Sunday, April 3, 2016

FERNANDO GABEIRA ENTREVISTA CAZUZA, QUE FARIA 58 ANOS, EM BOFETADA DO PASSADO.

trechos da entrevista
publicada originalmente
na revista GOODYEAR
em Janeiro de 1989



“Em 1988 mudei minha maneira de encarar o trabalho. Antigamente, trabalho para mim era diversão. Eu queria me mostrar. Cantava para arranjar broto e para provar para o meu pai que eu era bom. Eu queria era comer todo mundo. E consegui”.

“Agora vejo o trabalho de outra maneira. Comecei a me preocupar em cantar melhor. Como letrista, passei a falar de coisas mais abrangentes. Parei de falar um pouco do meu quintal e passei a falar da minha geração. Acho que é a idade também”.

“Sou muito protegido. Isso até me prejudica. Sou meio despreparado. Sou o neto preferido de duas avós e filho único, mimado de pai e mãe. Mas meus valores são todos de classe média baixa. Eu era filho de um produtor de discos e de uma costureira. Estudava no Santo Inácio que só tinha gente rica. Eu tinha vergonha porque minha mãe costurava para as mães de meus colegas. Na época eu chorava, hoje tenho o maior orgulho dela. Papai só começou a ficar rico quando eu tinha 15 anos”.

“Nunca estive tão ruim em minha vida. Um dia o suicídio passou pela minha cabeça. Rapidamente. Queria tomar alguma coisa para desmaiar. Não sentia prazer em estar vivo. Nunca entendi o suicida. Achava uma covardia. Aí eu entendi”.


“Fui criado por padres errados… Fiquei com trauma. Se vejo um padre saio correndo. Mas os valores do cristianismo eu acho legal. Sou contra a idéia do pecado. Cristo propôs a dúvida. Isso é maravilhoso. Ele duvidou até o fim. Acho isso fantástico porque a dúvida é criativa”.

“Não gosto que me perguntem se estou com aids. Me faz lembrar uma coisa que eu quero esquecer. Contei para muito pouca gente o que eu passei no hospital. Mas todo mundo sabe o que eu tenho”.

“Perdi dez quilos, perdi meus músculos e não os recuperei. Tinha um pouquinho de barriga. Tinha um Bundão. Meus amigos me chamavam de ‘Maria Gorda’.”


“Para mim, o amor é o contrário da morte. Por isso não tenho medo de morrer. Eu estou amando. Estou amando um homem. Isso para mim é coragem. E é contra a caretice”.

“Tenho fé em mim mesmo, a minha experiência com Deus é por aí, sou muito pragmático, cético. Sou otimista. Se não fosse, num certo momento eu teria dançado. Mas, em relação à minha vida, o que está acontecendo é uma busca muito grande de felicidade que eu estou encontrando”.

“Eu era muito feliz pelo lado de fora, mas comigo mesmo não. Achava que não merecia ser feliz”.

“Estou ótimo, segundo todos os exames. Mas posso morrer amanhã”.











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