Friday, March 24, 2017

CAFÉ & BOM DIA #55 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Descobri Roland Barthes através de uma biografia escrita por Louis Jean Calvet, passaram alguns anos até ler " Fragmentos de um discurso amoroso ", texto absolutamente fantástico e imprescindível para que gosta de ler. Não menos importante os livros " Sade, Fourier, Loyola " e " Sobre Racine ". A editora Martins Fontes editou mais de 20 títulos deste mestre, um dos quais li neste sábado de chuvas intensas. Pois então, Barthes reflete sobre o falecimento da mãe. " Diário de Luto " é o sabor amargo que Henriette Binger deixou. Marca nas páginas um livro desejado, a importância de sua mãe no resultado de suas realizações. Quando diz ser estranho, pois a voz de sua mãe que conhecia tão bem, se diz que ela é o próprio grão de lembrança ( " a querida inflexão " ) , não ouve mais. É como uma surdez localizada. ( pag. 14 ). Livros que deixam um gosto amargo, de difícil digestão. Foi assim com " Cartas ao Pai " de Kafka, como também foi com " Uma Morte Suave " de Simone Beauvoir. O editor põe como chamada uma das páginas que registra a imensa dor de Barthes. 18 de agosto de 1978 O lugar do quarto onde esteve doente, onde ela morreu e onde habito agora, a parede na qual a cabeceira de seu leito se apoiava, pus ali um ícone - não por fé - e ponho sempre flores sobre uma mesa. Chego a não querer viajar para poder ali estar, para que as flores nunca murchem. ( pag. 187 ). Fica o devotamento desse filho para uma mãe que silenciava nos seus momentos de preparação dos inúmeros livros que não haverão de morrer pela primorosa sensibilidade.


A volta dos que já foram. Em si mesma, toda ideia é neutra ou deveria sê-lo; mas o homem a anima, projeta nela suas chamas e suas demências; impura, transformada em crença, insere-se no tempo, toma a forma de acontecimento: a passagem da lógica à epilepsia está consumada... Assim nascem as ideologias, as doutrinas e as farsas sangrentas. Cioran e a genealogia do fanatismo. Emil Cioran nasceu em 1911, na Romênia, formando-se em Filosofia pela Universidade de Bucareste. Em 1937, mudou-se para a França, onde escreveu a maior parte de sua obra. Morreu em 1995, em Paris, legando-nos uma obra perturbadora, provocante, densa, de linguagem profundamente poética e estilo verbal arrojado e radical. Filósofo-poeta que confronta os cumes do desespero, sonda os abismos do niilismo e ainda tem a coragem de persistir na existência ainda que considere ter nascido mais como inconveniente do que como maravilha, Cioran escreveu algumas das mais belas páginas de filosofia que conheço. Sua escrita a marteladas às vezes tem o sabor dos melhores aforismos de Nietzsche e sua lucidez sem limites parece conduzir a extremos alguns dos convites do existencialismo Camusiano. Sobre seu “projeto filosófico”, Cioran diz o seguinte: “queria semear a Dúvida até nas entranhas do globo, impregnar com ela toda a matéria, fazê-la reinar onde o espírito jamais penetrou e, antes de alcançar a medula dos seres vivos, sacudir a quietude das pedras, introduzir nelas a insegurança e os defeitos do coração. Arquiteto, teria construído um templo à Ruína; predicador, revelado a farsa da oração; rei, hasteado a bandeira da rebelião. Eu teria estimulado em toda parte a infidelidade a si mesmo, impedindo multidões de corromperem-se no podredouro das certezas…” (Breviário de Decomposição) CIORAN É UM AUTOR OBRIGATÓRIO tanto e ouso trazer de volta.


No Livro II da República, Platão expõe a teoria de que ninguém é justo, honesto e íntegro voluntariamente. De Maquiavel a Thomas Hobbes, de Rousseau a Sigmund Freud passando por tantos outros, essa problemática questão tem sido foco de análise nas ciências humanas: desvendar nossa “natureza” é imperativo. Através do famoso “mito do anel de Giges”, Platão (427-347 a.C.) nos esclarece que, disfarçavelmente violento e ganancioso, o homem é levado pelo desejo de ter sempre mais (poder, glória, conforto, prazeres e vantagens, por exemplo). Giges era um pastor que morava na região da Lídia. Após uma tempestade, seguida de um tremor de terra, o chão se abriu e formou uma larga cratera onde ele apascentava seu rebanho.Surpreso e curioso, o pastor desceu até a cratera e descobriu, entre outras coisas, um cavalo de bronze, cheio de buracos através dos quais enfiou a cabeça e viu um grande homem nu que parecia estar morto. Ao avistar um belo anel de ouro na mão do morto, Giges o tirou e tratou de fugir logo dali. Mais tarde, reunindo-se com os outros pastores para fazer o relatório mensal dos rebanhos ao rei, Giges usou o anel. Após tomar seu lugar entre os pastores na Assembleia, ele girou por acaso o engaste do anel para o interior da mão e imediatamente tornou-se invisível para os demais presentes. E foi assim, totalmente invisível, que Giges ouviu os colegas o mencionarem como se ele não estivesse ali. Mexeu novamente o engaste do anel para fora da mão e tornou a ficar visível. Admirado com a descoberta desse poder, Giges repetiu a experiência para confirmar a magia. Seguro de si, sem titubear, ele dirigiu-se ao palácio, seduziu a rainha, matou o rei a apoderou-se do trono.


Quando Albert Camus escreve em seu livro " A Morte Feliz " que a felicidade está diretamente relacionada a existência da liberdade e do dinheiro. entrou rasgando minha garganta. Foi o primeiro texto que li de Albert e confesso ter saído com a alma arranhada na ocasião. Patrice Mersault, Marthe, Roland Zagreus fustigaram meus nervos. Por insistência de um caro amigo que se perdeu na poeira da estrada da vida li " O Homem Revoltado " quando não tinha o menor prepara para a complexidade do texto. A história filosófica sobre a revolta do homem fazendo referências a importantes pensadores, menciona o niilismo, o surrealismo e o existencialismo. André Breton, Pierre Naville, Sade, Nietzsche e Dostoiévski que são citados em várias oportunidades exigiu algo que não tinha noção do que cada um pensava a respeito das crenças e necessidades sociais. Voltando ao livro anos depois afirmo ser um texto riquíssimo. " O Mito de Sísifo " aborda a arte como alternativa para expressar o mundo inexplicável. Cita Dostoievski, Kafka, Malraux, Balzac e Sade como romancistas capazes de explorar o suicídio filosófico usando o trabalho repetitivo dos dias atuais à tarefa determinada pelos deuses a Sísifo. O cotidiano que afasta o homem da consciência da vida, impondo-se à mediocridade mental conformista. O que falar de " A Peste " e " A Queda " ? É indiscutível o valor das obras de Albert, diz esse mestre que a arte é alternativa para expressar o mundo inexplicável.


A chamada Escola de Barbizon é, em realidade, composta de um conjunto informal de artistas, incluindo Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875), Narcisse Virgile Diaz de la Peña (1808-1876), Charles-François Daubigny (1817-1878), Jules Dupré (1811-1889), Charles Emile Jacque (1813-1894), Jean-François Millet (1814-1875), Constant Troyon (1810-1865) e Théodore Rousseau (1812-1867), que viveram nas redondezas da pequena cidade de Barbizon, na França, entre as décadas de 1830 e 1880. A poucas horas de trem de Paris, a cidade fica à margem da floresta de Fontainebleau que passa, na época, a atrair pintores paisagistas e fotógrafos como Charles Marville (1813-1879) e Gustave Le Gray (1820-1884). Também é visitada por turistas que vêm da capital devido a seu caráter intocado, apesar de estar em uma região muito próxima às áreas que rapidamente se industrializam no país. A cidade se oferece como uma atmosfera idílica, arcádica, onde é possível uma relação direta com a natureza como antídoto à modernização realizada pelo Barão de Haussmann (1809-1891) sob as ordens de Napoleão III. O crítico Théophile Thoré (1807-1889), entusiasta do grupo, revendo o trabalho de Diaz de la Peña no Salão de Paris de 1847, afirma que a pintura de Barbizon faz lembrar de uma natureza eternamente fecunda e luxuriante, que contrastaria com a artificialidade da vida no ambiente urbano. O mito de um encontro verdadeiro com a natureza coincide com o momento em que os espaços de lazer se estabelecem, contrapondo-se ao cotidiano do trabalho. Esse processo se tornaria claro poucas décadas depois nas obras de pintores como Édouard Manet (1832-1883) e dos impressionistas – tais pintores tematizam também os subúrbios de Paris, os balneários, lugares onde a população escapava do cotidiano urbano. As influências da Escola de Barbizon incluem o rococó, as paisagens e as cenas de gênero flamengas, mas o que parece tê-la marcado de modo decisivo é a pintura inglesa de William Turner (1775-1851) e, sobretudo, a de John Constable (1776-1837), com suas pinceladas largas, rápidas e precisas.

CAFÉ E BOM DIA


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.

SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

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