Há semanas, nessa combativa Mercearia, que a página em branco é um martírio... ... sem assunto por perto.
Em outras, é Messi perdendo pênalti, PP e PSOE que não chegam a um acordo na Espanha, fregueses e freguesas perdendo o emprego, uma localidade que caminha a passos largos para a indigência.
E depois de sete dias contados da quase inauguração (ou de sua inauguração efetiva!) do FENAIDEJ, vamos que vamos na abertura dos trabalhos da FEINIDEJ (Festival Internacional das Ideias de Jerico).
Essa criativa Mercearia sugere a seus(suas) fregueses(as) um pouco de imaginação para o seguinte cenário. Dois pontos:
Imaginemos que “Tupiniquim: o Paraíso das Commodities”, membro retumbante do Mercosul, consulte a população (e somente essas pessoas!) das regiões do Vale do Jequitinhonha, Vale do Ribeira e da nossa querida cidade de Cubatão sobre a permanência do país no trepidante bloco econômico supracitado.
Chutem qual seria a resposta...
Não precisa ser gênio, ou ‘bidu’, para saber que as benesses de tal congraçamento comercial-alfandegário não protege a população dessas localidades de entrarem com ‘la derrière’ nessa transação ‘caracu’ com o poder central, onde o governo federal só entra com a cara, ...
Transferindo a efeméride proposta pelo exemplo imaginativo aqui proposto, passemos para os condados que formam Yorkshire, norte da Inglaterra, quase divisa com a Escócia.
Condados prósperos nos anos 1960, 1970, por conta da grande concentração de siderúrgicas na região. Lugar mais rico no Reino Unido não havia. Era uma dinheirama de dar gosto. Até que...
Os chineses, com a promessa de mão-de-obra mais em conta, passaram o canto sedutor da ‘mais-valia’ e as indústrias se mudaram para pontos remotos do planeta. Desde então, essa região da Inglaterra, um tanto populosa, virou uma espécie de ‘Cirque-du-Semaforréil’ com muito bombom, chocolate e cocada no tupperware para ajudar nas despesas lá em casa.
Soma-se quase meio século de ‘perrengue’ e tentem imaginar se alguém lá tem paciência com algo semelhante à União Europeia.
A saída do Reino Unido da UE através do plebiscito da última quinta-feira se deve a dois aspectos somente: problemas internos históricos e uma sacada de mestre do ex-prefeito de Londres.
Qualquer coisa que saia muito disso, cuidado: blá-blá-blá de perdição e uma vontade intestinária de encher linguiça.
Há um racha financeiro e social no referido país entre o sul (Londres) e o norte (cidades dos condados de Yorkshire, como York, Nottingham, entre outras). O sul paga de ‘gatinho’, ‘international’, surfando na UE para mostrar seus dotes turísticos (entre outras bossas) enquanto o norte passa sufoco a maior parte do tempo.
Algo parecido com um sofrimento em Cubatão para que Jurerê Internacional seja Jurerê Internacional. Certo?!
Acontece lá o que acontece aqui: períodos continuamente extensos de classe política de costas para a população. Costuma dar uma merda daquelas...
Qual o resultado?! “UE...?! Hã?!”.
Blocos econômicos são feitos para todo mundo se dar bem. Formar uma UE com República da Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Albânia, aquele ‘rolezinho’ do leste europeu, todos sempre com o pires na mão, transformando o tal empreendimento no playground da Alemanha, ‘peraí’... tem alguma coisa errada! É bloco econômico ou arrastão?!
O tal referendo da quinta passada foi uma jogada de mestre do ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, rival ensandecido do atual Primeiro-Ministro David Cameron. Nas últimas eleições, o Partido Conservador conseguiu a maioria dos assentos no Parlamento, mas estava rachado quanto à escolha do Premier.
Alinhavaram ‘nas coxas’: o acordo de 2013 era permitir Cameron como Primeiro-Ministro, mas a moeda de troca seria o tal ‘referendum’ em 2016 quanto à permanência do RU na UE. Palmas para Johnson! Jogada de mestre!
Boris Johnson não entrou na campanha pela saída do RU à toa: ele sabia que o norte da Inglaterra, mais País de Gales, meteriam o ‘loko’ na hora de decidir. Era uma bomba-relógio no colo de David Cameron. Enfim... a bomba explodiu!
E pulverizou o atual Primeiro-Ministro politicamente, abrindo caminho total e completo para as pretensões de Johnson. Não é à toa que a versão original de “House of Cards” (transmitida toda terça-feira, às 22 horas, na TV Cultura) é da BBC.
Johnson conhecia bem a insatisfação da população da região norte do país diante do abandono costumeiro de Downing Street, 10, às vicissitudes que a galera lá sofre. Essa lusófona Mercearia, inclusive, sugere um encontro histórico: ele com Eduardo Cunha.
Os dois são muito bons de serviço...
Há o crescimento da ultra-direita xenófoba na Europa? Há. E não seria diferente no Reino Unido. Porém, tal argumento é cortina de fumaça (como sempre!) para os reais motivos que promoveram as ‘surpresinhas’ da última semana.
Assim, se alguém pintar no pedaço relacionando a saída britânica da União Europeia única e exclusivamente à xenofobia, poupem suas energias: entreguem-se à leitura dos clássicos, ou alguma revista Capricho, Caras, Quem, catecismos do Carlos Zéfiro, que é mais negócio...
Caso contrário, ficaria difícil explicar Zygmunt Bauman como chefe do departamento de sociologia da Universidade de Leeds, ou o recém-empossado prefeito de Londres responder pelo nome de Sadiq Khan. Certamente, alguma coisa não se encaixaria.
De fato, o Reino Unido nunca fez, assim, ‘tãããããoo’ parte da União Europeia. Quem nunca assumiu o Euro como moeda única padrão e não assinou o Tratado de Schengen, na verdade, não pertencia, para valer, a tal bloco econômico-diplomático.
Portanto, o Reino Unido saiu da União Europeia?! E... nada! Tudo continuará como era antes: passaporte na UK Border, um monte de perguntas em guichê de aeroporto, cash-passport em libras esterlinas... tudo como sempre foi. A volta das barreiras alfandegárias e uma dificuldade tremenda para os moradores de Gibraltar em aproveitar aquelas ofertas ‘da hora’ em algum supermercado na Espanha.
Por que “much ado about nothing” em torno da saída do Reino Unido?! Desconhecimento, talvez. A relevância (ou o impacto) da saída é bem relativa. A idéia de jerico em torno da UE se deve a dois outros pontos.
A Europa ainda não superou (e/ou equalizou) as questões pós Segunda Grande Guerra. Para nós, em “Tupiniquim: o Paraíso das Commodities”, imaginamos os franceses como rivais dos ingleses, mas a enorme desconfiança tanto dos ingleses quanto dos europeus em geral é com a Alemanha e a Rússia. Com esses, sim, quase todo o continente tem um ‘pé atrás’ gigantesco.
Os ingleses até se dão com os franceses, mesmo com as rixas de outrora, por incrível que pareça. Eles batem mesmo ‘de frente’ é com os alemães. Ao menor sinal de que um bloco econômico pode virar um convescote germânico, os ingleses não medem consequências em ‘dar o contra’.
Isso mexe com um entendimento da necessidade de paridade para se formar um bloco econômico. Ou todos estão no mesmo pé de poder financeiro ou, então, é isso que está aí: os países do norte europeu têm poder de fogo e os demais catam migalhas e chupam o dedo.
Não há equilíbrio para a formação de um bloco: são inúmeras as diferenças culturais e de ‘visão-de-mundo’ que precisam ser transpostas. É preciso muita conversa antes para se adotar uma moeda única, o fim das barreiras alfandegárias, a queda das fronteiras, a formação de um exército e governo únicos.
O jerico bate suas orelhas diante de um empreendimento que funciona razoavelmente mal, com metade de seus participantes vendendo o almoço para comprar a janta. E da não percepção de que, de repente, o projeto pode não dar certo.
Saber recuar. Entender que, eventualmente, não rolou. Ter a coragem de assumir que não deu. Foi legal a tentativa, mas... não decolou.
E, acima de tudo, todo e qualquer país entender que não dá para ficar de costas para a população quase o tempo inteiro. Um país precisa estar forte financeiramente antes de partir para um bloco do que quer que seja, até ‘bloco dos sujos’.
Se os países não fizerem o ‘dever-de-casa’ antes de qualquer coisa, fica isso aí: um monte de descamisados subservientes aos mais fortes. Bloco?! Nessas bases?! Os mais abastecidos impondo condições toda hora que oferecem ajuda àqueles que passam necessidade?
É possível sentar e ouvir, tentar entender como o outro funciona?! Ou a coisa se resumiria a ‘eu mando, você obedece’?!
O que chamamos de globalização, de repente, nada mais é do que certa velocidade de comunicação e transmissão de dados, certa instantaneidade nos tratos e contatos diários que, realmente, dão uma tremenda impressão de que as distâncias sumiram. Contudo, não possuem força para superar os diversos aspectos culturais e as diferenças existentes em cada canto do mundo.
Globalização não significa o atropelamento daquilo que se é. Não possui esse vigor de transformação, aliás. Não é uma demanda internacional capaz de erigir qualquer inovação que mexa com as estruturas culturais de cada país.
Mesmo que o resultado do plebiscito britânico não tenha sido unanimidade, com um possível sinal de arrependimento ‘a posteriori’, a escolha do Reino Unido pode mostrar algum ‘choque de realidade’ contra um projeto que tem tudo para fazer água.
E essa Mercearia ora fervorosamente para que a UE não inaugure o ‘Livro do Ano’ do FEINIDEJ.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
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