BRUNA LOMBARDI E CARLOS ALBERTO RICELLI SE REINVENTAM MAIS UMA VEZ
por Julia Trindade de Araújo
para Curitiba Cult
Como o título sugere, esta é uma comédia musical que retrata histórias de amor em São Paulo. A principal proposta é arrancar risadas do público. Lombardi, em entrevista ao Curitiba Cult, afirmou que o filme também é para refletir. Verdade, Amor em Sampa é uma homenagem a todas as pessoas que ajudam a transformar o mundo num lugar melhor de alguma maneira, principalmente por meio do amor. Infelizmente o filme em si não foi tão forte quanto a mensagem que está implícita nele.
A narrativa de Amor Em Sampa se divide em cinco núcleos. São cinco histórias de amor que deveriam se relacionar com os temas “amor” e “transformação” de alguma maneira e ainda se entrelaçarem. O desafio de fazer um roteiro com vários focos narrativos é não perder a fluidez e o sentido da história como um todo. Alguns filmes seguem essa lógica e acabam sofrendo do mesmo problema: New Year’s Eve (Noite de Ano Novo) e Valentine’s Day (Idas e Vindas do Amor), por exemplo.
Não há muita explicação ou desenvolvimento real dos personagens, o que cria uma situação difícil para o expectador, que pode não conseguir se conectar direito com a história. Quando o filme começa a revelar algo interessante sobre um dos personagens, a narrativa muda de núcleo e o ritmo se perde, tornando a história superficial.
Os pontos fortes foram os números musicais, cuja maioria foi bem produzida e divertida. Destaque especial para a atriz Letícia Carvalho, que não apareceu muito na divulgação do filme, mas revelou uma voz maravilhosa. As canções são todas originais e se adaptaram bem às características de cada personagem, até nos momentos mais dramáticos. Em questão de humor, no entanto, poucas cenas não tiveram diálogos forçados ou apelaram para o clichê, que foi o caso do casal gay da trama. Há também cenas com diálogos machistas, mas não crie expectativas para momentos de desconstrução ou “transformação” porque não há.
No final, apesar das histórias não causarem impacto, Amor em Sampa consegue mostrar que o amor se manifesta de várias formas. Pela empatia, pela amizade, admiração e até mesmo dividir a sobremesa com quem você ama.
Lembrando, antes de encerrar, que Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, que fazem os personagens principais, já trabalharam em outros filmes como roteirista e diretor -- entre eles os longas Onde Está a Felicidade e Signo da Cidade.
“AMOR EM SAMPA” RETRATA O LADO COXINHA DA CIDADE
por Celso Sabadin
para PLANETA TELA
Em determinado momento de “Amor em Sampa”, a executiva Aniz, personagem interpretada por Bruna Lombardi (que também é roteirista do filme), faz uma espécie de mea culpa dizendo que há muito tempo tem visto São Paulo apenas de cima, através dos vidros dos grandes edifícios, longe do chão. É este exatamente o grande problema do filme: ele está longe do chão da vida real, posicionado de forma distante nas alturas e no isolamento de frias corporações. Não transpira verdade.
Produzido e interpretado por Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, “Amor em Sampa” retrata a São Paulo dos mega executivos, dos publicitários poderosos, da badalada Fashion Week, dos eventos aos quais se comparece de fraque e vestido longo, do Jóquei Clube e dos jantares luxuosos regados a champanhe. Sanduíche também pode, desde que seja descolado, numa lanchonete da moda na Vila Madalena. Na tentativa de dar um viés popular à trama, existe até a concessão de realizar uma cena na Rua 25 de Março… que também soa falsa com sua produção de figurantes das mais assépticas.
No filme, sempre se fala que o trânsito na cidade é louco, mas sempre de dentro de carros. Ônibus, quando muito, apenas em rápidos e milimétricos takes esparsos. Metrô, sim, mas totalmente vazio. O filme retrata a São Paulo de quem anda de táxi. É uma São Paulo lindamente fotografada, principalmente em suas cenas noturnas, mas cuidadosamente maquiada para que não se veja uma pichação sequer, um desvario sequer da Paulicéia.
Seus personagens são de caráter duvidoso. As mulheres, por exemplo, se vendem barato. Duas jovens (Letícia Colin e Bianca Müller) trocam algumas noites de sexo por uma participação – literalmente – de lixo numa peça teatral. Uma modelo com sotaque interiorano (Miá Mello) troca favores sexuais por corridas de táxi. E se sente poderosa com isso. Um publicitário internacionalmente premiado (Rodrigo Lombardi, convincente num papel difícil), teoricamente o herói do filme, é humilhado e ofendido com violência e agressividade pelos seus iguais quando perde uma conta importante… e intensamente aplaudido, festejado e incensado pelos mesmos, quando a recupera. Um outro executivo (Eduardo Moscovis), calculista e dissimulado, acredita que o dinheiro tudo pode. E o filme lhe dá razão. Sem a menor crise de consciência, vale a ideia que a riqueza e o poder são os únicos valores que contam nas relações humanas. Enquanto isso, os gays (Tiago Abravanel e Marcello Airoldi) são apenas caricaturas.
A grande cidade pode se humanizar? Sim, mas só com a união (ou o conluio?) entre a publicidade e o grande empresariado, única saída proposta por um roteiro onde o povo praticamente inexiste. E, quando existe, precisa trocar seu nome brasileiro por um francês, caso contrário o sucesso não virá, como mostra uma das duas únicas personagens negras do filme (Mi Ma Domingos). A outra é a assistente submissa da poderosa executiva loira de brilhantes olhos azuis. Nenhuma delas aparece no material de divulgação do filme, embora a personagem Conceição tenha importância determinante na trama, inclusive encerrando o filme com uma bela cena. Entre todos estes personagens gravita um motorista de táxi (Ricelli), este, pelo menos, ufa, mais crível. A brincadeira de chamá-lo de Cosmos pra dizer que São Paulo é cosmopolita esbarra no tolo.
“Amor em Sampa”, por vezes, parece um comercial institucional da cidade, o que é até coerente com um filme que se passa nos bastidores de uma grande agência publicitária. Por vezes, flerta com o estilo irônico-musical-chique que François Ozon destilou em “8 Mulheres”. Porém, em momento algum consegue se livrar deste estigma de ver a cidade por cima, longe do chão. Artificial, ele focaliza a capital paulista com um olhar – para usar a gíria da moda – coxinha. O que pode até ser representativo de uma parcela da população que verá o filme nos shopping mais caros da cidade. Mas que nem de longe me representa.
AMOR EM SAMPA
(2016)
Direção
Carlos Alberto Riccelli
Kim Riccelli
Roteiro
Bruna Lombardi
Elenco
Bruna Lombardi
Rodrigo Lombardi
Eduardo Moscovis
Mariana Lima
Tiago Abravanel
Miá Mello
Marcello Airoldi
Kim Riccelli
Letícia Colin
Bianca Müller
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