Monday, July 11, 2016

CADERNO DE VIAGENS DE FÁBIO CAMPOS: OREGON



Nunca havia cogitado uma viagem ao Oregon até que uma grande amiga de adolescência se casou e se mudou para Portland. Como ela deixou um convite para visita-la, confirmei se o convite estava de pé e planejei uma viagem.

A única informação que eu tinha era que Portland é a cidade com o maior número de cervejarias artesanais do mundo, o que não deixa ser um bom cartão de visitas. Como estaria com locais não me preocupei em buscar mais informações, deixei pra me surpreender.



Na chegada, aproveitando as credenciais da cidade, já fomos direto para uma cervejaria que servia umas cervejas avinagradas, com sabor de frutas, bem azedas. Não é todo mundo que gosta, mas eu gostei bastante. Tomei também uma cerveja curiosa, uma stout, com aquele cheiro de café e sabor característicos, mas, clara, com uma coloração alaranjada escura. É engraçado pegar o copo, dar um gole e sentir um sabor que não combina com a expectativa.



A cultura de cerveja é tão forte na região porque o clima possibilita que plantem o próprio lúpulo, dispensando a importação e barateando a produção. A quantidade de cervejarias e a variedade de cervejas que encontrei foi impressionante. Cada bairro, cada cidadezinha, tem sempre mais de uma cervejaria artesanal sempre com uma enorme variedade de tipos. As únicas de lá que já encontrei no Brasil foram a Basecamp a Rogue, que é razoavelmente conhecida aqui e tem uma variedade insana de cervejas. Já havia visto aqui uma de manteiga de amendoim e banana e lá encontrei muito mais. Havia uma feita com soba, um tipo de macarrão japonês, uma com goiaba e maracujá, uma larger com jalapeno, as IPAs com 4, 6, 7 ou 8 tipos de lúpulo e muito mais. Haviam 38 tipos diferentes no lugar que visitei.



Aproveitando o feriado de Memorial Day fomos a Cape Disappointment, em Washington, o estado vizinho. Apesar do nome não nos desapontamos, o lugar recebeu esse nome porque depois de uma tempestade, um comerciante de peles inglês fez seu barco retornar naquele ponto, deixando de descobrir rio Columbia, que ficava logo a frente. Na volta passamos por Astoria, uma cidade simpática, onde Goonies foi filmado. Lá fomos a mais duas cervejarias e tomei a melhor IPA da minha vida, a Ichiban IPA, produzida pela Astoria Brewing Co. Descobri também um novo recipiente de cerveja, o grawler, uma espécie de garrafão que contem meio galão.



A região tem uma forte presença agrícola, é só se afastar um pouco de Portland e as fazendas, muitas delas orgânicas, já começam a aparecer. A gastronomia também é bem variada, desde sanduiches até restaurantes que fazem fusão com culinária de outros países. Fui a uma sorveteria, a Salt & Straw,, que tinha filas que viravam a esquina. Mais uma vez dei de cara com sabores inusitados, como pera com roquefort (delicioso, por sinal), queijo de cabra com marionberry e pimenta habanero, lavanda e mel, azeite e alguns mais tradicionais.

A cidade tem uma população bem jovem, muitos com a aparência hipster, até no aeroporto tem uma barbearia... As áreas degradadas estão sendo revitalizadas tendo como objetivo os jovens. Passei por vários prédios em construção ou recém construídos que focavam solteiros ou casais sem filhos.

No rio Columbia, que cruza Portland, é possível ver ancorado o submarino usado no filme Caçada ao Outubro Vermelho, que está aberto a visitação.



A região tem uma grande variedade de cachoeiras. Tem pra todos os gostos, pequenas, grandes, facilmente acessíveis ou acessíveis somente através trilhas mais longas. O volume d’agua varia muito, no inverno é bem baixo e no ápice do degelo atingem o maior volume. Num dia devo ter visitado umas oito cachoeiras diferentes, todas bastante acessíveis. O ponto alto foi Multnomah Falls, a mais alta do estado, realmente muito bonita.

Descobri que cachoeiras com o nome de Véu de Noiva não são exclusividade do Brasil, lá também tem Bridal Veil.



O estado tem praias, as que visitei ficam a mais ou menos uma hora e meia de Portland. Visitei duas praias, Cannon Beach, que também aparece nos Goonies, e Sunset Beach.

A rotina de ir à praia é completamente diferente da nossa. Mesmo com temperatura elevada venta muito, um vento frio. Segundo me disseram eu fui num dia particularmente agradável, mas tive que me proteger do vento numa barraca. Essa é outra particularidade da ida à praia, a parafernália que nos acompanha é incrível, barraca, cadeiras, churrasqueira a gás, botijão de gás, lenha, fora a comida. Como carros são permitidos em algumas praias, é comum ver verdadeiros acampamentos ao lado de carros estacionados, inclusive com fogueiras. Já quem tem fogueira tem também o tradicional marshmallow assado. Comi um smore, uma espécie de sanduiche feito com duas bolachas recheadas com chocolate e marshmallow assado.

Muito bom!



Como há muita área verde existem vários parques estaduais com trilhas e estrutura para piquenique. Fizemos um piquenique em Trilliun lake, um lugar delicioso, com uma bela vista do Mont Hood, um vulcão ativo, mas em repouso, que pode ser visto desde Porland. Como estava bem quente deu pra nadar no lago, mesmo tendo o monte coberto com bastante neve à frente.

O Oregon não vive só de cerveja, tem uma vibrante indústria vinícola, a ponto da continuação do livro Sidways (que virou o famoso filme de 2004), Vertical, se passar lá. É impressionante a quantidade de placas indicando vinícolas na região. Visitei duas, a Sokol e a Domaine Serene. Os Pinot Noir são os carros chefe, mas existem outros tipos. Nos dois casos tudo me pareceu bem mais tranquilo e agradável que o Napa Valley, com suas legiões de turistas.




Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.




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