Wednesday, February 15, 2017

AS PAUTAS DE HOJE NO BLOG DO BRAIN SÃO INTOLERÂNCIA, ESTUPIDEZ E PRECONCEITO


As minorias sempre foram relegadas ao segundo plano, não há como contestar essa tese. Antes da segunda metade do século XX, então, a coisa tomava proporções extraordinárias, com sacrifícios de crianças excepcionais, escravização de negros, extermínio de judeus, subjugação total das mulheres, intolerância, discriminação e rejeição ao homossexualismo, absoluto desprezo religioso… etc. Se as pessoas enxergam o mundo atual como o apogeu do preconceito é porque não têm o hábito da abrir os livros de história. A intolerância hoje é uma brincadeira de boneca se comparada às “brincadeiras de médico” do passado.

Mas isso não nos exime de lutar para que o mundo se livre de todo e qualquer tipo de preconceito. Acontece que as previsões mais otimistas indicam que essa realidade ainda está muiiiiito distante. É possível que o Palmeiras ganhe um mundial antes disso.

Apesar de alguns exageros cometidos por representantes de certas políticas sociais, que contestam “apropriações culturais indébitas” ou que pregam a contratação de psicólogos, nutricionistas, professores de canto e de balé para estupradores com ficha corrida de 17 assassinatos, o assunto tem sido tratado com responsabilidade e empenho. Mas esse é um processo de transformação cultural que não depende apenas de decretos e leis mas sim de conscientização, e isso é tarefa do tempo.

Mesmo com a gradual extinção do coronelismo e dos resquícios das ditaduras políticas… e também dos valores distorcidos das antigas estruturas familiares, ainda existem arestas de preconceito, prejulgamento e intolerância que continuam a alimentar o ódio e as hostilidades.

E é na mídia que mais nos arranhamos nessas arestas, seja ela informativa ou comercial. E é nas redes sociais, e na pouca habilidade de seus usuários quando expostos a essa mídia, que o ódio é destilado com mais frequência e as hostilidades colocam suas cabecinhas para fora dos buracos digitais.

Não gostaria de falar de jornalismo porque está cada vez mais difícil dissociá-lo da política. E a política anda polarizada demais para se tratar de assuntos tão polêmicos como desigualdade e intolerância. Por isso, vou falar de publicidade.

Mesmo com o esforço das novelas e séries em indicar negros para papéis de personagens bem sucedidos ou descolados social e culturalmente, a televisão ainda é o maior reflexo dos estilhaços do preconceito e da segregação.

Na publicidade, por exemplo, quando se quer caracterizar um consumidor de um determinado produto, mesmo que não seja um produto direcionado ao público de alto poder aquisitivo, jamais se vê um negro fazendo o papel desse consumidor. Aliás, os negros, em 99% dos casos, só atuam como empregados ou serviçais.

Sem contar, é claro, com os absurdos cometidos sistematicamente, como o de um shampoo Dove americano que mostrava, num anúncio de revista, uma negra com cabelo armado logo abaixo do título “Before” e uma loira de cabelo liso com a palavra “After”.

Uma breve ressalva para um movimento na Bahia, no final da década de 90, que reivindicava cotas para que negros tivessem um percentual garantido de participação como “figurantes” em publicidade. Lembro que acabou virando exigência legal, mas não sei se durou por muito tempo. Num estado com mais de 70% da população entre negros e pardos, uma figuraçãozinha é o mínimo do mínimo que a mídia poderia ter concedido. E ainda teve muito cliente perguntando assustado depois de assistir ao seu filme publicitário: mas por que um negro no meu comercial?

E isso não é privilégio dos negros. Um ator amador oriental, amigo de um amigo, tentou entrar no mercado publicitário mas desistiu porque só era chamado para fazer papéis bizarros, com estereótipos preconceituosos, ou para representar um produto ruim, falsificado, o Xing Ling do mercado.




O Brain é um personagem virtual
que para muitos é de uma realidade espantosa.
O pessoal da agência de publicidade que recebe
semanalmente os seus textos datilografados (acreditem)
jura que nunca esteve frente
a frente com o articulista.
A ilustração que mostra o personagem é baseada
nos depoimentos do porteiro do prédio da agência
que o descreveu fisicamente para que
o ilustrador pudesse caracterizá-lo.
O porteiro diz que todo domingo
esse sujeito estranho, de gravata borboleta,
entrega o seu envelope com alguns textos.
São textos sobre publicidade e comunicação em geral,
mas sempre com teor crítico, irônico
e às vezes até um pouco petulante.
Foram esses traços de personalidade
que fizeram a agência dar o nome
de Brain ao nosso protagonista.
E criar um espaço para ele que se manifestasse
com suas opiniões polêmicas e comentários ácidos.
O Brain escreve toda quarta aqui no Leva um Casaquinho.
Isso se o porteiro do prédio não esquecer
de entregar o envelope lá em cima,
na agência.





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