Tuesday, February 23, 2016

TODAS AS MULHERES DOS PRESIDENTES



Quem conhece os meandros de Brasília, sabe bem que a relação entre a Imprensa e o Poder nem sempre prima pela lisura. A foto recente da Presidente Dilma posando para um selfie com jornalistas depois de uma coletiva onde ela deveria ter sido posta contra a parede, e, sintomaticamente, não o foi, revela muito bem a promiscuidade que existe nessas relações que não deveriam ser perigosas, mas são. 

É relativamente comum políticos se envolverem com jornalistas. A culpa disso pode ser atribuída ao convívio estreito que eventualmente se estabelece entre, por exemplo, uma profissional designada para cobrir um determinado Ministério para um Órgão de Imprensa e um político com cargo do segundo ou do primeiro escalão do Ministério em questão.

O político que se envolve com uma jornalista em princípio tem muito a perder. Sabe que se o caso ficar público, ele pode ser acusado de vazar informações privilegiadas para a Imprensa. Repórteres não são ingênuas, e que quando topam embarcar numa aventura de alcova quase sempre é no intuito de ter acesso a informações de bastidores inacessíveis aos pobres mortais -- e que podem levá-las a crescer profissionalmente mais rápido.

Claro que diante de um eventual escândalo o tiro vai sair pela culatra: uma repórter envolvida com um político pode acabar terrivelmente estigmatizada em seu meio, vir a ser demitida e nunca mais ganhar confiabilidade para trabalhar em qualquer emissora.


Para quem não lembra, a então repórter da TV Globo Marilena Chiarelli pagou um preço muito alto por ter-se envolvido romanticamente com o Senador Bernardo Cabral ao final do Governo Sarney.

Marilena viu-se em maus lençóis quando foi fotografada num jantar romântico ao lado de Cabral e do então deputado Luis Inácio Lula da Silva e a psicanalista Zeca, sua amante na época, uma morena de olhos claros que era muito amiga de Marilena.

Fotos dos dois casais juntos em clima romântico foram parar nas mãos dos responsáveis pela campanha presidencial de Fernando Collor, e só não foram usadas no horário eleitoral contra Lula por insistência da direção da TV Globo -- que, apesar dos panos quentes que colocou na história toda, achou por bem demitir Marilena de seus quadros.

(a memória seletiva dos petistas, que tanto reclamam da TV Globo, parece ter apagado por completo o fato de Lula ter sido salvo da degola moral naquela campanha justamente por uma atitude da direção da emissora, que visava preservar a imagem de uma profissional da casa)


O caso Mirian Dutra segue mais ou menos pelo mesmo caminho do caso Marilena Chiarelli.

A então jovem repórter da TV Globo Brasília teve um envolvimento romântico durante  6 anos com o então Senador Fernando Henrique Cardoso em meados dos Anos 80, quando ele estava aparentemente separado de sua mulher Ruth Cardoso.

Miriam Dutra engravidou em 1991, quando a relação já estava bem deteriorada, e bateu o pé insistindo em ter o filho -- e teve: seu nome é Tomás.

Desnecessário dizer que todo o meio jornalístico de Brasilia na época ficou imediatamente sabendo da história, que se espalhou rapidamente pelas redações de jornais de todos os Estados.

Em circunstâncias normais, a carreira de Mirian Dutra como jornalista na TV Globo teria acabado no momento em que ela engravidou.

Só que, ao invés de ser demitida, como aconteceu com Marilena Charelli, Mirian Dutra foi é promovida com um cargo no exterior, bem distante de Brasília.


A sorte de Mirian Dutra é que o PSDB tinha grandes planos para Fernando Henrique, e tratou de entrar em cena e consertar a situação da maneira mais diplomática possível.

Como foi feito esse acerto exatamente, não se sabe. O que se sabe é que Fernando Henrique foi eleito presidente sem nenhum escândalo, Dona Ruth virou primeira dama e Mirian Dutra foi trabalhar para a TV Globo na Europa, onde criou seu filho e onde permanece até hoje.

Dizem as más línguas que aquelas velhas fotos de Lula e Zeca, que estavam guardadas em algum cofre da direção da TV Globo, teriam sido usadas como moeda de troca para que a campanha petista não tocasse no assunto Mirian Dutra durante a campanha presidencial de 1994, que elegeu Fernando Henrique.


Mas então, semana passada, aparentemente insuflada por dirigentes do PT interessados em desviar o foco dos noticiários das falcatruas de Lula, Mirian Dutra, que acaba de se aposentar depois de 30 anos de serviços prestados para a TV Globo, decidiu abrir o jogo e falar abertamente sobre seu romance extra-curricular com o então Senador.

O motivo para toda a irritação de Mirian Dutra demonstrada nas entrevistas ninguém sabe ao certo.

Alguns dizem que teria a ver com o fato de seu filho Tomás ter-se aproximado de Fernando Henrique nos últimos anos, e se distanciado dela.

Outros dizem que teria relação com o fato de Fernando Henrique ter-se casado com sua secretária pessoal recentemente, e que Mirian Dutra esperava que, um dia, isso fosse proposto a ela, não a outra mulher.

Tem ainda quem afirme que Miriam sofre de depressão, é muito instável emocionalmente, e resolveu partir para uma vingança pessoal.


Enfim, seja lá o que foi que motivou essa irritação, Mirian Dutra pôs para fora tudo que a estava incomodando numa entrevista para o jornal Folha de S. Paulo e em outra entrevista para a revista Brasil com Z, que circula na Europa, e não mediu esforços em colocar Fernando Henrique numa situação mais embaraçosa do que propriamente delicada.

E conseguiu seu intuito.

Claro que, para isso, teve que apelar para a única coisa que um jornalista jamais deve fazer:

Virar notícia. 


Pois bem: em meio a todo esse tititi presidencial, que mais parece enredo de romance da Adelaide Carraro, aproveito para mergulhar num breve amarcord envolvendo passagens que vivi trabalhando em Brasília na primeira metade dos Anos 80, e situações que lembro de ter presenciado por lá.

Era muito comum na época alguns Ministros mais poderosos ligarem para os chefes das sucursais dos jornalões brasileiros e pedir para que enviassem para cobrir os Ministérios "plantonistas jeitosinhas, nada de barangas pelo amor de Deus!"

Uma ex-namorada bem "jeitosinha", cujo nome não vou revelar, caiu nessa mesma roubada duas vezes, a serviço de dois jornais diferentes.

A primeira foi durante a campanha de um famoso político mineiro. Certa vez, enquando concedia uma entrevista para ela, o malandrão esticou seu braço e começou a acariciar suas pernas enquanto respondia às perguntas que ela fazia. Ela ficou paralizada.

A segunda foi quando a mandaram cobrir um Ministério comandado por um politico baiano. Mal ela chegou para o primeiro encontro com o Ministro, já ouviu dele a frase: "Sente aqui no meu colinho que eu lhe conto tudo o que quer saber."

Dessa vez, ela nem soube o que dizer. Só não sentou no colinho. Ao menos, foi o que ela disse para mim na ocasião.


Na verdade, todos esses escândalos envolvendo Marilena Chiarelli, Mirian Dutra e várias outras repórteres em Brasília é café pequeno.

As grandes histórias de alcova de Brasília são infinitamente mais bandalhas do que isso, e quem as conhecia e as contava em detalhes para quem perguntasse eram as putas que trabalhavam na noite da cidade -- que todas as noites encerravam o expediente comendo alguma coisa ligeira num bar na 212 Sul chamado Sereia.

Eu frequentava o Sereia assiduamente. Não porque fizesse uso dos serviços das moças de lá -- okay, até fazia de vez em quando, quando rolava uma promoção -- , mas porque era sempre o último bar da cidade a fechar, já praticamente ao amanhecer.

Era um lugar muito divertido. Ouvi histórias cabeludíssimas sobre políticos que julgava insuspeitos. Brasília era uma cidade selvagem, devassa e deliciosamente brega na época.

Francamente, essa Brasília de hoje, da República Sindicalista do Brasil, é muito chata, muito babaca, e pequeno burguesa demais para o meu gosto.




Odorico Azeitona
gosta muito de putaria
e acha toda essa futricagem
pequeno burguesa
chata pra cacete.
Escreve toda semana
em LEVA UM CASAQUINHO
 

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