Quando surgiu nas manhãs da TV Globo do início dos Anos 1980, TV MULHER era um programa absolutamente inovador.
Nunca antes da história deste país (opa!) um programa feminino de TV teve a audácia de tratar sem firulas questões femininas realmente relevantes, como aborto, sexo anal, sexo oral, sexo grupal, etc. -- que até então eram consideradas tabu.
Conduzido por Marília Gabriela, com participações de Ney Gonçalves Dias, Clodovil e Marta Suplicy, TV MULHER ia ao ar ao vivo dos Estúdios da TV Globo na Praça Marechal Deodoro de segunda a sexta durante duas horas para quase todo o Brasil, e dava picos de audiência em várias praças.
Pois bem: 35 anos se passaram desde então, e TV MULHER agora esta de volta desde o início de Junho pelo Canal Viva.
Novamente apresentado por Marília Gabriela, o programa aborda durante 30 minutos temas da agenda feminina -- como sexo, mercado de trabalho, direitos e deveres, relacionamento e moda, e ainda variedades -- sob uma perspectiva bastante
semelhante à do antigo programa.
Aliás, semelhante até demais.
Aliás, semelhante até demais.
Nas palavras de Gabi: “Estou fazendo o TV MULHER como um acerto de contas da mulher que me tornei e o que foi a minha vida. Tinha 11 anos de TV, era repórter, já tinha feito um monte de coisas e o Nilton Travesso advogou em minha causa com Boni para que eu fosse apresentadora. Voltar para o programa hoje é muito importante para mim. Me faz uma pessoa mais inteligente, exige de mim uma compreensão maior do que foi o TV MULHER e do que representaram esses 30 e poucos anos na vida de todas nós, brasileiras. É um exercício extraordinário. Fico até comovida quando falo do programa e de estar aqui hoje"
Okay, então.
Mas o problema é que o novo TV MULHER não convence.
As pautas do programa são muito fracas e rendem muito menos do que o esperado.
O tom dos comentários sobre assuntos ligados a sexo a afetividade soa inadequado para os dias de hoje, lembrando às vezes as intervenções pseudo-libertárias que a ex-editora Rose Nogueira e ex-colaboradoras como Irede Cardoso defendiam na década de 80, ainda sob a inspiração das conquistas feministas dos Anos 60 e 70.
O tom dos comentários sobre assuntos ligados a sexo a afetividade soa inadequado para os dias de hoje, lembrando às vezes as intervenções pseudo-libertárias que a ex-editora Rose Nogueira e ex-colaboradoras como Irede Cardoso defendiam na década de 80, ainda sob a inspiração das conquistas feministas dos Anos 60 e 70.
Outro ponto fraco do novo TV Mulher são as entrevistas comandadas pelo figurinista Theodoro Cochrane, filho de Gabi. O menino é muito pouco expressivo, suas conversas com os convidados são inofensivas demais, e seguem roteiros extremamente rígidos -- três pecados mortais, que matam o dinamismo que uma entrevista precisa ter para cativar o público.
Theodoro, definitivamente, não tem o menor traquejo para seguir os passos da mãe neste métier.
Theodoro, definitivamente, não tem o menor traquejo para seguir os passos da mãe neste métier.
Claro que TV MULHER tem alguns pontos positivos.
As ótimas participações da jornalista econômica Flávia Oliveira são extremamente bem colocadas e dão ao programa o contato com o momento atual que falta nele a maior parte do tempo.
As excelentes crônicas de Fernanda Young, sempre irônicas e bem-humoradas, servem para quebrar a sisudez imposta por Gabi ao longo do programa.
Mas o melhor de tudo mesmo é quando TV Mulher contrapõe matérias clássicas da década de 80 às matérias atuais do programa.
As ótimas participações da jornalista econômica Flávia Oliveira são extremamente bem colocadas e dão ao programa o contato com o momento atual que falta nele a maior parte do tempo.
As excelentes crônicas de Fernanda Young, sempre irônicas e bem-humoradas, servem para quebrar a sisudez imposta por Gabi ao longo do programa.
Mas o melhor de tudo mesmo é quando TV Mulher contrapõe matérias clássicas da década de 80 às matérias atuais do programa.
Esse contraponto é perigoso para o programa, pois mostra claramente como era corajoso fazer um programa assim ao vivo naquela época e como ficou cômodo fazer o mesmo hoje em dia, pré-gravado e totalmente editado para caber em 30 minutos.
Para encerrar, o que mais irrita no novo TV MULHER é uma certa misanderia, que pontua o programa do início ao fim -- que talvez até fizesse sentido nos Anos 80, mas hoje não faz mais, e insistir nela agora equivale a apostar numa atitude velha e rançosa.
Meu conselho: se TV MULHER não quiser ganhar o apelido de TV VÉIA, é bom mudar o tom o quanto antes.
PS: Faltou você no programa, Senadora Marta Suplicy... Grave seus comentários nos corredores do Senado mesmo!
Odorico Azeitona pensa em mulher
(pelada, se possível)
24 horas por dia.
Escreve toda semana
sobre sacanagem, putaria e fudelança
(não necessariamente nesta ordem)
para LEVA UM CASAQUINHO
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