Thursday, February 18, 2016

2 OPINIÕES DE 2 CRÍTICOS SOBRE O FILME QUE É O GRANDE AZARÃO NA NOITE DOS OSCARS


BEM-VINDOS AO QUARTO DE JACK 

por Alex Gonçalves
para CineResenhas


No início de “O Quarto de Jack”, temos uma jovem (Brie Larson) e o seu filho Jack (Jacob Tremblay) confinados em um quarto sem janelas e com uma porta somente destravada com o dígito correto de seu segredo. Somente uma claraboia permite a passagem de luz e todos os cômodos de uma residência, como a cozinha e o banheiro, estão compactados neste ambiente com aproximadamente cinco metros quadrados.

A sutileza em como esse minúsculo cenário é explorado, bem como os personagens que ele habitam, já sugere o que é preciso saber sem que isso precise ser claramente verbalizado. Há aqui uma mulher vítima de um sequestro sem solução, suportando há sete anos um cativeiro com um filho que acaba de completar cinco. O único contato com o mundo exterior é uma televisão que perturba a imaginação de Jack, bem como o Velho Nick (Sean Bridgers), o responsável pelo cárcere.

Cineasta irlandês, Lenny Abrahamson parece ter se renovado em “O Quarto de Jack” em comparação ao mediano “Frank”. Principalmente ao confiar em Emma Donoghue para adaptar o seu próprio romance, “Quarto”, publicado no Brasil pela editora Verus. Toda a descrição necessária à literatura é suprimida para atender a uma linguagem que prima por estratégias para enriquecer personagens e os recursos visuais que o contexto permite.

Dito isso, Abrahamson consegue criar em “O Quarto de Jack” dois momentos que se correspondem a partir de divergências. Um universo de possibilidades foi criado na convivência solitária no “quarto” enquanto o “mundo lá fora” sufoca, gera grandes proporções a explosões emocionais que surgem com o trauma e a dificuldade de readaptação.

É preciso um elenco exemplar para dar conta desse turbilhão de contradições. É o que se vê em William H. Macy como um avô que se nega a reconhecer o seu neto, em Joan Allen em preservar a gentileza que de algum modo condenou a sua filha e em Brie Larson, quase tão intensa quanto em “Temporário 12”, ao comprovar que o papel de mãe é um pilar que precisa sustentar mesmo diante de sua ruína.

Ainda assim, é o pequeno Jacob Tremblay quem realmente move “O Quarto de Jack”. A sua vulnerabilidade, a princípio preservada com o colo materno, os óculos escuros e as máscaras, aos poucos dá lugar para aquela curiosidade de quem está assimilando novos códigos e as novas figuras que o rondarão. É na inocência de Jack que esta versão ficcional de tantas histórias reais consegue reascender aquela luz de esperança tão necessária após uma tragédia pessoal tão difícil de desvincular.



O PEQUENO GRANDE FILME DA FESTA DOS OSCARS NESTE ANO

por Pedro Vieira
para CCine10

Há diversas histórias de superação e crescimento sendo contadas todos os anos pelo cinema. Porém, poucas delas trazem personagens tão singulares e com um desenvolvimento tão honesto quanto a narrada pelo filme “O Quarto de Jack” (Room), longa dirigido por Lenny Abrahamson a partir do roteiro de Emma Donoghue, que escreveu o livro homônimo que originou o filme.

Essa singularidade vem do pequeno Jack (Jacob Tremblay) e sua mãe Joy (Brie Larson), que moram sozinhos num quarto fechado, com uma pequena claraboia no teto sendo o único vislumbre do mundo exterior que os dois possuem. Joy foi obrigada a criar o garoto desde pequeno no cômodo, pois foi sequestrada quando tinha 17 anos e tem passado os últimos 7 anos de sua vida dentro do quarto servindo ao seu sequestrador e cuidando do garoto da forma como pode. Devido a isso, Jack nunca teve contato com o mundo exterior e criou uma fantasia dentro de sua cabeça de que não existe mais nada fora do quarto devido às histórias contadas pela mãe. O garoto, entretanto, precisa começar a tomar consciência do mundo fora de seu quarto para tentar ajudar a mãe com um plano que pode liberta-la do seu cativeiro.

A relação entre mãe e filho proposta pelo filme é muito bem exposta graças a ótima atuação do pequeno Tremblay e de Larson, que conseguiu uma indicação ao Oscar por seu papel. A química dos dois é ótima, e mesmo quando precisam interagir com outras personagens, os dois atores se saem muito bem em seus papéis, com Larson trazendo à tela toda a força protetora de uma mãe alinhada a um drama emocional fortíssimo na expressão de seu olhar, enquanto Tremblay demonstra sua timidez e inocência de forma encantadora pela sua voz fraca e doce.

Como Jack é uma criança curiosa de apenas 5 anos que pouco conhece o restante do mundo, a direção de Abrahamson se preocupa em acentuar o ponto de vista do garoto com planos fechados e closes de objetos do cenário, enquanto que o enquadramento pode ser mais aberto nos momentos em que o foco é a mãe – mas não muito, já que o filme precisa manter seu carácter claustrofóbico devido ao estado emocional de suas personagens causado pelo quarto. Com esse duplo foco nas personagens o filme cria uma dualidade, que é de certo modo uma parte da essência do longa, já que a narrativa também será dividida em dois pontos, e o longa terá a preocupação de transformar a narrativa tanto em um drama comovente, quanto trágico ao descrever o processo de evolução de seus protagonistas.

O problema, entretanto, é quando o filme acaba perdendo sua veia mais trágica e cria sequências que se esforçam tanto para comoverem, que terminam por se tornarem estranhas em relação ao restante da obra. “O Quarto de Jack”, porém, consegue entregar um resultado bastante satisfatório, e ao seu final, é capaz de até mesmo criar uma metáfora a partir de um movimento de câmera que pode parecer simples e comum para os mais desatentos, mas que na verdade possui um grande significado para esse filme.



 O QUARTO DE JACK
(Room, 2015, 118 minutos)

Direção
Lenny Abrahamson

Roteiro
Emma Donoghue

Elenco
Jacob Tremblay
Brie Larson
Joan Allen
Sean Bridgers
William H Macy



em cartaz nas Redes ROXY, CINEMARK E CINESPAÇO



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