por Fábio Campos
O Quarto de Jack é um filme perturbador. Apesar de ter visto o trailer, não sei se por ingenuidade ou distração, não compreendi o real motivo da mãe e do garoto viverem confinados num quarto. Acho que isso amplificou o impacto do filme, que já é enorme. Por isso, se você não viu o filme, recomento ir ao cinema, assistir e depois voltar aqui.
O filme é duma intensidade absurda e, ao mesmo tempo, a história é contada com tamanha simplicidade que intensifica o seu impacto. Não vou resumir a história, como disse, ela é simples e intensa.
Vou tentar colocar alguma ordem no que passou na minha cabeça durante e depois da exibição. Vou tentar evitar spoilers, mas, qualquer reflexão a respeito do filme vai acabar dando pistas sobre ele.
Apesar da situação extrema, o dia a dia nos vai sendo apresentado de maneira quase rotineira, não muito diferente do de algumas mães. Aos poucos o elemento particular da situação nos vai sendo apresentado, sem maniqueísmos. Somos, literalmente, espectadores de uma situação grotesca - acho que isso é o que perturba mais no filme, assistir a tudo impotentes, ter que aceitar aquilo.
A partir da metade a situação se inverte. O que deveria nos causar alivio passa a causar desconforto. O filme trabalha isso muito bem. Durante os momentos mais desesperadores a mãe age com uma quase normalidade, para preservar o filho. Aquela rotina, e o foco absoluto em salvar a vida do garoto, acaba preservando a sua sanidade, fazendo com que ela aceite o inaceitável.
O que deveria ser alívio, acaba gerando angústia. Como lidar com o julgamento alheio depois de tanto tempo sobrevivendo por conta própria? Como não pensar no tempo perdido? Como lidar com as inúmeras possibilidades de futuro ao invés de se concentrar somente no dia seguinte? Como voltar para um mundo tão diferente daquele que estava na memória?
Algumas coisas me chamaram muito a atenção. A reação dos avós do garoto. Para o homem o garoto é a prova viva do seu fracasso em proteger a filha, algo muito masculino. Para a mulher, ele é simplesmente o neto, que precisa de cuidado. Uma abordagem muito mais generosa, e mais feminina.
Outra coisa interessante é observar que quando colocamos todas as nossas forças em algo, e atingimos esse objetivo, muitas vezes perdemos o rumo. A conquista acaba gerando frustração ao invés do jubilo.
Mas a principal força do filme está em apresentar dilemas da maternidade sem ser piegas. Salta aos olhos como o amor de mãe consegue definir uma imagem do mundo para os filhos. Fiquei pensando que isso pode ser uma dadiva e, ao mesmo tempo, uma maldição. As mães conseguem transformar o mundo em algo agradável e, muitas vezes, podem impor uma visão tacanha e limitante do mundo. Afinal, ignorância, preconceito e brutalidade também nascem em casa.
É, sem dúvida, uma tarefa das mais difíceis e inglórias. Não é à toa que, depois de tudo, a protagonista termine o filme questionando seu desempenho como mãe. Esse é o verdadeiro desafio da maternidade!
Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 49 anos atrás.
desde que nasceu, 49 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábui é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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