por Chico Marques
"Oi, Kostenbader!"
Era assim que o jovem Eduardo de Goes Lobo saudava o jovem Marcos Kostenbader Valle no ônibus que os levava ao Colégio Santo Inácio.
Edu, premonitoriamente, vislumbrava naquela saudação seu futuro companheiro de inúmeras aventuras na cena musical brasileira dos Anos 60, ao lado do também ex-colega do Santo Inácio Dorival Tostes Caymmi, o Dori.
Curiosamente, os três nasceram em 1943.
Mais curiosamente ainda, os três viriam a ser, a partir de 1965, 1966, os grandes responsáveis pelo tom da segunda geração da bossa nova.
No início de carreira, os três circularam pelo apartamento de Ary Barroso munidos de seus violões para apresentar ao grande maestro suas canções, até que um dia Roberto Menescal encaminhou Marcos Valle para André Midani na Odeon, e alí começou uma das carreiras mais brilhantes e subestimadas da moderna música brasileira.
Marcos Valle gravou nada menos que 10 LPs na Odeon entre 1963 e 1974. Foi da bossa nova ao pop quase jovem guarda, até chegar a um trabalho influenciado por grupos de rock psicodélico como Yes e Pink Floyd, sempre compondo suas canções em parceria com o irmão aviador Paulo Sérgio Valle. Quem diria que aquele surfista louro meio tímido, que aprendeu piano com a avó e com a mãe alemãs, iria tão longe como músico profissional?
Pois ele foi. E um capítulo à parte da carreira dele foi a TV Globo e a Som Livre. Boa parte das trilhas originais de novelas e programas da emissora realizados no início dos Anos 70 -- como "Vila Sésamo", "O Cafona", "Selva de Pedra" e "Os Ossos do Barão" -- foram compostas pelos Irmãos Valle. A canção de fim de ano da emissora, "Um Novo Tempo", utilizada até hoje, também é deles, em parceria com Nelson Motta.
Marcos Valle tinha o dom de compor rápido. Dava conta das encomendas da emissora, produzia jingles e mais jingles para Agências de Publicidade e ainda achava tempo de entregar um disco anual para a Odeon.
O repertório da dupla é multifacetado e clássico: "Viola Enluarada", "Eu Preciso Aprender A Ser Só", "Capitão de Indústria", "Vento Sul", "Black is Beautiful", "Samba de Verão", "Ainda Mais Lindo", "Garra", "Mais de Trinta", "Mustang Cor de Sangue" e "Meu Herói"
A música plural de Marcos Valle foi redescoberta na Europa em meados dos Anos 80, em meio ao sucesso dos grupos de new bossa como o Style Council e o Everything But The Girl, e com isso seu repertório, que andava bem esquecido aqui no Brasil, começou a ser revalorizado. Isso o incentivou a voltar a gravar discos, sempre em busca de sonoridades modernosas e desenvolvendo um estilo musical que ele próprio tratou de apelidar de jet samba.
Dentro desse espírito musical, Marcos Valle volta a Santos depois de muitos anos trazendo a tiracolo os guitarristas Max de Castro e Moreno Veloso à frente de uma banda que promete surpresas muito interessantes a quem se aventurar a dar uma chegadinha no Teatro do SESC-Santos na noite da próxima sexta.
E você, vai ficar em casa?
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