Grupos familiares sempre estiveram na ordem do dia na cena musical popular brasileira: Quarteto em Cy, Trio Esperança, Golden Boys, Sandy & Junior, Trigêmeos Vocalistas, a lista é enorme...
Mas nenhum desses grupos vocais familiares conseguiu igualar o impacto fulminante nas Paradas de Sucesso do quarteto LOS TATURANAS, formado por Taturana Pai e seus filhos Pipinho, Leãozinho e Vitinho. Surgido há exatos 20 anos, no Verão do Amor de 1996, numa temporada absolutamente histórica no lendário BarNaBé!, de Eduardo Caldeira, LOS TATURANAS repetiu, de certa forma, a efêmera trajetória de sucesso dos Sex Pistols, e foi imediatamente catapultado para o estrelato -- para logo a seguir despontar novamente para o anonimato, até porque com o estrelato surgiram do nada groupies com testes de DNA em mãos, advogados da OMB, Allen Klein e Yoko Ono, e tudo que era doce, de repente, se acabou.
A Guerra estava declarada. O litígio entre pai e três filhos era tamanho que cada um passou a ter seu próprio advogado, seu próprio psicoterapeuta e seu próprio massagista tailandês. E então, depois de menos de um ano de sucesso retumbante, LOS TATURANAS saiu de cena. Taturana Pai desistiu da música e virou restauranteur, e cada um de seus três filhos seguiu um caminho diferente. Só Pipinho Taturana manteve-se fiel à música, e até hoje trabalha nesse métier. Diplomata que é, Pipinho vive buscando saídas civilizadas para tentar reunir a banda e remendar velhas rusgas que ainda possam eventualmente atrapalhar um sonhado "comeback".
A pedido dele, na condição de amigo da família, decidi criar esse espaço em LEVA UM CASAQUINHO, intitulado TATURANAS CONNECTION, para se tornar um ponto de encontro entre pai e filhos do Clã Taturana, na esperança de facilitar um armistício e apagar da história a famosa frase dita à Imprensa por Taturana Pai, completamente embriagado e simulando o sotaque lusitano de seus antepassados: "O Sonho Acabou, mas ainda tem Pão Doce, pode ser, freguesa?"
Este é o primeiro colóquio entre eles em muitos e muitos anos. E vocês são todos testemunhas disso. Preparem-se para fortes emoções. (Chico Marques)
Caro Taturana Pai,
Venho por meio dessas mal tecladas te desejar uma feliz páscoa. Sei que estou em falta contigo. Contingencias – aquela ordem de proteção (209ª) que você injustamente me impôs após nossa rusga no natal de 1994, dificultou muito nossa comunicação. Além disso, a internet aqui no Vale do Silício é uma porcaria. Não obstante nosso relacionamento conturbado, você é meu pai e sempre será, independente do fato de você manter os papéis da fortuna da nossa família em seu nome.
A propósito, já que estamos retomando nossos laços afetivos tão esgarçados, não pude deixar de notar seu nome nos Panama Papers, o que me deixou bastante intrigado. Senti algo que não sentia há muito tempo: ternas lembranças de infância. Ah, você, meio mamado de jurubeba, me levando para passear no pedalinho em Poços de Caldas, adormecendo no meio do lago e eu voltando pedalando, pedalando sozinho. Foram as 8 horas mais inesquecíveis da minha vida. Eu com aqueles pezinhos pequeninos, no vigor dos meus três anos de idade, o coraçãozinho acelerado...
Nem me lembro como me levaram para o quarto 403 do hospital municipal. Mas lembro muito bem da felicidade que me invadiu quando você foi me buscar, três semanas depois. Eu estava lá. Chorei. Rimos muito.
Mas devo estar te aborrecendo com essas minhas memórias. Ando meio emotivo desde que, proustiano pra caramba, comecei a ouvir ao áudio-livro de “Em Busca do Tempo Perdido”.
Volto ao ponto. Aquele montante do Panama Papers que eu mencionei não se encontrava no seu inventário. Provavelmente meu querido pai, tão esquecidão, metendo o loko, deve ter esquecido dessa pecúnia, assim como ocorreu com aquelas 32 contas no Julius Baer.
Eu sei que estamos aqui falando de algo de foro íntimo em público (e isso também não me agrada), mas tive que usar desse expediente (obrigado, tio Chiquinho!), pois achei bastante deselegante aqueles rudes senhores que você me mandou pra uma “conversinha”, da última vez que resolvi falar contigo.
Aguardo ansiosamente uma resposta.
Te amo, Daddy!
P.S.: Caso não receba essa mensagem por algum motivo, meus advogados entrarão em contato para lhe desejar feliz páscoa pessoalmente.
Pipinho, meu fofo,
Quanto ressentimento! Quanta amargura! Tua missiva mais parece treta de casal tipo Dalva x Herivelto! Seja homem como sua mãe foi, rapaz!
Sabes tudo o que fiz por ti, filho ingrato. Por ti fui de Rousseau em punho – aquele que enfiava as crias de bandeja em cestas de três pontos no orfanato mais próximo (dizem os registros que encestou uns seis filhotes). Errei o alvo. Delapidei parte da minha fortuna jorrando brejaúbas a mil em colégios religiosos super CNBB, super Paulo Freire, caríssimos!
Pra quê? Pra te aliviar das celas imundas, onde um escuro sombrio dominava aquele ambiente úmido? Pra te livrar das garras daquele escuro sombrio, o Bigorna, que dominava teu escuro úmido?
São questões.
Não havia saída pra ti, diabrete. Tentei de tudo: homeschooling, retiro espiritual, internação, eletrochoque, yoga, macrobiótica, Jung, Lacan, can, can ...
Necas. Tua rebeldia adolescente, tal qual tuas acnes e espinhas impertinentes, não pediram um mísero penico pros meus sacrifícios.
Pra acabar definitivamente com a minha esperança em ti, viraste músico. Ah, nem as provações de Jó fariam tanto dodói num pai como eu.
Daí, pra te salvar, criei o fenômeno Los Taturanas – um sucesso universal. Faturamos uns caraminguás, umas milhetas de dólares, e agora vens com listinhas apócrifas achando que te tunguei?
Vou mandar uns “advogados” pra bater um papinho contigo.
Amo-te.
(continua...)
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