Thursday, July 28, 2016

EM DUAS SEMANAS O QUE SE SOFRE O ANO INTEIRO (por Marcelo Rayel Carreggiari)



O ator, apresentador e humorista Jô Soares (José Eugênio Soares, 16 de janeiro de 1938, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro) costumava compartilhar o caso de um conhecido alemão que morava na capital fluminense e não dava o menor sinal de voltar para casa. Logo perguntaram o que fazia ele gostar tanto do país a ponto de ficar. “Mas e aí?! O que há de tão bom por aqui que você não volta pra Alemanha?!”.

“A exculhambassóm”, disparava o amigo.

Essa olimpíca Mercearia evita se enfurnar nas efemérides do momento, mas depois de tanta gente se mandando da ‘Cidade Olímpica’ por conta das ‘humilíssimas’ instalações (dá para se ouvir a voz de Elizeth Cardoso ao fundo: “(...) barracão de zinco/ tradiçããããooo do meu paaaaíííííííísss (....)” ), ficou difícil deixar o assunto (e a vergonha!) passar em branco.

Assim, esse respeitoso estabelecimento deixa um aviso ao(à) querido(a) freguês(a) de parar a leitura nesse ponto do texto caso a tolerância a palavrões seja muito baixa.

Tudo bem?! Tem certeza de que deseja continuar?! Pode parar por aqui, sem problemas.

Bom, avisei! Tem certeza?! Ó, lá, hein?! Depois não digam que deixei de avisar...

Vejam, querido(a) freguês(a), o tamanho da ‘jumência’: capricham em fazer quantidades abissais de merda durante 516 anos e agora desejam, por duas semanas, uma aparência de Canadá!

Ora... dá licença!

Se a ‘exculhambassóm’ do conhecido alemão do Jô Soares é algum motivo de orgulho desse ‘easy-going’, “os amiguinhos transadíssimos do universo”, que o(a) brasileiro(a) tem impregnado(a) no inconsciente, por favor... nada de Jogos Olímpicos, por gentileza.

Nem dá... é um montão de dever-de-casa antes de se pensar num troço desses!

Mais da metade do país sem saneamento básico e a sujeitada arruma de fazer Jogos Olímpicos?! ‘Hã?!’. Como assim?! É do Ministério da Saúde largar esse negócio de zika e começar a tratar todo mundo contra uma espécie de esquizofrenia endêmica. Só pode!


Diz a lenda que é de Charles André Joseph Marie de Gaulle (22 de novembro de 1890, Lille, França - 9 de novembro de 1970, Colombey-les-Deux-Églises, França) a autoria da frase de que o Brasil não é um país sério. Lamento, ‘seu’ de Gaulle, mas o mundo não é um lugar sério. Porque se declaram o Rio como sede das Olimpíadas, e sou presidente do comitê olímpico de algum país, anuncio sem maiores pudores: “ ‘Num vô’ nisso aí, não!”.

Citando o lendário presidente do CR Vasco da Gama, Eurico Miranda: “Isso aqui é uma patuscada!”.

Ficou fácil a chefa do time olímpico da Austrália, Kitty Chiller, passar a descompostura no trabalhinho bem ‘meia-boca’ das construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht, talvez acostumadas a fornecer unidades habitacionais para os ‘minha casa, minha existência’ da vida, e embolsar a diferença, mas pouco afeitas à execução de qualquer coisa ‘folha inteira’.


Salve Tim Maia: “Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita” [sic].

O mais espantoso disso tudo é D. Chiller ter ficado quase oito anos sem saber como a banda toca por aqui. Ou de que ela participa de um ‘circo’ onde uma grande potência mundial está prestes a eleger uma peruca, a principal força olímpica é uma ditadura, uns e outros pulam fora de ‘barca-furada’ e o resto do mundo de pires-na-mão. Num cenário como esse, só poderiam ser recepcionados por uma patuscada (alô, Eurico... aquele abraço!) cuja tradição judiciária é vinculada e controlada por empreiteiros.


Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: valem aqui as sábias palavras do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman (17 de março de 1942, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro) que, na hora de apagar o incêndio, afirmou que todas as antigas sedes olímpicas costumavam apresentar a mesma ‘necessidade de ajustes’ encontrada nos jogos do Rio, 2016.

Sim! Até onde se sabe, os boxes dos banheiros nas Olimpíadas de Pequim não tinham cortina. Aliás, a sede chinesa era uma cidade extremamente poluída, entre outras bossas. Tudo isso acaba nos remetendo ao lendário personagem de ‘Fazenda Modelo’, escrito em 1974 por Chico Buarque, chamado Zé das Feridas, que abria a camisa para exibir os hematomas.

Para Nuzman, a desgraça de outrora sempre será uma belíssima justificativa nessa quase-tradição brasileira de ser eternamente ‘meia-bomba’.

Bom, se isso é comum, Kitty Chiller não tem motivos para por a boca no trombone?!

Jogos Olímpicos é presente que se dá a si mesmo(a). Depois de tudo feito, tarefas cumpridas, povo em estado decente, base monetária que preste, inflação de gente, mares despoluídos e saneados, sistema educacional que faz o país, no mínimo, levantar um cascalho, tudo no seu devido lugar, aí, sim... o país se presenteia com um evento desses.

Com tudo ainda para ser feito por aqui, é de se suspeitar que o Comitê Olímpico Internacional deixou o cérebro na gaveta das roupas íntimas ao admitir uma cidade brasileira como sede olímpica. No caso de acordar atrasado, um forte indício de encontrá-lo pelas ruas com uma cueca na cabeça.

O que Kitty Chiller passou em dois dias é o que sofremos ao longo de 365. Mas também seria de se assustar vê-la aos microfones, dizendo: “Agora entendo o sofrimento do povo brasileiro. Sou solidário a vocês”.


Isso tudo me faz lembrar de uma anedota, cuja autoria desconheço, sobre as melhores definições de ‘paraíso’ e ‘inferno’.

DEFINIÇÃO DE PARAÍSO
Paraíso é um lugar onde o humor é inglês, a engenharia é alemã, a gastronomia é francesa, a mecânica é italiana, o amante é brasileiro, tudo isso organizado por suíços.

DEFINIÇÃO DE INFERNO
Inferno é um lugar onde o humor é alemão, a engenharia é italiana, a gastronomia é inglesa, a mecânica é francesa, o amante é suíço, tudo isso organizado por brasileiros.


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO



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