Wednesday, October 28, 2015

BREVES REFLEXÕES DE UM BABY BOOMER IRRECUPERÁVEL



No final dos anos 60, qualquer série de TV americana que estreasse na TV brasileira era motivo de frisson. Séries de TV eram produtos nobres. As emissoras os apresentavam com grande orgulho. Até porque custavam caro.

Lembro bem de ver "Jornada Nas Estrelas" e "O Agente da UNCLE" na TV Excelsior e "Missão Impossível", "O Rei dos Ladrões" e "Mannix" na TV Record. Era horário nobre mesmo. Quem via qualquer episódio dessas séries, passava o dia seguinte comentando o que viu com outros telespectadores entusiasmados.

Na década de 70, as coisas começaram a mudar. Séries de TV passaram a competir no horário nobre com as produções da TV Globo, e daí ganharam o apelido desdenhoso de "enlatados", pois chegavam aqui já prontos e embalados.

Puro despeito. Até porquê "Kojak", "Persuaders", "Mod Squad" e "Arquivo Confidencial" eram campeões de audiência no horário nobre da TV Globo. "Columbo", "McMillan", "McCloud", "Hawaii 5-0", "Switch" e "Starsky & Hutch" dominavam o horário nobre de TV Tupi. E tinha ainda "Cannon", "Dan August", "San Francisco Urgente" e "Barnaby Jones" brilhando na grade da TV Bandeirantes.

Na época, parecia uma oferta muito grande de produções diferentes, um verdadeiro smorgasboard televisivo. 

Mas, comparando com o volume absurdo de produções na cena atual na TV Paga, aquilo era apenas um antepasto.



A pergunta que não quer calar é: quem, em sã consciência, consegue ter saco para acompanhar tantos seriados?

Eu confesso que não tenho.

E confesso também que acho 90% dos seriados apresentados pelas emissoras pagas daqui (mas produzidos para ser exibidos na TV aberta lá fora) abaixo de qualquer crítica.

São formulaicos demais, com roteiros extremamente previsíveis e climaxes dramáticos pautados por comerciais. Tudo muito chato. Mesmo os seriados mais consistentes -- como "Criminal Minds", "Law & Order SVU" e "Chicago PD" -- sofrem muito com essas camisas de força que a TV cria para seus próprios produtos.

É por essas e outras que os seriados produzidos para ser exibidos por redes pagas lá fora (como HBO e Showtime) tem um diferencial tão grande.

 São segmentados.

 As interrupções comerciais são poucas, ou então não existem.

 A estrutura narrativa não é necessariamente formulaica, podendo ser reinventada a cada episódio.

E o que é melhor: os plots podem ser inusitados, e fora de qualquer padrão. "True Detective" é um excelente exemplo disso. "Fargo" também é. "American Horror Story" segue o mesmo caminho. "Em Terapia" então, é totalmente diferente de qualquer série de TV já realizada.


Mas então, o que leva tantas pessoas a acompanhar de forma febril séries de TV que conseguem ser mais idiotas que muitas de nossas novelas?

Eu confesso que não sei. E nem quero saber. Só sei que, a cada dia que passa, fica mais difícil encontrar vida inteligente em canais de TV Paga como Sony, Universal, Warner, A&E e outros.

Resta, claro, as produções realizadas para os Canais HBO, Showtime, AMC, FX e
Sundance, quase todas excelentes. São elas que salvam telespectadores chatos, irritantes e exigentes como eu do tédio mortal e da monotonia temática.

Dia desses, no meio de uma reprise de "House MD" -- que, diga-se de passagem, ia ao ar pela TV aberta lá fora --, o personagem de Hugh Laurie lidera um motim de pacientes do Hospital Princeton-Plainsboro contra os nos administradores que decidem economizar cortando a oferta de canais disponíveis no cardápio de TV paga do Hospital. 

Quando a situação começa a beirar a insanidade generalizada, e House ouve o não definitivo da administradora, ele relaxa e diz: "Bom, pelo menos na noite de segunda feira dá para assistir TV aberta".

Adivinhe qual série ia ao ar nas noites de segunda, às 8 da noite, para os telespectadores americanos e canadenses pela Fox TV?

Adivinhou.




Odorico Azeitona viu
mais TV do que devia
ao longo de sua vida
 e escreve toda quarta-feira
 em LEVA UM CASAQUINHO




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