Wednesday, February 3, 2016

2 OPINIÕES DE 2 CRÍTICOS SOBRE A NOVA COMÉDIA DE WILL FERRELL E MARK WAHLBERG


WILL FERRELL E MARK WAHLBERG SE REÚNEM
EM COMÉDIA-FAMÍLIA PUXADA NA IRONIA

por Marcelo Hessel
para OMELETE


Justo quando o padrasto coxinha cheio de boa vontade consegue a confiança dos filhos da sua mulher perfeita, o atlético e irresponsável ex-marido dela volta para tentar reconquistá-los. É a sinopse típica de um filme-família para o almoço de domingo, estrelado de preferência por Tim Allen e Sinbad (por onde anda Sinbad?), mas em Pai em Dose Dupla (Daddy's Home) a fórmula sofre duas atualizações.

A primeira, que vem a reboque da escalação de Will Ferrell e Mark Wahlberg para os papéis principais, é que a comédia se reveste de ironia. Quanto mais sérios os dois atores tentam parecer em cena (e a dinâmica entre os dois só melhora desde que começaram essa parceria em Os Outros Caras), mais Pai em Dose Dupla parece um esquete de humorístico parodiando a correção política da vidinha de subúrbio americano. Até para fazer o merchandising do automóvel eles não perdem a piada (já os merchands da InBev são mais sinuosos e incluem de brinde umas referências ao Brasil).

A segunda atualização - que parece inevitável nestes tempos em que o retrato da família tradicional já foi substituído por Modern Family na sala de estar das pessoas - são as soluções que o filme encontra para o conflito dos dois pais. Não convém adiantar aqui o que acontece no filme, mas em resumo Pai em Dose Dupla é uma comédia esperta disfarçada de filme-familia tradicional, inofensivo e edificante.

Dadas essas condições, o grande desafio de Pai em Dose Dupla é encontrar o tom certo da ironia e das viradas. O diretor e corroteirista Sean Anders às vezes força a mão na primeira, quando se rende a tiradas de metalinguagem que não acrescentam muito ao filme (como a constrangedora cena da não-corridinha de redenção do pai pela rádio), e no geral sua direção passa em branco (tudo é filmado no básico plano e contraplano e em alguns momentos os atores sequer parecem estar juntos na hora da filmagem, substituídos digitalmente diante do chroma-key).

Já entre as viradas há pelo menos duas notáveis: na cena em que o doutor brasileiro vivido por Bobby Cannavale (sempre roubando cenas) nos surpreende, quando já achávamos que ele era mais uma armação manjada de Wahlberg; e na cena da lição com o filho na garagem, quando a câmera começa a recuar, indicando um fim de plano apaziguador, com aquele zoom out tipo Mad Men, e de repente para de modo brusco para dar ao discurso dos pais um arremate mais moderno.

Nesses dois momentos, as viradas não servem apenas para nos manter atentos e o roteiro respirando, mas também para inverter nossas expectativas. À parte o que Pai em Dose Dupla tem de mais manjado (no fundo, quem já viu qualquer outra comédia de Wahlberg e Ferrell já sabe mais ou menos o que esperar), sua forma de injetar alguma contemporaneidade nesse subgênero tão velho do teste-da-união-familiar é bem esperta e não tem nada de demagógica.


WILL FERRELL E MARK WAHLBERG BRILHAM
NUMA COMÉDIA ROTINEIRA, MAS ASSISTÍVEL

por Juca Claudino
paraCcine 10

“Pai em Dose Dupla” consegue nos divertir. Não é uma comédia que necessariamente se encontra muito acima da média dos seus concorrentes, mas o embate entre os personagens Brad (Will Farrel) e Dusty (Mark Wahlberg), totalmente opostos entre si, gera momentos que de fato conseguimos ser levados a algumas gargalhadas com as bizarrices que se envolvem. Todavia, a partir do momento em que o filme assume a proposta de uma comédia “besteirol”, o roteiro gera algumas barreiras ao objetivo da película: é repetitivo e utiliza-se demasiadamente de clichés, tornando as piadas do filme (e o filme em si) previsíveis, perdendo o fator surpresa dos acontecimentos e desarmando o humor de alguns momentos cômicos (é como tentar rir de novo com a mesma piada, algo que certamente já nos deparamos em diversos outros filmes de comédia que seguem o estilo de “Pai em Dose Dupla”).

O diretor Sean Anders já não é um estranho no ninho quando o assunto é “comédia sobre família” (não de família, mas sobre família). Além de “Pai em Dose Dupla” (seu quinto longa como diretor, segundo dados da IMDb), “Família do Bagulho” e “Este é Meu Garoto” são outros títulos que também abordam o núcleo familiar como a arena na qual as piadas serão expostas. Dessa vez, ele aposta em dois arquétipos diferentes que se confrontarão para ser o “pai preferido” de duas crianças: Brad, um parvo, imbecil e ingênuo pelo excesso de inocência que carrega em sua mentalidade, vivido por Will Ferrell; e o narcisista, malicioso, malandro e egocêntrico Dusty, vivido por Mark Wahlberg. A atuação de ambos no filme já é o suficiente para que identifiquemos esses dois arquétipos, e assim já entendamos a maneira como agem e pensam sem muitas dificuldades. O primeiro é o padrasto que busca a aprovação de Megan e Dylan (os filhos) para que o amem e o aceitem como parte da família, sendo extremamente responsável e amável com as crianças, embora não tenha tanto sucesso nessa sua missão. O segundo, o “pai biológico” das crianças, que guarda um carinho por elas mas não tem a menor responsabilidade para ser pai, e portanto interfere de forma mínima no processo de criação e socialização de seus filhos mesmo que, vejam, Megan e Dylan o amem e o aceitem como “pai”. A disputa entre o “padrinho” e o “pai biológico” para ser o “pai preferido” de Megan e Dylan é o foco central do filme, e para tanto, ele estabelece alguns preceitos que de certa forma podem inclusive gerar um incômodo: a ideia de pai como o “macho-alfa” é em alguns pontos abordada, e o conceito de família definido pelo “american way of life” é fortíssimo na película toda. É claro que essas definições irão permitir que a disputa entre Brad e Dusty seja coerente no universo de “Pai em Dose Dupla”, mas em diversos momentos do filme você deve se perguntar “por que necessariamente as crianças devem escolher ou Brad ou Dusty para amar mais? Isso é um tanto desumano…”. Bom, além disso, outro fator desperta uma certa curiosidade: como o foco do filme é uma disputa que busca interesses egoístas, muitas vezes “os filhos” são mostrados mais como “objetos de desejo”, gerando uma objetificação desses personagens. É claro que a ideia do filme é nos fazer rir e ponto, sendo politicamente correto ou não. Mas esses detalhes não conseguem ficar em branco (por mais que no final, o filme tente uma redenção por esses incômodos todos).

Dois personagens opostos lutando por um objetivo que disputam. A ideia é um grande cliché, mas ter um cliché como sinopse não é sinal de um filme bom ou ruim (seja lá o que bom ou ruim quer dizer para você). “Pai em Dose Dupla” se estrutura como se cada cena fosse uma nova batalha entre Brad e Dusty, e nessas batalhas temos os episódios cômicos que o filme apresenta. É fato que uma das definições mais antigas para a comédia é o conceito de que “rimos daquilo que julgamos inferior a nós”. No caso, o filme é bem coerente a esse ponto de vista, e com isso consegue gerar uma diversão: no fim das contas, o filme nos anima com a dimensão bizarra que a competição assume. Todavia, poderia ter mais graça se o roteiro, escrito pelo diretor Sean Anders, além de Brian Burn e John Morris, não utilizasse mais clichés e situações extremamente previsíveis durante boa parte do decorrer do filme. Isso faz com que a comédia caia para mais próximo de um humor senso comum e diminua seu potencial cômico. Falar isso não é nenhuma novidade comparado aos filmes que surgem como “concorrentes” de “Pai em Dose Dupla”. As comédias que são discípulas do mesmo estilo cometem a mesma coisa. O fato de haver um público muito fiel a esses filmes, que busca exatamente assistir essa fórmula, torna películas como essa de Sean Anders certeiras de um ponto de vista comercial. Quando, embora, decide-se colocar esse filme em cartaz durante a temporada de filmes que estão na corrida do Oscar, presume-se que as expectativas quanto ao lucro deste no Brasil não são tão altas assim. Com requintes de Sessão da Tarde, embora algumas vezes se incline um pouco para a acidez, “Pai em Dose Dupla” consegue superar, em questão de divertimento, os filmes mais recentes de Will Ferrell (talvez com excessão de “Tudo por um Furo”, sequência de “O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy”), embora em questão de roteiro seja mais do mesmo tendo em vista o que estamos habituados a ver do ator nos últimos cinco anos – que é o grande chamariz do filme, já que o maior especialista do gênero em ação aqui, aos olhos de seu público alvo, é o ator de 48 anos.

Um filme “Sessão da Tarde”, tendo em vista alguns pensamentos regados do “American Way of Life”, com um roteiro repleto de clichés. Baseando-se no contexto de “Pai em Dose Dupla”, nenhuma novidade sobre isso. Mas que o filme consegue ser divertido, sim, isso fato. Tem um potencial comercial suficientemente forte, mesmo que esteja sendo lançado não só em meio aos filmes que estão na corrida dourada do Oscar mas de mesma forma junto com “Os Dez Mandamentos – O Filme”, cuja a expectativa sobre o lucro é grande. O filme de Sean Anders consegue atender às exigências de seu público muito bem. Vamos ver como o filme se sairá nas bilheterias brasileiras. 


PAI EM DOSE DUPLA
(Daddy's Home, 2015, 96 minutos)

Direção
Sean Anders

Roteiro
Brian Burns
Sean Anders
John Morris

Elenco
Will Ferrell
Mark Wahlberg
Paul Scheer
Hannibal Duress
Alessandra Ambrosio
Lamonica Garrett
Cedric Yarbrough


em cartaz nas Redes Roxy e Cinemark

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