por Pablo Bazarello
para CinePop
Desde que emergiu a primeira foto de Eddie Redmayne travestido em sua personagem de Danish Girl (agora A Garota Dinamarquesa), os cinéfilos fervorosamente apontavam uma nova indicação para o jovem vencedor do Oscar passado (por A Teoria de Tudo). Alguns ainda apontavam que o ator recebeu o prêmio pelo filme errado, de forma precoce. Não deixa de ser um fenômeno o fato de como uma foto pode nos dizer tanto sobre um filme. Uma simples imagem.
Sem preocupação para os mesmos, é seguro dizer que A Garota Dinamarquesa corresponde ao que esperávamos “dela”, e que dificilmente a nova obra do diretor Tom Hooper (que desde que ganhou os holofotes não largou mais o Oscar – com filmes como O Discurso do Rei e Os Miseráveis) não marcará presença na época máxima para a sétima arte.
A trama relata a história real de Einar Wegener (Redmayne), um renomado pintor, casado, vivendo em Copenhagen na década de 1920 ao lado da esposa Gerda (Alicia Vikander). Einar foi também o primeiro homem a realizar a cirurgia de mudança de sexo, se tornando assim icônico e pioneiro para os transgêneros. Você se pergunta: como um homem bem casado, feliz no casamento e psicologicamente bem estruturado deu este grande pulo para decidir se tornar uma mulher? Bem, assim como em todos os casos deste tipo, é algo vindo de dentro, que já nasce conosco e não pode ser reprimido.
Aqui, a coisa surge de uma brincadeira incentivada (ou criada) pela própria esposa do sujeito, igualmente uma artista. Einar começa a ser o modelo de Gerda, pousando para as pinturas da esposa em roupas femininas. Aos poucos a repressão de Lili Elbe, o alter ego de Einar, é eliminada e a garota dinamarquesa vem à tona.
A transformação de Redmayne é impressionante, e não me refiro apenas aos figurinos e maquiagem. A composição de personagem do ator demonstra que ele chegou para ficar no time A de Hollywood e sem dúvida merece estar entre os grandes. A versatilidade e entrega do britânico chama atenção, afinal quantos atores podem exibir duas grandes interpretações consecutivas, em filmes de igual status. No ano em que o casamento homossexual foi aprovado em todo o território dos EUA, filmes de tal temática se tornam uma tendência e alguns deverão figurar na próxima edição do Oscar.
Além de A Garota Dinamarquesa, Freeheld e Stonewall (os três figurando no Festival de Toronto 2015, embora este último tenha menos chance) também abordam vertentes homossexuais, seja o direito igualitário de pensão, mudança de sexo, ou simplesmente a quebra de tabus através da violência. Carol é outro representante, que pode ganhar os holofotes até a próxima edição do Oscar.
Apesar de Redmayne ser o centro e alma, ele não é a única coisa de Danish Girl. Alicia Vikander também chega para ficar. A petit “garota sueca” luta contra estereótipos, mostrando que talento não depende apenas das formas físicas. Com sua estrutura mignon (que aparenta ainda estar na puberdade) e não possuindo uma beleza estonteante, Vikander apareceu para o cinema com O Amante da Rainha, indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Este, no entanto, é o ano divisor de águas em sua carreira, já que Ex-Machina é enaltecido como um dos melhores filmes de 2015, e O Agente da UNCLE não fez feio. Carisma é o que não falta para a pequena atriz.
A Garota Dinamarquesa é emocionante e humano. Pondera sobre questões muito relevantes atualmente, demonstrando que os tempos mudam, mas os conceitos nem tanto. Como nem tudo é perfeito, nos perguntamos o que a “B” Amber Heard faz aqui. Seria já o poder do maridão Johnny Depp fazendo efeito para a cria?
por Davi Gonçalves
para CCINE 10
O cineasta londrino Tom Hooper não é uma unanimidade. Para alguns um gênio, para outros superestimado, é fato, entretanto, que Hooper demonstra total domínio de sua obra no gênero que, definitivamente, é a sua praia: o cinema de época. Não à toa, O Discurso do Rei, de 2010, recebeu 12 indicações ao Oscar, vencendo em quatro delas (incluindo melhor filme e diretor); Os Miseráveis, adaptação do romance francês escrito por Victor Hugo, foi lançado dois anos depois e concorreu em oito categorias, faturando três prêmios. Em suma, Hooper sabe fazer bem aquilo que se propõe a fazer. A Garota Dinamarquesa, seu novo longa-metragem, provavelmente não será muito diferente de seus anteriores: um filme caprichado com ótimas chances de despontar nas premiações da temporada.
Inspirado no livro de David Ebershoff, A Garota Dinamarquesa se passa na década de 20, na cidade de Copenhagen. O filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. A trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda e sua descoberta como mulher.
Fazendo jus aos demais títulos de sua filmografia, Hooper confere bastante sensibilidade à história e, principalmente, um esmero técnico inigualável. Brilhantemente fotografado por Danny Cohen, A Garota Dinamarquesa é uma aula de cinema – desde a direção de arte impecável (que recria com maestria o período e nos faz mergulhar na narrativa) à trilha poética de Alexandre Desplat. Para além disso, os trabalhos de maquiagem e o figurino de Paco Delgado (parceiro de Hooper em Os Miseráveis) agregam muito à produção.
No entanto, A Garota Dinamarquesa pertence inteiramente à sua dupla de protagonistas. Eddie Redmayne se entrega com propriedade à construção (mais uma vez) de um personagem difícil, que passa por inúmeras oscilações no decorrer da fita. De uma sutileza ímpar, sua atuação é tão genial quanto em A Teoria de Tudo (filme que lhe deu, precocemente talvez, o Oscar de melhor ator em 2015 – o que me deixa em dúvidas sobre a categoria neste ano). Em determinado momento, não enxergamos mais Einar, apenas Lili. No entanto, é Alicia Vikander quem mais surpreende: apesar de não ser necessariamente “bela”, ela consegue roubar a cena em alguns instantes. É ela quem enxerga pela primeira vez a feminilidade do esposo e é nela que Einar busca a força para sua transformação – o que não lhe deixa de ser doloroso, pois enquanto tem de ajudar o parceiro, ela deve conviver com a solidão de perder o homem que ama.
Humano, A Garota Dinamarquesa é um filme que talvez não consiga emocionar por completo, uma vez que a condição de Lili para com o mundo à sua volta é explorada de forma um tanto superficial. Todavia, em tempos em que a comunidade LGBT luta com intensidade contra o preconceito, é relevante a produção de obras como esta, que trazem à tona questões que devem ser discutidas – e o cinema está aí para fazer
este papel social.
A Garota Dinamarquesa é cinematograficamente arrebatador e socialmente interessante – perde apenas na ausência de ousadia, que provavelmente geraria um debate maior e mais profundo sobre o tema. Até mesmo porque, infelizmente, os tempos mudam mas muitos pensamentos retrógrados ainda permanecem, né?
Inspirado no livro de David Ebershoff, A Garota Dinamarquesa se passa na década de 20, na cidade de Copenhagen. O filme é a cinebiografia de Lili Elbe, nascido Einar Mogens Wegener, um artista plástico dinamarquês que teria sido a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero. A trama foca o relacionamento do artista com sua esposa Gerda e sua descoberta como mulher.
Fazendo jus aos demais títulos de sua filmografia, Hooper confere bastante sensibilidade à história e, principalmente, um esmero técnico inigualável. Brilhantemente fotografado por Danny Cohen, A Garota Dinamarquesa é uma aula de cinema – desde a direção de arte impecável (que recria com maestria o período e nos faz mergulhar na narrativa) à trilha poética de Alexandre Desplat. Para além disso, os trabalhos de maquiagem e o figurino de Paco Delgado (parceiro de Hooper em Os Miseráveis) agregam muito à produção.
No entanto, A Garota Dinamarquesa pertence inteiramente à sua dupla de protagonistas. Eddie Redmayne se entrega com propriedade à construção (mais uma vez) de um personagem difícil, que passa por inúmeras oscilações no decorrer da fita. De uma sutileza ímpar, sua atuação é tão genial quanto em A Teoria de Tudo (filme que lhe deu, precocemente talvez, o Oscar de melhor ator em 2015 – o que me deixa em dúvidas sobre a categoria neste ano). Em determinado momento, não enxergamos mais Einar, apenas Lili. No entanto, é Alicia Vikander quem mais surpreende: apesar de não ser necessariamente “bela”, ela consegue roubar a cena em alguns instantes. É ela quem enxerga pela primeira vez a feminilidade do esposo e é nela que Einar busca a força para sua transformação – o que não lhe deixa de ser doloroso, pois enquanto tem de ajudar o parceiro, ela deve conviver com a solidão de perder o homem que ama.
Humano, A Garota Dinamarquesa é um filme que talvez não consiga emocionar por completo, uma vez que a condição de Lili para com o mundo à sua volta é explorada de forma um tanto superficial. Todavia, em tempos em que a comunidade LGBT luta com intensidade contra o preconceito, é relevante a produção de obras como esta, que trazem à tona questões que devem ser discutidas – e o cinema está aí para fazer
este papel social.
A Garota Dinamarquesa é cinematograficamente arrebatador e socialmente interessante – perde apenas na ausência de ousadia, que provavelmente geraria um debate maior e mais profundo sobre o tema. Até mesmo porque, infelizmente, os tempos mudam mas muitos pensamentos retrógrados ainda permanecem, né?
A GAROTA DINAMARQUESA
(The Danish Girl, 2015, 120 minutos)
Direção
Tom Hopper
Roteiro
Lucianda Coxon
Elenco
Eddie Redmayne
Alicia Vikander
Amber Heard
em cartaz nas Redes Roxy e Cinespaço
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