Wednesday, May 25, 2016

2 OPINIÕES NADA DIVERGENTES SOBRE AMORES URBANOS,ESTREIA NA DIREÇÃO DE VERA EGITO


AMORES URBANOS: PROPAGUE, POIS O FILME MERECE
por
Carlos Cirne
para
Colunas & Notas


Vez por outra surgem “pequenos” grandes filmes que nos fazem reavaliar alguns parâmetros da indústria cinematográfica, tão instável em nosso país. Nos últimos anos, por duas oportunidades, senti o mesmo tipo de desafio, a partir dos filmes “Apenas o Fim” (2008), de Matheus Souza, estrelado por Gregório Duvivier e Érika Mader; e “Os 3” (2011), de Nando Olival, estrelado por Gabriel Godoy, Victor Mendes e Juliana Schalch. E eis que agora surge “Amores Urbanos”, de Vera Egito (co-roteirista de ”À Deriva”, 2009; e “Serra Pelada”, 2013; estreando na direção de longas). E a sensação de “conversa urgente” com o filme foi a mesma de antes.

“Amores Urbanos” conta a história de três amigos - Júlia (Maria Laura Nogueira), Micaela (Renata Gaspar) e Diego (Thiago Pethit) – e suas vidas e paixões na cidade de São Paulo, ela mesma mais uma personagem na história. Dos três, apenas Júlia tem uma vida profissional realmente definida, e nem é lá grande coisa: aos 30 anos, ela é “assistente de estilo” (leia-se “estagiária”) no atelier de uma grande estilista (Emannuelle Junqueira), para desespero de seus pais - Ligia Cortez e Marcelo Lazzaratto em breves porém brilhantes participações -, seus eternos “paitrocinadores”.

Sem vida romântica definida, e com algumas complicações ainda a caminho – incluindo uma queda por Pablo (Lucas Brilhante), um DJ já comprometido - Júlia divide seus problemas e frustrações com Micaela, ela mesma às voltas com um romance complicadíssimo com a atriz em ascensão Duda (Ana Cañas), que não a reconhece “publicamente” e a frustra constantemente; e com Diego, que também tem lá seus problemas com o namorado (Bernardo Fonseca), só que em seu caso é ele que não quer maiores envolvimentos. Isto e seus problemas com os pais, com quem se recusa a sequer falar.

O que mais intriga no filme de Vera Egito – assim como acontecia nos outros dois citados acima – é a qualidade dos roteiros, acima de tudo a coloquialidade dos diálogos, todos absolutamente críveis. Não apenas entre as personagens mais jovens, mas também entre estes e seus pais, que não soam como se viessem do espaço sideral, nem tentam passar apenas “sólidas lições de vida”. Apenas conversam, discutem, e brigam – e muito – feito gente de verdade. Cativante.

Não espere nenhuma tese sociológica a respeito da geração que o filme retrata. Apenas uma história bem contada, sem tentativas de conversão nem de crítica, apenas de observação – muito próxima – de personagens bem construídos. Soa muito parecido com muitas pessoas que você provavelmente conhece, em diferentes estágios de semelhança. Não deixe de ver, e se surpreender, com este preciso e instigante retrato de jovens “adultos”, numa São Paulo fotografada com muito carinho e cuidado. Preste atenção na tomada final e perca o fôlego com a beleza da imagem noturna da cidade. E propague. O filme merece.



AMORES URBANOS: UM FILME ONDE O PROTAGONISTA É A AMIZADE
por
Janaína Carvalho
para
Mundo Blá!  


Dia frio, cinza, Amy Winehouse na vitrola, uma taça de vinho para acompanhar e a atmosfera se instala de forma perfeita para falar e sentir sobre Amores Urbanos (Brasil, 2014), o primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Vera Egito (responsável pelo texto de Serra Pelada).

A trama desseca as relações e dores cotidianas de três amigos, Diego (Thiago Pethit), Júlia (Maria Laura Nogueira) e Micaela (Renata Gaspar), que comungam crises existenciais à flor da pele e desilusões amorosas, tendo como pano de fundo a cidade de São Paulo e suas noites cheias de intensidade. Eles, que são separados por paredes (pois moram no mesmo prédio), mas que compartilham a realidade da vida líquida em tempos difíceis para sonhadores. Mas se essa vida é liquida, eles bebem, lambem e se lambuzam dela e não deixam de sonhar. Bauman e Amelie ficariam orgulhosos dessas personagens…

Júlia, de origem rica, vive a pressão dos pais para realizar o desejo desses. Ao descobrir que sua relação amorosa de dois anos foi baseada em falsas idealizações alimentadas pelos seus próprios desejos, ela se depara com outras realidades que se negava enxergar. Mica é lésbica e vive o conflito de namorar Duda (Ana Cañas), uma mulher de classe média que, até então, sempre namorou homens e, por medo da sociedade, não tem coragem de assumir publicamente o namoro com Mica. Duda se sabota para postergar sua realidade e Mica sofre por sua história e por amar alguém que não lhe assume como gente. Diego, provavelmente a personagem mais dolorosa para essa que vos escreve, é um jovem gay, underground, libertário e com uma triste história que, infelizmente, se faz um tanto comum para a realidade fascista que nos assola. Expulso de casa aos 16 anos por ser gay, se viu obrigado a sobreviver nas ruas de SP.

Após essa breve apresentação das personagens, lhes adianto que, na trama, o protagonista é a amizade, que compartilha e conforta todos os sentires que habita um ser, pois essa não é uma história de super-heróis; na verdade, o anti-heroísmo é explorado com louvor, tornando os personagens humanos comuns, imperfeitos, cheios de dores e desejos. É possível se identificar em muitos momentos, ver amigos teus, ter empatia e chorar pelo outro e é muito fácil sentir a delícia e a crueldade que habitam as ruas de SP.

Há momentos para rir, como quando os amigos ficam bêbados a ponto de não conseguirem entrar no próprio apartamento, depois de uma exaustão de tristezas extravasadas na balada ao som de Felipe Cordeiro. Falando nisso, que fotografia a daquela cena! Há momentos para refletir sobre as expectativas que alimentamos, como as vezes em que Mica acredita ser a hora de conhecer os amigos de Duda, ou como quando Júlia fala do sentir dos rapazes com quem ela se envolveu. Afinal, só podemos falar sobre nós mesmos, e olhe lá…


Em tempos de enredos narrativos e mergulhos rasos, o ponto alto de Amores Urbanos é uma cena em que não há fala, mas há muito contexto, comunhão, dor, sentimentos e história. Sim, o silêncio abre as cortinas para o cinema falar por meio de imagens, movimento e em frames um discurso que só os olhos e o coração (que clichê!) poderão ouvir. Portanto, abra bem os olhos e sinta.



AMORES URBANOS
(2016, 102 minutos)

Direção e Roteiro
Vera Egito

Elenco
Maria Laura Nogueira
Renata Gaspar
Thiago Pethit
Ligia Cortez
Marcelo Lazzaratto
Ana Cañas
Bernardo Fonseca
Emannuelle Junqueira
Lucas Brilhante


em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
com sessões às 17h e 21h



No comments:

Post a Comment