“Nada é mais letal contra o ciúme
do que uma gargalhada”
Françoise Sagan
O rapaz tinha chegado há pouco do seu país, a Suíça. Não conhecia nada de São Paulo. Nem ninguém. Veio com uma mala, a máquina fotográfica, a cara e a coragem. Apenas. O outro bem de valor que possuía, não precisou revelar na alfândega: o talento para a fotografia. Imenso.
Consciente disso, passou a visitar as principais agências de propaganda da cidade atrás de trabalho. Numa delas encontrou uma conterrânea, diretora de arte. Foi a sopa no mel. Não só começou a fotografar como, de quebra, ainda arranjou um cantinho para dormir, enquanto as finanças não melhoravam. Virou hóspede na casa dela.
Embora a moça fosse casada, isso não foi empecilho. O marido, paulistano da gema, também era do ramo, um bem sucedido diretor de comerciais. Em pouco tempo ficaram amigos. Os três.
Corta. Seis meses depois, ele já tinha conquistado o respeito do mercado. Como fotógrafo e diretor de fotografia. Agenda lotada, tornou-se dos profissionais mais requisitados da área. Mas continuava morando com o casal.
Fusão para uma manhã de quarta feira. Luz de janela. Suíte do casal. Quinze minutos depois de sair para a produtora, o marido se deu conta de que tinha esquecido os óculos em casa. Voltou.
Ao entrar no quarto para pegar o objeto sobre o criado-mudo, flagrou a esposa e o hóspede na cama na maior confraternização. A gritaria era tanta que precisou quebrar alguns móveis na parede para que sua presença fosse notada. Passado o susto, foram para a sala discutir a relação. Os três.
O marido estava possesso. Passou a maior descompostura na infiel e no amante. Aos berros. Os dois escutaram tudo quietos. Até que a esposa, tentou argumentar com ele, usando a abordagem clichê para aquele tipo de situação. Sorrindo, disse que não havia necessidade de tanto drama. Que todos ali eram maiores de idade e vacinados. Precisavam agir de maneira civilizada. E concluiu:
"Afinal, isso não foi nada, querido...só sexo!"
O marido enganado, então, foi de uma espontaneidade cabal. Numa
explosão de franqueza, encerrou de vez o assunto, e o casamento:
"Isso pode não ser nada pra vocês dois, que são suiços...
Mas pra quem nasceu na Mooca como eu,
cata-cavaco é imperdoável, ouviram?
Imperdoável!"
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.
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