por Chico Marques
Barbara Hershey é uma das mulheres mais bonitas surgidas em Hollywood nos últimos 50 anos.
Dona de um olhar e de um sorriso cativantes, e também de um espírito selvagem que ela jamais fez o menor esforço para esconder, Barbara é o tipo de mulher que, mesmo que não queira, sempre irá nos surpreender com suas atitudes e suas escolhas.
Nascida em Hollywood, California, Barbara começou na TV ainda menina, e logo chamou a atenção por sua beleza na série The Monroes (1966).
Seguiu rapidamente para o cinema, e emplacou seu jeitinho flower-child em dramas barra pesada como Last Summer e The Baby Maker
Toda essa ousadia na escolha dos papeis lhe garantiu alguma notoriedade artística logo de cara.
Mas Barbara infelizmente jogou tudo fora ao casar-se com David Carradine, um dos atores mais problemáticos de Hollywood em todos os tempos, e herdou todo o estigma que ele ostentava em Hollywood por anos e anos de atitudes irresponsáveis e nada profissionais.
Com isso, mesmo sendo considerada linda e talentosa, Barbara ganhou fama de junkie -- culpa de David -- e acabou escanteada do casting das grandes produções por quase dez anos.
Até que conseguiu ressurgir no elenco do festejado The Stunt Man (O Substituto, 1980), de Richard Rush com o fabuloso Peter O'Toole, que fez uma bela carreira pelos festivais de cinema mundo afora e a reabilitou para trabalhar em Hollywood.
Foi quando sua carreira finalmente deslanchou, ainda que como coadjuvante, em filmes como Os Eleitos de Phil Kaufman, Hannah & Suas Irmãs de Woody Allen e Momentos Decisivos de David Anspaugh.
As pouquíssimas vezes em que Barbara foi protagonista em filmes, ganhou prêmios aos montes, como em Gente Diferente, de Andrei Konchalovsky, e Um Mundo À Parte de Chris Menges, que lhe renderam duas Palmas de Ouro de Melhor Atriz.
Passou a maior parte dos Anos 90 fazendo filmes independentes na Europa e na Austrália, onde ainda conseguia ser escalada como protagonista, mas sumiu do mapa na virada do Século 21, retornando apenas em 2010 como a mãe recalcada, louca e assustadora da bailarina interpretada por Natalie Portman em O Cisne Negro, de Darren Aronofsky.
Barbara completou 69 anos de idade no início deste mês bombardeando a imprensa com uma declaração bombástica:
"Hollywood é cruel com atrizes mais velhas. As oportunidades são muito escassas. É um deserto para mulheres da minha idade. Eu odeio dizer isso publicamente porque parece que estou reclamando, mas é um fato"
Por conta disso, seus últimos trabalhos tem sido para séries de TV como Once Upon A Time, que sempre a acolheram bem, desde meados dos Anos 60.
Nesses aspecto, a TV sempre foi muito generosa com atores e atrizes que começaram ali, depois saíram para conquistar Hollywood, e na maturidade retornam.
Saudamos o aniversário de Barbara Hershey escolhendo 6 filmes marcantes em sua carreira, quase todos disponíveis nas estantes da Vídeo Paradiso.
Vamos a eles:
O ÚLTIMO VERÃO
(Last Summer, 1969, 95 minutos, direção Frank Perry)
Três adolescentes -- Sandy, Peter e Dan -- passam férias de juntos em Fire Island, no litoral do Estado de Nova York. Viram amigos inseparáveis, começam a andar juntos o tempo todo e vivem num mundo que é só deles, ao qual os adultos praticamente não tem acesso. Peter (Richard Thomas) é o mais sensível dos três. Dan (Bruce Davison), o mais confiante. E Sandy (Barbara Hershey), manipuladora como ela só, usa sua sexualidade para controlar os dois machos. O que eles três, mais uma quarta adolecente chamada Rhoda (Catherine Burns), irão viver juntos naquela ilha vai revelar tudo de sombrio que existe em suas personalidades e marcá-los por toda a vida adulta. Um drama sensacional, com uma performance impressionante de Barbara -- com jeito de menina mas já com 20 anos de idade.
SUPLÍCIO DE UMA VIDA
(The Baby Maker, 1970, 109 minutos, direção James Bridges)
Tish Gray (Barbara Hershey), uma belíssima jovem hippie, engravidou e teve um filho não-planejado, dai o entregou para adoção. Um casal, cuja mulher não pode ter filhos, a procura e propõe que ela seja barriga de aluguel. Como o filme se passa nos Anos 70, ainda não existe inseminação artificial, a concepção tem que ser feita pelo "método tradicional". O problema é que, durante o acompanhamento da gestação de Tish, ela acaba se apaixonando pelo homem que a contratou para engravidar, e o que deveria ser apenas uma relação negocial vira um triângulo amoroso. Desnecessário dizer que Barbara está sensualíssima e absolutamente convincente nesteo papel, que não é nada fácil.
SEXY E MARGINAL
(Boxcar Bertha, 1972, 88 minutos, direção Martin Scorsese)
Durante a época da depressão, Bertha Thompson (Barbara Hershey) viu seu pai ser forçado em pilotar um avião em condições precárias e morrer em um acidente. Mais tarde ela liga a "Big" Bill Shelley (David Carradine), um líder sindical, mas na "caça as bruxas" que c6aracterizou a época do macartismo ele era considerado um comunista. Assim, "Big" Bill é perseguido e logo o casal se vê envolvido em assaltos. Este segundo filme dirigido por Martin Scorsese foi bancado pela produtora de Roger Corman, que deu carta branca a Scorsese para fazer o que quisesse, contanto que inserisse muitas cenas de nudez de Carradine e Hershey. Não é um filme memorável, mas é simpático, e merece ser revisto 45 anos depois de ter sido realizado. Principalmente pelas cenas de nudez de Barbara, que está lindíssima.
O SUBSTITUTO
(The Stunt Man, 1980, 131 minutos, direção Richard Rush)
Cameron (Steve Railsback), um fugitivo da polícia, acidentalmente causa a morte de um dublê durante as filmagens. Eli Cross (Peter O'Toole), o diretor do filme, sabendo que ele precisa se esconder, diz a polícia que ele é quem pensavam que tivesse morrido. Em troca exige que ele atue como dublê em cenas cada vez mais arriscadas, fazendo Cameron pensar na possibilidade de morrer durante as filmagens fazendo algo totalmente impossível. Um dos filmes mais brilhantes sobre a natureza da Indústria Cinematográfica, mostrando o quão fascinante pode ser a loucura que move um diretor manipulador e genial. Barbara Hershey está maravilhosa como a atriz principal do filme que também é amante do diretor. Recomendadíssimo.
HANNAH E SUAS IRMÃS
(Hannah & Her Sisters, 1986, 107 minutos, direção Woody Allen)
A amizade e o relacionamento de três irmãs vivendo em Nova York. No dia de Ação de Graças, seus conflitos amorosos e existenciais são evidenciados no meio de um grupo de amigos e parentes não muito homogêneo. Lee (Barbara Hershey) é uma velha pintora casada com Frederick (Max von Sydow), Holly (Dianne Wiest) sonha em ser uma escritora e Hannah (Mia Farrow) é uma famosa atriz, perfeita em tudo na vida, mas cujo marido (Michael Caine) se apaixona por sua irmã Lee. Um dos grandes filmes de Woody Allen nos Anos 80, que mergulha de cabeça no universo WASP novaioquino sem abrir mão do humor judaico implacável que lhe é peculiar -- até porque quem narra o filme é seu personagem, Mickey Sachs, o neurastênico diretor de cinema ex-marido de Hannah. Filmaço.
GENTE DIFERENTE
(Shy People, 1987, 118 minutos, direção Andrei Konchalovsky)
Uma jornalista famosa de Nova York (Jill Claybourgh) decide viajar para os pântanos da Louisiana para escrever um artigo sobre a vida difícil da família de uma prima (Barbara Hershey) que mora por lá. Mas sua "visita" não é muito bem recebida, pois sua prima sente logo de cara o oportunismo e o ego infladíssimo da jornalista. Para piorar, a jornalista leva a tiracolo sua filha viciada em cocaína (Martha Plimpton), e isso acaba gerando uma tensão ainda maior na relação entre visitantes e anfitriões. Tanto Jill quanto Barbara estão excelentes -- mas é Barbara, que está feia, desdentada e com jeito de anumal selvagem acuado, que rouba a cena. Poucas vezes uma Palma de Ouro de Melhor Atriz foi tão justa quanto a que Barbara Hershey recebeu por este filme.
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