Monday, February 1, 2016

DUAS OPINIÕES SOBRE "REZA A LENDA", UM ROAD MOVIE APOCALÍPTICO DO AGRESTE


ENFIM, UM MAX MAX BRASILEIRO

por Sergio Prior
para SÉTIMA ARTE


Só há que se comemorar o lançamento de um filme de ação brasileiro voltado claramente para a grande "massa" de espectadores.

Existem alternativas para o cinema nacional que não as comédias românticas repletas de atores globais e o hermetismo de uma parcela da produção da área.

Não é a toa que "REZA A LENDA" ganhou a denominação de "MAD MAX" nordestino.

O cenário árido do Nordeste abriga a luta entre uma espécie de coronel local (Humberto Martins), que com os seus capangas exploram a imagem de uma santa.

Lucro financeiro, é claro, poder.

Não pense que estamos diante de um filme de Glauber Rocha, muito embora o falecido diretor baiano deva ter sido influência para Homero Olivetto.

Não cogite a possibilidade de adoentarmos no mundo do líder de Canudos, Antônio Conselheiro.

Temos sim Ara (Cauã Reymond), que influenciado por seu pai, vê no resgate da imagem da santa a saída para a seca de sua região.

Com a beleza rústica de Cauã e seus asseclas motoqueiros, a fúria da movimentação através da paisagem pra lá de inóspita, seja para conseguir a imagem da santa, seja para escapar das garras do "coronel" vingativo, as relações de poder são abordadas superficialmente, pois o que interessa é a ação num local belo, a que Deus parece ter virado as costas.

A sequência de abertura demonstra que Homero domina a linguagem dos filmes de ação.

A fotografia, sem esforço algum, merece destaque pois o céu nordestino e de tirar o fôlego.

Personagens secundários como os de Sophie Charlotte, Luisa Arraes, e mesmo o do ótimo Jesuíta Barbosa recebem atenção superficial.

De qualquer forma o filme vale o ingresso.




UMA AVENTURA NORDESTINA INSTIGANTE E CURIOSA

por Carlos Cirne
para COLUNASeNOTAS 


As eternas mazelas do Nordeste brasileiro são o cerne de “Reza a Lenda”: a seca e os desmandos do coronelato na região.

É lá que um grupo de motoqueiros tem que encontrar determinada imagem de uma santa milagrosa que, colocada no local certo, operará o milagre de fazer chover no sertão.

O filme começa com duas amigas viajando de carro à noite, por uma estrada no meio da caatinga, quando uma inconsequente brincadeira acaba tendo um final trágico. E, num flashback, o público fica sabendo como as coisas chegaram até este ponto.

Ara (Cauã Reymond) é o líder deste grupo de motoqueiros que tem como guia Pai Nosso (Nanego Lira), figura messiânica que “adotou” e criou todas estas crianças abandonadas. E este “família” parte em busca da santa.

Alcançam seu intento – ficar de posse da santa -, mas com isso desencadeiam a fúria do coronel da região, Tenório (Humberto Martins, exagerando no minimalismo), capaz de atrocidades impensadas quando tem sua autoridade desafiada. Ele e seus asseclas partem então em busca de sua posse.

O bando de Ara é composto, entre outros, de Severina (Sophie Charlotte) – sua amante, que se incendeia de ciúmes com a presença de Laura (Luisa Arraes) –, e Pica-Pau (Jesuíta Barbosa), descontrolado “irmão mais novo” de Ara.

Eles e mais quatro outros membros vão sendo paulatinamente perseguidos pela fúria de Tenório, enquanto tentam alcançar Galego Lorde (Júlio Andrade), líder à la “Charles Mason” de uma comunidade violenta e hedonista (!) que perambula pelo sertão. Ele pode lhes guiar rumo à realização do milagre.

Impossível não associar este “road movie” brasileiro à já clássica saga de “Mad Max”, seja pela temática pós-apocalíptica (o sertão brasileiro remete às regiões áridas australianas), seja pela estética “motor, poeira e rock and roll”, mas George Miller faz toda a diferença.

O diretor/roteirista (junto com Patrícia Andrade e Newton Cannito) Homero Olivetto estreia nos longas-metragens com um produto muito bem acabado, tecnicamente impecável – quem diria que o eterno problema do cinema brasileiro de décadas passadas, o som, se tornaria um de seus pontos altos -, à frente de um elenco homogêneo e eficiente, com evidente destaque para as estrelas televisivas Cauã Reymond, Sophie Charlotte e Humberto Martins.

Apesar de se basear na estética do agreste, é um filme que não explora a “simplicidade” do povo da região, e que trabalha com signos sofisticados e até improváveis no entorno - não se sabe exatamente o quê os personagens, à exceção do coronel, usam como “dinheiro” para viver.

Tudo isso resulta numa aventura instigante e curiosa. Experimente.


REZA A LENDA
(2016, 87 minutos)

Direção
Homero Olivetto

Elenco
Cauã Reymond
Humberto Martins
Sophie Charlotte
Luisa Arraes
Júlio Andrade
Sílvia Buarque
Jesuíta Barbosa
Nanego Lira


em cartaz nas Redes Roxy, Cinemark e Cinespaço


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