“A mulher e o dinheiro são as únicas coisas sérias da vida” (Noel Rosa)
A Novagência de Propaganda era uma das agências mais charmosas de São Paulo. A começar pela localização, os Jardins, na esquina da Rua Argentina com Av. Brasil. Nélson Biondi e Herbert Levy Filho não brincaram em serviço. Que delícia trabalhar lá! Salários generosos, contas ótimas, pessoas inteligentes e divertidas.
Até a turma do café era criativa. Esse setor, nevrálgico em qualquer agência que se preze, estava aos cuidados de duas figuras carimbadas: Dona Tereza, rainha da copa, e Chiquinho, garçom.
Mulata, olhos vivos, Dona Tereza tendia para a gordinha e, apesar de estar beirando os 60, ainda dava meia sola, segundo ela mesma. Era o deboche em forma de gente. Adorava piada suja e fuxico.
No quesito humor, contava anedotas de corar barbeiro de periferia com tanta naturalidade que não chocava ninguém. E era imbatível nas fofocas. Sua rede de informantes daria inveja ao falecido SNI, o temível Serviço Nacional de Informações. Sem sair da copa, sabia quem estava saindo com quem na agência. E mais: quando e onde!
Por isso, sempre que alguém queria saber das novidades, bastava encostar ao balcão. Dona Tereza fazia o relatório da casa. Com ênfase nos detalhes especialmente sórdidos. A danada.
Outra peça rara era o garçom. Magro, espevitado, cheio de trejeitos, voz esganiçada, Chiquinho tinha o humor ferino e venenoso das bichas pobres. Odiava mulheres bonitas e adorava maledicência.
Depois de servir as xícaras, pouco antes de sair, costumava soltar um comentário ambíguo no ar. Quase sempre engraçado, mas arrasador. Noé Sandino, nosso Diretor de Criação, brincava quando ele entrava na sala, dizendo:
"Oba, tá na hora do café com fel..."
Uma tarde, quando chegou na Criação, Chiquinho viu todo mundo debruçado sobre uma revista Penthouse. Era o ensaio fotográfico de uma gostosíssima atriz americana, que tinha tirado a roupa pela primeira vez. Estonteante.
Nós ficamos na espera. Chiquinho serviu o café e, não agüentando mais de curiosidade, olhou com toda a atenção para a página central, onde a mulher exibia a genitália na clássica pose ginecológica, coisa de dar água na boca.
A foto falava por si. Apesar de não gostar da fruta, o garçom foi de uma honestidade comovente, decretando:
"É...uma xuranha é uma xuranha, tem que respeitar!!!"
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.
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