Friday, May 13, 2016

APITO FINAL (por Marcelo Rayel Correggiari)



Por conta do ‘famigerado esporte bretão’, aquele ponto remoto dos mares-do-sul possui um solo sagrado. Mais um ano em que o jogo final será ali, terra onde exímios futebolistas já botaram seus pés sobre. Seja envergando a camisa ‘do oposto’, ou pelo time ‘da casa’, o estádio já recebeu o que chamaríamos de ‘o fino da bola’.

Em frente a uma hospedaria na Floriano Peixoto, noite de sábado, um ônibus cuja placa era de uma cidade pouco conhecida de Santa Catarina está estacionado. No interior da pousada, um grupo de torcedores vindos de Blumenau, todos vestindo a camisa do time anfitrião, joga carteado. A expectativa é tanta, em especial para os mais jovens, que já era para lá de meia-noite e nada do sono chegar.

Ao redor do estádio, repousam as cercas de metal, em posição, algumas tomando metade do leito carroçável. É assim todo jogo. Numa final de certame, mais ainda. O nervosismo não deixa os ansiosos dormirem: alguns torcedores chegam à Meca e, num ato de fé, dirigem seus automóveis pelas ruas da vila. Não é qualquer madrugada: aquele era um jogo final e ninguém consegue colar as pestanas. Moradores e torcedores, ombro-a-ombro.

O circo das TVs e equipes de promoção de evento já se arrastava desde quinta. As redondezas começam a ser tomadas por unidades de ‘switch’, vans, carros de equipamento e apoio. Ruas mais estreitas. Todos de olho em quem seria o campeão de domingo.

Os funcionários das emissoras e empresas de promoção tomam de assalto a padaria mais próxima no domingo de manhã. Fome de leão: xis de alguma coisa, comida que tenha carne, vale abrir mão da dieta e enfiar a cara no refrigerante. Trabalha-se desde quinta, não há quem aguente. Há uma promessa de celebração secreta e interna caso ‘o contrário’ não fique com a taça: música para os patrocinadores, uma legião de gente para alimentar, todas as fornadas das panificadoras num raio de 500 metros comprometidas. 100 ‘médias’, 200 ‘médias’ cada, quem trabalha no jogo, come. A polícia não funciona de estômago vazio. O padeiro não tem tempo sequer de uma rápida visita ao sanitário: levou a pior.

A manhã é tranquila. As equipes de gestão de plateia aglutinam-se em pontos diferentes no interior do estádio para a separação do material, os devidos registros de entrada e as últimas instruções. O aviso é dado: vai ter gente pendurada até nos refletores. Um jogo final não é uma pugna normal.

A nova só fez aumentar a tensão. A incumbência da tarefa destinada é distribuir balões-de-festa, dessas de aniversário, na cor branca, para os torcedores locais. A má notícia: os amedrontadores portões 7 e 8. Completamente sozinho, organizando a entrega de cinco mil bexigas, seus enchimentos a cargo do(a) portador(a) numa prévia coletiva de um teste de bafômetro geral e lúdico. Tudo para enfeitar a festa.


O Bar do João, mais tradicional, de arquitetura remancescente e público ligeiramente gasto pelo tempo, é o único fora da catarse. Os demais no largo da Tiradentes com Princesa Isabel mostram o efeito da combinação de álcool e ansiedade. Dentros da fumaça de pólvora, gritam e cantam, a cerveja descendo o esôfago feito água. A vila se inferniza. Muitos ali só vieram para apoiar o time de coração, assistir os 90 minutos nos estabelecimentos locais. Estavam sem bilhete. Hora de se tomarem de uma fúria de arquibancada, ajudar os seus dentro de campo nem que seja ‘no grito’: algo semelhante a ‘se não vai por bem, vai por mal...’.

O ônibus do time anfitrião se aproxima. Grita-se, enfumaça-se, alucina-se. Bandeiras erguidas ao espaço para transmitir boa sorte aos gladiadores, um mar de celulares para registrar a passagem do veículo em direção à entrada externa do vestiário. São três da tarde. Gente do país inteiro empurra o esquadrão. Ou ganha, ou ganha: não há o que errar.

Após a passagem do ônibus, a vez de tomar os lugares indicados nos ingressos. A hora de fazer valer a fama diabólica dos portões 7 e 8. Aos poucos, alguns sacos abertos com os balões vão se esvaziando, outros repondo duas disposições a granel próximas ao corredor de entrada. Cinco mil em sessenta minutos. Pessoas de todas as idades, gente que viu campeonatos inimagináveis, pais levando seus filhos. Dançam, cantam, pulam, gritam: um engraçadinho embriagado de Jundiaí, um outro que resolve ajudar na distribuição das bexigas. Todos, um pouco, no fora-de-si-do-êxtase.

Um sujeito pula a catraca, atropelando uma funcionária responsável pela passagem nas roletas. Alguns seguranças à paisana empreendem atrás do invasor. A tensão aumenta. Um grupo de quatro jovens torcedores tenta entrar com apenas três ingressos. Um habilmente é barrado, e a confusão se inicia.

Um dos amigos começa a xingar o técnico da companhia que administra as catracas. Um segundo-sargento que comanda a guarnição de revista começar a ver que a confusão está do lado de dentro do estádio. Ele toma a entrada do hall que leva até às escadarias e aciona o rádio. O reforço começa a se fazer necessário.

Um outro sujeito, vestido com um antigo uniforme de treino, tenta entrar sem pagar. Enquanto também é barrado, aquele grupo de três amigos que já está dentro do estádio continua a bater boca de forma agressiva, dessa vez com o segundo-sargento, solitário, no lado de dentro dos portões, tentando justificar a admissão do colega brecado por falta de bilhete. Na subida das escadarias, torcedores já embriagados começam a se insultar e um outro grupo de jovens deixa as arquibancadas para se juntar aos três que cercam o praça que comanda a guarnição.

O reforço começa a chegar. Uma multidão ainda por entrar. Nesse ínterim, socos desferidos nas catracas: um exaltado também sem ingresso, e consequentemente obstruído, começa a agredir um funcionário contratado do clube que comanda a equipe de controle de entrada. Azar do agressor: uma ‘gravata’ no melhor estilo ‘polícia-militar’ coíbe a pancadaria. Má sorte em dose dupla: justamente no mometo em que o capitão comandante daquele setor do estádio chegou com demais oficiais e primeiros-sargentos.

Os arruaceiros da escadaria são ‘solicitados’ educadamente a tomar seus lugares nas arquibancadas do gol de entrada. Vários começam a desafiar os policiais que, com absurda habilidade e baixíssimo tom de voz, comunicam lançar voz de prisão caso resistissem. Alguns cabos portavam armamentos com munição de borracha, sinal flagrante de que a cobra fumaria sem problema algum para o destacamento de reforço. Os seguranças à paisana também começam a cercas os encrequeiros e a turma do ‘deixa-disso’ viu que a valentia dos baderneiros terminaria com muitos só sabendo do resultado do jogo na segunda de manhã.

A presença do capitão comandante pôs ordem no comportamento dos desordeiros que deixaram o local antes que o pior acontecesse. Os jornalistas que cobririam a partida se misturam com os demais torcedores naquela entrada: nomes consagrados do rádio, repórteres de campo, rostos conhecidos na tela da TV que, ao vivo, são bem diferentes daquilo que imaginamos. Uns(Umas) mais bonitos(as), outros(as), enorme decepção.

Quantidades excessivas de cerveja consumidas enquanto as equipes perfiladas entoam o hino nacional. Muitos ali já não aguentam uma gota de álcool a mais. A bebida faz descer qualquer critério ou pudor e o ar que se respira antes do início da partida é de muita tensão: qualquer coisa pode se transformar em motivo para agressão.

O amigo impedido de entrar, com a presença do reforço policial, decide se juntar à multidão em torno dos telões nos bares para ver o jogo final. Todos tomam os seus lugares. Os últimos 90 minutos do certame anual.


Trila! Apita o árbitro... A atmosfera daquele momento dava para cortar com a faca. O time da casa, por conta de dois de seus principais astros contundidos e jogando ‘no sacrifício’, entra com nove em campo. Estratégia clara: fechar-se na defesa para encaixar um contra-golpe. O ‘contrário’ toma conta do jogo com excelente toque-de-bola. O estádio, apinhado, nos primeiros minutos, percebeu que o time não estava 100% em condições, tanto que a troca de passes do adversário, de cara, reduziu qualquer possibilidade de ações ofensivas dos anfitriões.

O time da casa se desligou de seus torcedores, de todo o clima de ‘decisão’ e numa abordagem canadense, de uma frieza digna de inverno na Rússia, se fechou em seus domínios e a majestosa troca-de-passes do adversário parecia se mostrar pouco eficiente em termos de costumeira articulação para os mesmos bons resultados que o levaram à final.

Os anfitriões sabiam que, ‘com nove em campo’, diante de um adversário que passou por cima de dois grandes da capital para chegar ali, estavam na manobra certa. Era questão de segurar o touro pelo chifre e deixar o tempo passar.

Aos 23’, a primeira grande baixa: um dos astros do time, contundido na primeira partida da final, sofre entrada no mesmo tornozelo lesionado e deixa o campo. Os anfitriões se reforçam: fiscamente, mais um em condições de jogo. Já não estavam mais com nove, mas dez.

O ‘contrário’ busca com qualidade chegar ao seu objetivo. 1X0 no intervalo garantia meio-caminho andado para pôr a mão no ‘caneco’. Numa das tentativas, a falta de sorte começou a dar as caras: numa finalização, a bola caprichosamente toca a trave e percorre toda extensão do gol próxima à linha, até que o lateral do time da casa despacha a pelota para fora de seus domínios. A torcida paraliza. Mau presságio diante de um oponente que já acumulava 67% de domínio de bola, contra apenas 23% dos anfitriões. Marca digna de um Barcelona...

Seria um jogo difícil, todos sabiam. O visitante jogava com o mesmo grupo há mais de ano, conjunto difícil de ser batido. Os grandes da cidade capital que o digam! A tensão só aumentava. O centro-avante do time da casa fazia o que dava, mesmo com o seu joelho ruim. Já tinha gente ali rezando para que chegasse logo o intervalo de jogo.

Hora de ir ao banheiro. A bexiga já dava sinais de vida. Ao caminhar para o mictório, no salão anexo ao de Mármore, uma TV ligada no jogo. Antes de entrar no WC, parei para ver o vareio que o time da casa sofria. Contudo, a equipe mantinha aquela postura canadense de frieza nórdica. Enquanto assistia, o ‘contrário’ toma um desarme de um menino de camisa branca que imediatamente arma o contra-golpe. Era o que os anfitriões precisavam. Um longo lançamento para o seu avante que, milagrosamente, arma um pique em torno de 60 metros, no melhor estilo Usain Bolt. O joelho desaparecera. Se livra de um zagueiro no caminho e evita o marcador que o acompanha de tomar-lhe a bola. E na saída do goleiro, dá o arremate mortal, indo a pelota parar no fundo das redes adversárias.

Explode o estádio! Com a proximidade das arquibancadas, decibéis ensurdecedores, como um caldeirão que transborda sem a possibilidade de diminuir o fogo que o levou à ebulição. A mesma tensão contida ao longo de quase todo o primeiro tempo quebra as correntes. Nada que segure nada, e ninguém.

Nas celebrações, numa fúria desenfreada de nervosismo e álcool, um rapaz despenca escadaria abaixo. Na ronda, o segurança da entrada do vestiário do time da casa que não podia largar o posto explicou que, nas comemorações, o torcedor escorregou. Viu-se que não havia sinais de uma fratura mais grave e pareceu que os ligamentos do tornozelo ou do joelho (ou os dois juntos) foram afetados severamente. O rapaz chorava de dor. Um amigo havia se deslocado para buscar o socorrista no ambulatório. Corremos com a chefa dos orientadores de volta para a enfermaria a fim de pegar a maca.

Uma multidão desumana e fora-de-si no meio do caminho, bem atrás do gol de entrada. Comunicamos o ocorrido a um dos enfermeiros para conduzirmos a maca ao local do acidente. Ao entrar no ambulatório, uma cena constrangedora: um torcedor deitado em uma das macas, em avançado coma alcoólico, após ter lavado o chão com um vômito avermelhado.

A condução da maca foi acompanhada pelo enfermeiro e pelo médico. Contudo, o socorrista e mais um amigo já haviam deslocado o acidentado até o ponto bem atrás do gol de entrada, lotado, sem espaço para nada, com muita gente exaltada pela bebida e pelo nervosismo do primeiro tempo da partida.

O torcedor, muito machucado pelo tombo, foi encaixado na maca ainda de pé, para depois ser transportado na posição horizontal. Uma tristeza se abatia nos membros socorristas: ninguém ali abriu sequer um espaço para ajudar o acidentado. Ninguém. Bons tempos aqueles que na presença de uma pessoa recebendo cuidados médicos se fazia de tudo para não atrapalhar os trabalhos. Hoje em dia, ... não estão nem aí. Continuaram bebendo, gritando, xingando, se acotovelando, literalmente, e ninguém se solidarizou. Foi entristecedor. Deprimente. A vida humana é nada nos dias de hoje. A grande verdade do século XXI: “para que eu triunfe, que o outro morra”.

Exceto pela sempre doce Vilminha, torcedora-símbolo e um rapaz que se compadeceu dos esforços de socorro em meio àquele caos, ajudando a levar o acidentado, na maca, para o vestiário da arbitragem. Ali, os primeiros exames do médico sob os urros de dor do rapaz. Um funcionário da assistência interna do clube foi comunicado: “levem ao pronto-socorro para radiografias”. Fim de jogo para aquele torcedor.

De volta aos portões 7 e 8. Mais bebedeira no intervalo. Um grupo de jovens à porta do salão do bar conversam antes de retornar às arquibancadas para o segundo tempo. Os demais amigos ocupam seus lugares, mas um casal permanece ali.

O segundo tempo começa. A tensão por causa de um placar tão apertado se inicia. 45 minutos derradeiros da competição. O casal continua no mesmo lugar, aos abraços e beijos. Sozinhos, se enlaçam com ternura e carinho tremendamente estranhos para aquele inferno que tinha sido até o intervalo. No mínimo, inusitado. 15 da etapa final e o casal abraçado, confessando ao ouvido o que pareceu ser juras de amor, ou um pedido de desculpas, do quanto um gosta do outro. Uma reconciliação? Não sei. O que ficou evidente era que se gostavam. Quando o amor entra em campo, o futebol pode esperar.

Nada diferente até o final do jogo. O ‘contrário’ continua dominando com seu toque-de-bola, oferecendo algum perigo aqui e ali. Uma cabeçada que atinge o travessão, uma cobrança de falta que exige do goleiro da casa duas defesas seguidas. Até que o astro do time, autor do único gol da partida, é substituído por um centro-avante camaronês. Enfim, o time de casa volta a ter 11 em campo.

Com força renovada e mais uma substituição, o domínio do adversário arrefece. O time da casa, com um atacante forte como um rinoceronte, ágil como um guepardo e preciso como um relógio suíco começa a gerar preocupação para o setor de meio do oponente.

Não tarda e o substituto entra numa trama de ataque livre de marcação pelo flanco esquerdo. Após um lançamento para dentro da grande área, o avante recebe livre e acerta o canto cruzado inferior esquerdo do goleiro adversário com uma precisão cirúrgica. Para desespero dos torcedores, num jogo apertado, o bandeira, erroneamente, anula o gol.

Já nos acréscimos, outra ação, dessa vez com o lateral direito que puxa o ataque para a linha de fundo e cruza. Livre de marcação, um outro substituto do time da casa enche o pé, mas isola a bola, mandando-a para as arquibancadas do gol de entrada. Quem não estava nervoso até então, deu adeus à calma. Típico gol que não se perde numa final de campeonato.

Mas já não havia tempo para mais nada. O juiz solta o apito final. O estádio, feliz da vida, sobrevive: solta o grito. Extravasa. Uma entourage entra em campo para armar os equipamentos e demais instalações para a entrega das taças. A torcida vai ao delírio, coisas de celebração coletiva. Ninguém arreda o pé antes da volta olímpica.


A celebração no Salão de Mármore mantém os portões 7 e 8 fechados. Quem desce das arquibancadas tem de se dirigir para o outro canto do estádio, para os portões principais. Uma fileira de policiais mantém a área de acesso aos camarotes VIPs à beira do campo isolada. Os exaltados voltam a dar problema: um torcedor que tinha comprado seis fichas de cerveja, provavelmente para comemorar o título, queria acesso ao bar, que já estava fechado naquela hora, assim como todos os demais ali.

Indignado, volta a vociferar contra os políciais: gritos e insultos. Os ânimos começam a se exaltar outra vez. As pessoas que deixavam o estádio se assustam com o princípio de mais uma confusão. Até que o homem percebeu que no grito não conseguiria nada, já que o gerente do estádio havia confirmado que todos os bares estavam fechados naquele momento. Hora de ir embora e comemorar o que precisava ser comemorado em algum lugar da cidade.

Uma equipe de uma produtora independente responsável pela produção de um programa na linha ‘polícia o dia inteiro’, exibido numa emissora nacional com sede na capital, tenta, por conta de uma ‘pulseirinha’, entrar na área VIP para melhor tomada de imagens da entrega da taça de campeão. Infelizmente, a cor de identificação não permitia acesso a essa parte do estádio. O desapontamento os irritou.

Continuaram na área dos portões, atrás da linha de policiamento. No meio da multidão, um casal com um bebê no colo. A equipe pára os três para tomadas de imagem e depoimentos. Perguntas sobre o jogo e se não tiveram medo de levar uma criança tão pequena, quase uma recém-nascida, para um jogo final, em meio a tanta gente alucinada, fora-de-si. Gravação encerrada. E os seis tomaram seus rumos.

Já com o estádio vazio, as equipes de serviço dentro do estádio se reúnem para a devolução de equipamentos e recebimento da féria. Comentários gerais e das ocorrências que cada um teve ao longo da tarde. Alguns falam sobre o jogo, outros que torcem pelo time da casa finalmente livres para comemorar o título em algum lugar.

O corpo moído, pela tensão, pelo esforço, uma exaustão se aproxima. Várias equipes recolhendo equipamentos do gramado. Antes do apagar das luzes, quem pediu à santa tem de pagar promessa: uma volta de joelhos em torno do retângulo de jogo. Carrega nas mãos o ícone de sua fé, esforça-se para o cumprimento do trato. A santidade tinha duplamente feito sua parte do acordo. O fiel de olhos fechados completava o itinerário em oração.

Sobre o chão, balões de borracha vazios, copos de plástico, papel picado. Um cartaz escrito à mão: ‘Mamãe me liberou hoje’. À noite, jantares de Dia das Mães, ou almoços atrasados, felizes com o resultado do jogo. Ou do campeonato.

Em meio ao silêncio, o pensamento vai como fumaça ao vento na involução dos comportamentos. Ou comportamentos que sempre foram esses mesmos, de alucinação e indiferença, um completo desrespeito e agressividade, e nós nunca os vimos. Fácil de enxergar, mas difícil de aceitar o que chamamos de ‘semelhante’. Os seres humanos fingem ser unidos, ou solidários. Basta uma aglomeração regada à bastante cerveja e que se dane o próximo.

Ninguém escapa a isso: ‘se não for do meu jeito, ...’. Todos devidamente insultados: funcionários, equipes de apoio, policiais. Que bom que todos ficaram felizes. Alguém deve ter se divertido. Pessoas de conduta ilibada podem, sob certas circunstâncias, chegar a um certo ponto difícil de acreditar.

O craque do time está à porta de acesso interno do vestiário da equipe da casa a dar entrevistas. Convocado para a seleção, todas as emissoras fazem fila para uma ‘sonora’. Pareceu que o tornozelo não doía mais. Sorriso estampado no rosto para pau-de-luz e câmera ligados. Ouvem-se os sons de cantoria e comemorações lá dentro. A festa promete...

Hora de passar o cadeado no portão. Para alegria de alguns, e azar de muitos, o time da casa renovou por mais 365 dias o escudo da federação estadual em seu uniforme.

O corpo demorará três dias para se livrar das dores musculares.

O campeonato acabou.

Ano que vem, tem mais.



Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,

leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO


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