumento típico de Waters, com um orçamento maior que o habitual. Não é seu filme mais engraçado, nem o mais selvagem, mas merece ser visto, até porque desde então ele nunca mais dirigiu coisa alguma.
PROBLEMAS FEMININOS
(Female Trouble, 1975, minutos)
John Waters presta uma homenagem aos melodramas de drive-in sobre "delinqüência juvenil". A mocinha da história, claro, é o traveco Divine, que está sensacional como a adolescente que foge da casa para uma vida de prazeres libertinos, tudo porque ela não ganhou seu sapato de "chachacha" no Natal. Na fuga, ela é molestada por um motorista, que a engravida. Mas ela não deixa que a maternidade interfira nos seus planos de estrelato e se transforma em uma bizarra apresentadora de um espetáculo apocalíptico. É menos asqueroso que o "Pink Flamingos", mas consegue ser tão surreal quanto ele. Destaque para o strip-tease inesquecível de Divine, no explendor de seu 150 quilos. Detalhe: a canção tema foi também marca o início da carreira de Divine como cantora, com a música tema do filme foi composta pela dupla Waters/Divine, e marcou a estreia de Divine como cantora no apogeu da Era Disco.
MAMÃE É DE MORTE
(Serial Mom, 1993, minutos)
Beverly Sutphin (Kathleen Turner) é a esposa que seu marido (Sam Waterston) sonhou, além de uma mãe perfeita. Ela tem, contudo, uma estranha obsessão: nada e ninguém podem afetar a harmonia do seu lar. Quem investir contra sua família, morre. Após uma série de assassinatos, ela é levada a julgamento como uma verdadeira serial killer. Mas apesar de todas as provas contra ela, consegue ser absolvida, dando continuidade a sua obsessão. Kathleen Turner e Sam Waterston estão divertidíssimos nessa deliciosa comédia amalucada. A cena em que a velhinha é morta a golpes de pernil lembra o John Waters dos velhos tempos.
O PREÇO DA FAMA
(Pecker, 1998, 87 minutos)
As fotografias desfocadas do jovem Pecker (Edward Furlong) chamam a atenção de um crítico, que o transforma na mais nova sensação da cidade. O rapaz passa a ser perseguido pela imprensa e pelo público, sendo forçado a decidir se quer prosseguir na carreira ou salvar sua vida pessoal e seu relacionamento com a namorada Shelley (Cristina Ricci). Um filme que destoa um pouco do habitual na filmografia de Waters, já que os exageros narrativos e os toques surrealistas do diretor seguem em tom menor. Mas isso não faz de "Pecker" um filme menor de John Waters. Pelo contrário, é apenas um filme menos selvagem.
CECIL BEM DEMENTE
(Cecil B Demented, 2000, 88 minutos)
Sinclair Stevens (Stephen Dorff), um cineasta lunático, e sua entourage de maníacos fanáticos por cinema, chamados Sprocket Holes, seqüestra Honey Whitlock (Melaine Griffith), a deusa número 1 de Hollywood, para forçá-la a atuar em seu filme terrorista underground. Aos 40 anos de idade, Honey é bela, rica, talentosa e está no auge de sua carreira, muito embora sua vida pessoal esteja um "deus nos acuda". Curiosamente, de dia Sinclair é o responsável gerente do Senator Theatre, que abrigará a noite da "Première Beneficente para o Fundo Pró-Cardíaco" do filme estrelado por Honey. Já à noite, ele se auto-declara Cecil B. DeMented, cineasta guerrilheiro e líder de cinéfilos renegados. Com o carisma de Charles Manson, o estilo de Andy Warhol e o temperamento artístico de Otto Preminger, Cecil não é um cara violento, a menos que você atravesse seu caminho. Uma esculhambação engraçadíssima ao showbiz e ao culto às celebridades, que colocou Waters de vez no modelo hollywoodiano -- mas, infelizmente, não por muito tempo.
CLUBE DOS PERVERTIDOS
(A Dirty Shame, 2004, 90 minutos)
Sylvia Stickles (Tracey Ullman), uma mulher de meia-idade sexualmente reprimida e mal-humorada, que é proprietária de uma loja de conviniências, fica viciada em sexo após uma concussão e começa a sentir desejos sexuais que fogem ao seu controle. Vaughn (Chris Isaak), seu marido bonitão, que antes tentava em vão seduzi-la, não consegue entender de onde veio seu repentino interesse em sexo. Sua filha Caprice (Selma Blair), dançarina de uma boate de strip-tease com seios gigantescos e um fã clube considerável, também não consegue entender o que aconteceu. O que se sabe é que depois de ser socorrida pelo sexy motorista de guincho Ray-Ray Perkins (Jimmy Knoxville), Sylvia percebe que aquele não é um homem comum; mas um verdadeiro terapeuta que pode ajudá-la a colocar para fora toda a sua sexualidade reprimida, mudando radicalmente seu dia-a-dia e de sua família. Um argumento típico de Waters, com um orçamento maior que o habitual. Não é seu filme mais engraçado, nem o mais selvagem, mas merece ser visto, até porque desde então ele nunca mais dirigiu coisa alguma.
No comments:
Post a Comment