por Chico Marques
Nessa época do ano, quando a temperatura começa a despencar, só existe uma coisa melhor do que sair para comer uma bela pizza na companhia de amigos: é reunir os amigos em casa e preparar pizzas para eles.
Acreditem: o ritual da Pizza Caseira é sempre motivo de muito prazer, tanto para quem está comendo quanto para quem está com a mão na massa. Quem se habitua a ele ainda criança, não larga mais dele ao longo da vida.
Quando eu era pequeno, minha saudosa avó Candinha -- portuguesa da gema, sem um pingo de sangue italiano nas veias -- preparava para nós, seus netinhos esfomeados, pizzas caseiras deliciosas, ainda que pouco ortodoxas, com um molho de tomates bem maduros e crus batidos no liquidificador com orégano, sal e azeite. Essas pizzas eram assadas -- ou fritas, há controvérsias -- numa grelha de ferro preta bem pesadona, com uma tampa alta, remanescente dos Anos 50: um antepassado distante, mas muito digno, dessas assadeiras de pizza a gás tão comuns hoje em dia. A tal panela preta quase sessentona resiste bravamente ao passar do tempo e continua em uso até hoje na cozinha da casa dos meus pais em Niterói.
O ponto da massa que minha avó preparava era indicado por uma bolinha que ela inseria num copo d'água. Quando a bolinha subisse, a massa poderia ser aberta e as pizzas já poderiam ser assadas (por ela) e devoradas (por nós). Era uma comilança desenfreada. Ao final, Candinha sempre bronqueava conosco: "Vocês são uns glutões, comem feito animais, nunca mais faço pizza pra vocês". Desnecessário dizer que ela nunca cumpria a ameaça. Duas semanas mais tarde, lá estava ela novamente, com a mão na massa, literalmente, preparando mais pizzas para nós naquela panela preta.
Lembro também com muito carinho quando Domingos Beschizza, pai de meu querido amigo Ricardo, reunia a turma de seu primogênito (então) adolescente na cozinha de casa aos fins de semana e não dava trégua na linha de produção de pizzas enquanto houvesse algum moleque que ainda não estivesse completamente empanturrado.
A massa da pizza do Domingos, preparada por ele algumas horas antes de chegarmos com nossos estômagos roncando, era uma delícia: bem leve e extremamente crocante, como deve ser toda massa de pizza caseira.
E o molho de tomate que ele preparava seguia as normas italianas, permanecendo em cozimento por horas e horas até atingir no ponto certo. Em decorrência disso, comíamos pizzas por horas seguidas e não passávamos mal depois. Era o Paraíso na Terra!
Os sabores escolhidos por Domingos para suas pizzas eram variados, mas jamais fugiam das opções tradicionalmente praticadas na Velha Bota. Bom italiano que é, Domingos fazia questão de seguir -- e torço para que ainda faça -- as tradições de sua terra natal.
Outro amigo italiano que faz uma massa de pizza caseira igualmente deliciosa é José Roberto Póvia, grande figura dos tempos áureos da Indústria Fonográfica Brasileira, que trabalhou em praticamente todas as gravadoras brasileiras, e hoje, aposentado, vive aqui em Santos à beira-mar.
Infelizmente temos nos visto muito pouco nos últimos tempos, pois Póvia é corinthiano e lulista e, de uns tempos para cá, ele começou a evitar quem não comungasse de suas crenças inabaláveis. Torço para que essa febre passe logo, e ele volte a me convidar para suas clássicas noites de pizza caseira. Sinto muita falta delas, e das conversas com ele também. Se isso acontecer, sou até capaz de acompanhá-lo num brinde à alma de Vicente Matheus. Um brinde a Lula já vai ser um pouco mais difícil. Mas nada é impossível.
Bom, melhor parar com esse Amarcord gourmand, pois acho que já estou exagerando nas digressões nostálgicas.
O caso é que existem várias receitas para preparar deliciosas pizzas caseiras (sempre no plural) que podem render noites agradabilíssimas em sua casa junto com seus amigos. Divida a função de pizzaiolo com eles. Pode ser bem divertido, acredite!
Essa receita aqui é da adorável Rita Lobo, para seu programa Cozinha Prática, no GNT. Quem quiser apenas o texto da receita, ele vem logo abaixo. Já quem preferir o vídeo com a própria Rita dando as dicas com seu jeitinho cativante, basta clicar aqui.
Boa pizza para todos!
PARA A MASSA
Nessa época do ano, quando a temperatura começa a despencar, só existe uma coisa melhor do que sair para comer uma bela pizza na companhia de amigos: é reunir os amigos em casa e preparar pizzas para eles.
Acreditem: o ritual da Pizza Caseira é sempre motivo de muito prazer, tanto para quem está comendo quanto para quem está com a mão na massa. Quem se habitua a ele ainda criança, não larga mais dele ao longo da vida.
Quando eu era pequeno, minha saudosa avó Candinha -- portuguesa da gema, sem um pingo de sangue italiano nas veias -- preparava para nós, seus netinhos esfomeados, pizzas caseiras deliciosas, ainda que pouco ortodoxas, com um molho de tomates bem maduros e crus batidos no liquidificador com orégano, sal e azeite. Essas pizzas eram assadas -- ou fritas, há controvérsias -- numa grelha de ferro preta bem pesadona, com uma tampa alta, remanescente dos Anos 50: um antepassado distante, mas muito digno, dessas assadeiras de pizza a gás tão comuns hoje em dia. A tal panela preta quase sessentona resiste bravamente ao passar do tempo e continua em uso até hoje na cozinha da casa dos meus pais em Niterói.
O ponto da massa que minha avó preparava era indicado por uma bolinha que ela inseria num copo d'água. Quando a bolinha subisse, a massa poderia ser aberta e as pizzas já poderiam ser assadas (por ela) e devoradas (por nós). Era uma comilança desenfreada. Ao final, Candinha sempre bronqueava conosco: "Vocês são uns glutões, comem feito animais, nunca mais faço pizza pra vocês". Desnecessário dizer que ela nunca cumpria a ameaça. Duas semanas mais tarde, lá estava ela novamente, com a mão na massa, literalmente, preparando mais pizzas para nós naquela panela preta.
Lembro também com muito carinho quando Domingos Beschizza, pai de meu querido amigo Ricardo, reunia a turma de seu primogênito (então) adolescente na cozinha de casa aos fins de semana e não dava trégua na linha de produção de pizzas enquanto houvesse algum moleque que ainda não estivesse completamente empanturrado.
A massa da pizza do Domingos, preparada por ele algumas horas antes de chegarmos com nossos estômagos roncando, era uma delícia: bem leve e extremamente crocante, como deve ser toda massa de pizza caseira.
E o molho de tomate que ele preparava seguia as normas italianas, permanecendo em cozimento por horas e horas até atingir no ponto certo. Em decorrência disso, comíamos pizzas por horas seguidas e não passávamos mal depois. Era o Paraíso na Terra!
Os sabores escolhidos por Domingos para suas pizzas eram variados, mas jamais fugiam das opções tradicionalmente praticadas na Velha Bota. Bom italiano que é, Domingos fazia questão de seguir -- e torço para que ainda faça -- as tradições de sua terra natal.
Outro amigo italiano que faz uma massa de pizza caseira igualmente deliciosa é José Roberto Póvia, grande figura dos tempos áureos da Indústria Fonográfica Brasileira, que trabalhou em praticamente todas as gravadoras brasileiras, e hoje, aposentado, vive aqui em Santos à beira-mar.
Infelizmente temos nos visto muito pouco nos últimos tempos, pois Póvia é corinthiano e lulista e, de uns tempos para cá, ele começou a evitar quem não comungasse de suas crenças inabaláveis. Torço para que essa febre passe logo, e ele volte a me convidar para suas clássicas noites de pizza caseira. Sinto muita falta delas, e das conversas com ele também. Se isso acontecer, sou até capaz de acompanhá-lo num brinde à alma de Vicente Matheus. Um brinde a Lula já vai ser um pouco mais difícil. Mas nada é impossível.
Bom, melhor parar com esse Amarcord gourmand, pois acho que já estou exagerando nas digressões nostálgicas.
O caso é que existem várias receitas para preparar deliciosas pizzas caseiras (sempre no plural) que podem render noites agradabilíssimas em sua casa junto com seus amigos. Divida a função de pizzaiolo com eles. Pode ser bem divertido, acredite!
Essa receita aqui é da adorável Rita Lobo, para seu programa Cozinha Prática, no GNT. Quem quiser apenas o texto da receita, ele vem logo abaixo. Já quem preferir o vídeo com a própria Rita dando as dicas com seu jeitinho cativante, basta clicar aqui.
Boa pizza para todos!
PARA A MASSA
6 xícaras (chá) de farinha de trigo
(cerca de 740 g)
2 colheres (sopa) de fermento biológico seco
(20 g)
2 colheres (chá) de açúcar
2 colheres (chá) de sal
2 1/2 xícaras (chá) de água morna
1/4 xícara (chá) de azeite
farinha de trigo
para polvilhar a bancada
Azeite para untar a tigela
MODO DE PREPARO DA MASSA
Numa tigela, misture o fermento e o açúcar.
Regue com a água morna e, com uma colher,
misture bem para dissolver.
Deixe em temperatura ambiente até espumar
(cerca de 5 minutos).
Enquanto isso, na tigela da batedeira,
misture a farinha com o sal
e abra um buraco no centro.
Separe uma tigela ou outro recipiente grande
e unte com 2 colheres (sopa) de azeite
(ela tem que ter espaço suficiente para a massa crescer bastante).
Assim que espumar, despeje a mistura de fermento
no centro da tigela com farinha.
Adicione ¼ de xícara (chá) de azeite
e misture, com uma espátula, apenas para incorporar.
Para sovar a massa: encaixe a tigela na batedeira com o gancho
e comece a bater em velocidade baixa por 5 minutos.
Aumente a velocidade, aos poucos, para alta
e deixe bater por mais 15 minutos até formar uma massa lisa
(ela vai descolar da lateral da tigela
e formar uma bola no gancho da batedeira).
Com as pontas dos dedos (ou uma espátula),
desgrude a massa da tigela da batedeira
e transfira para o recipiente untado com azeite.
Cubra com filme e deixe descansar por 1 hora,
até crescer e dobrar de volume.
Quando faltar 30 minutos para completar
o tempo de crescimento da massa,
preaqueça o forno a 250 ºC (temperatura alta).
Se for utilizar uma assadeira de pedra sabão,
coloque-a dentro do forno ainda frio
para aquecer desde o início
(caso contrário, ela pode rachar com o choque térmico)
Polvilhe uma bancada lisa com farinha de trigo;
transfira a massa de pizza para a bancada
e, com uma espátula (ou faca) divida em 4 porções.
Utilize a seguir ou, se preferir, embale individualmente
com filme e armazene na geladeira por 3 dias
ou no congelador por até 1 mês.
OBS1: se a massa estiver no congelador,
deixe descongelar em temperatura ambiente
por cerca de 2 horas antes de usar.
OBS2: se estiver na geladeira, deixe em temperatura ambiente
por 30 minutos antes de usar.
MODO DE PREPARO DA MASSA
Numa tigela, misture o fermento e o açúcar.
Regue com a água morna e, com uma colher,
misture bem para dissolver.
Deixe em temperatura ambiente até espumar
(cerca de 5 minutos).
Enquanto isso, na tigela da batedeira,
misture a farinha com o sal
e abra um buraco no centro.
Separe uma tigela ou outro recipiente grande
e unte com 2 colheres (sopa) de azeite
(ela tem que ter espaço suficiente para a massa crescer bastante).
Assim que espumar, despeje a mistura de fermento
no centro da tigela com farinha.
Adicione ¼ de xícara (chá) de azeite
e misture, com uma espátula, apenas para incorporar.
Para sovar a massa: encaixe a tigela na batedeira com o gancho
e comece a bater em velocidade baixa por 5 minutos.
Aumente a velocidade, aos poucos, para alta
e deixe bater por mais 15 minutos até formar uma massa lisa
(ela vai descolar da lateral da tigela
e formar uma bola no gancho da batedeira).
Com as pontas dos dedos (ou uma espátula),
desgrude a massa da tigela da batedeira
e transfira para o recipiente untado com azeite.
Cubra com filme e deixe descansar por 1 hora,
até crescer e dobrar de volume.
Quando faltar 30 minutos para completar
o tempo de crescimento da massa,
preaqueça o forno a 250 ºC (temperatura alta).
Se for utilizar uma assadeira de pedra sabão,
coloque-a dentro do forno ainda frio
para aquecer desde o início
(caso contrário, ela pode rachar com o choque térmico)
Polvilhe uma bancada lisa com farinha de trigo;
transfira a massa de pizza para a bancada
e, com uma espátula (ou faca) divida em 4 porções.
Utilize a seguir ou, se preferir, embale individualmente
com filme e armazene na geladeira por 3 dias
ou no congelador por até 1 mês.
OBS1: se a massa estiver no congelador,
deixe descongelar em temperatura ambiente
por cerca de 2 horas antes de usar.
OBS2: se estiver na geladeira, deixe em temperatura ambiente
por 30 minutos antes de usar.
Chico Marques às vezes é gourmet,
outras vezes é gourmand,
mas na maior parte do tempo
é apenas um comilão inveterado.
Escreve sobre comida semanalmente
em LEVA UM CASAQUINHO
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