Friday, May 13, 2016

CAFÉ E BOM DIA #23 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



VOCÊ CONHECE ESSE TEXTO?

NÃO, NÃO CONHEÇO!

"Música é número, a adoração do número, é álgebra ressonante. Mas a própria essência do número não conterá um elemento de mágica, um toque de feitiçaria? A música é uma teologia do número, uma arte austera e divina, mas uma arte em que todos os demônios estão interessados e que, entre todas as artes, é a mais susceptível ao demoníaco. Pois ela é ao mesmo tempo código moral e sedução, lucidez e embriaguez, um apelo ao mais intenso estado de alerta e um convite ao mais doce sonho de encantamento, razão e anti-razão - em suma, um Mistério com toda a iniciação e os ritos educativos que desde Pitágoras foram parte integrante de todos os mistérios. E os sacerdotes e mestres da música são os iniciados, os preceptores desse ser duplo, a totalidade demoníaco-divina do mundo. Vida, humanidade e cultura.
(Thomas Mann)

Meus olhos não podem ver tudo.

Daí escolho os que podem escrever o que não posso ver.

Os teus tem o poder mágico que faz aumentar a extensão dos meus.



Vim reconhecer tardiamente, meu querido Renato, mas antes tarde do que nunca: a publicação do último livro de Manoel de Barros — sob o título de Memórias inventadas: a infância, cujas folhas aparecem soltas dentro de uma caixa — oferece o pretexto para um reencontro com sua poesia, principalmente aquela das quatro últimas décadas, que concentra, a nosso ver, o melhor de sua produção.

E nos oferece, sobretudo, a oportunidade de revisitar esse poeta que soube trazer para a poesia brasileira, com discrição e brilho consideráveis, certas aquisições da vanguarda europeia do início do século XX, que outros tentaram com estardalhaço, em experiências que hoje nos parecem destinadas aos museus ou aos arquivos da literatura.

Com efeito, a poesia de Manoel de Barros permanece viva, fiel aos seus pontos de referência, mas num sentido que talvez já não satisfaça um leitor que aprendeu, com o próprio poeta, a admirar o alto padrão de realização e de originalidade a que sua obra nos acostumou.

Poesia de “imagens”, mais do que de “mensagens”, que converteu o desimportante, o inútil e o ínfimo num de seus temas de predileção, pensar as suas relações com a vanguarda nos ajuda a compreender não só o sentido de seus últimos livros como também o sentido desta trajetória que, sem dúvida, que se manifesta como uma das mais relevantes da poesia brasileira.

É com perfume deste pomar que abro a manhã de sexta.

Meu café, e Bom Dia!


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


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