por Odorico Azeitona
Há pelo menos dez anos eu deixei de acompanhar a Festa dos Oscars. Encheu o saco. Festas corporativas, em geral, são muito chatas. É que cinema tem um certo glamour, e a gente finge que tudo o que o envolve ainda é interessante. Mas não é mais. O Oscar era tolerável quando concorria apenas com a transmissão dos Golden Globes pela TV. Hoje, a quantidade de premiações de cinema é tamanha que até o Sindicato dos Continuistas deve ter a sua Festa. E todas elas são exibidas pelos canais por assinatura. Deve ser irritante ser ator ou atriz nessa época do ano, não poder assumir compromissos de trabalho, não poder sair em férias, e ter que viver dois meses seguidos -- desde os Golden Globes até a Noite dos Oscars -- na iminência de ser premiado. Muito, muito chato! Não há quem aguente...
Ah, bons tempos em que Geena Davis e Cher arrombavam a Festa com aqueles vestidos espalhafatosos que desafiavam as leis da gravidade, e Jack Nicholson sentava sempre na fileira da frente logo atrás de seus indefectíveis óculos de sol, e Billy Crystal destilava seu humor implacável sobre as celebridades presentes, e Randy Newman concorria todo ano na categoria melhor canção, mas nunca saía premiado. Hoje, a Academia distribui prêmios para todos na Noite dos Oscars, para evitar as injustiças que cometia no passado quando enchia a bola de filmes ruins como "Dança Com Lobos" ou "Coração Valente" descarregando muitos prêmios numa mesma produção. Acabou. Desde "Titanic", que ganhou 9 estatuetas, isso nunca mais aconteceu.
Hoje, em tempos politicamente corretos, uma festa corporativa como o Oscar fica absolutamente rendida a politicagens e aporrinhações de várias naturezas. Lady Gaga -- sempre ela, meu Deus! -- foi convocada este ano para comandar um réquiem minuciosamente coreografado -- e absolutamente fake, claro! -- para as jovens estudantes que são estupradas por veteranos descontrolados nas festas de calouros nas Universidades Americanas. Teve ainda o insuportável cantor inglês Sam Smith, que se declarou gay durante a cerimônia, como se todo mundo já não soubesse disso.
E o que dizer dessa aporrinhação envolvendo cotas para negros entre os eleitores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood? Acabo de ver no You Tube a íntegra do ao discurso de abertura de Chris Rock na cerimônia de ontem. Tudo bem, o argumento dele é válido, e bem estruturado. Mas já pensou se todo ano tivermos que tolerar filmes como "Preciosa" na vitrine dos Oscars por conta dessa reserva de mercado exigida -- na surdina, claro! -- por Oprah Winfrey e pelos empresários negros que investiram pesado no Pólo de Cinema para Filmes Sobre Negros em Chicago?
Mas não adianta: entra ano, sai ano, e a Festa dos Oscars continua sendo apenas um espetáculo ruim da Broadway, e não há quem conserte isso, pois o roteiro é irremediavelmente engessado e o desfile de estrelas entrando e saindo do palco, que em outras épocas agregou valor à Festa, parece servir apenas para tentar vender a idéia de que aquilo tudo ainda é importante -- e todos nós sabemos que não é faz tempo. Basta ver por todo o Brasil o desinteresse escancarado dos exibidores em manter os filmes concorrentes ao Oscar em cartaz. Na Rede Cinemark praticamente todos os filmes oscarizáveis não estão mais em cartaz, pois "Deadpool" e "Os Dez Mandamentos" expulsaram a todos das salas de exibição da última semana para cá. E durma-se com um barulho desses.
Mas o pior de tudo envolvendo a Festa dos Oscars é a maneira com que os coleguinhas da Imprensa insistem em vendê-la como o Maior Espetáculo da Terra. É de doer! Tudo over demais! Tudo chato demais! O que há de errado em Leo DiCaprio não ter ganho até este domingo um Oscar de Melhor Ator? Leo é um bom ator, mas não é lá tudo isso. Quase todas as cinco vezes em que ele foi indicado, foi através de filmes de Martin Scorsese -- que, diga-se de passagem, nunca foi muito bem quisto em Hollywood. Dessa vez, Leo finalmente ganhou porque não estava defendendo um filme de Martin Scorsese. É simples assim. Só quem não sabe como Hollywood funciona ainda leva essas coisas a sério.
É por essas e outras que eu não perco mais o meu tempo ficando acordado até tarde para ver a Cerimônia dos Oscars. Definitivamente, não vale a pena. É uma festa jeca. E essa gente de Hollywood é muito babaca. Todo ano, a Estação de Prêmios em Hollywood começa com Ricky Gervais colocando toda a comunidade hollywoodiana no seu devido lugar na Festa dos Golden Globes, e termina com o lamê azedo triunfal da Noite dos Oscars. E não muda jamais. Tudo muito, muito chato!
Há de chegar o dia em que todos vão agir com a franqueza arrebatadora de Glória Pires, que foi convocada para comentar a festa na TV Globo e, como não viu boa parte dos filmes concorrentes, nem se deu ao trabalho de disfarçar seu desinteresse implacável pelas premiações.
Quando esse dia chegar, talvez a Festa dos Oscars volte a ser uma premiação séria e digna de atenção. Desde já, Glória querida, conte com a minha total solidariedade.
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