Wednesday, March 15, 2017

O CRÍTICO DE CINEMA CARLOS CIRNE INDICA DOIS BONS FILMES EM CARTAZ NA CIDADE



Revivendo parcialmente sua persona “Beetlejuice”, Michael Keaton (Globo de Ouro por “Birdman”, 2014, num papel recusado por Tom Hanks) está de volta às telas, desta vez na pele de um dos maiores escroques (trocadilho irresistível) da economia mundial, Ray Kroc, o “fundador” do império mundial de fast food McDonald’s.

Fundador entre aspas porque, na realidade, ele se apropriou de uma ideia revolucionária, desenvolvida pelos reais McDonalds, os irmãos Dick (Nick Offerman) e Mac McDonald (John Carroll Lynch), e a transformou no negócio global que chega a atender 68 milhões de clientes todo dia.

De vendedor itinerante a CEO da McDonald’s Corporation, o tortuoso caminho de Ray o levou a conhecer os irmãos Dick e Mac para atender a um pedido de máquinas de preparar milk-shakes, que Ray vendia então, em 1954.

Daí a se interessar por ser franqueador das lanchonetes inspiradas no conceito dos irmãos foi um pulo. Ray percebeu o potencial do serviço direto, barato e rápido desenvolvido, e o estendeu a todo o país, em pouco tempo.



Não sem custo, claro.

Sua vida pessoal – o casamento naufragado com Ethel (Laura Dern) – e os constantes problemas econômicos, tudo resolvido sempre com certa “torção” de fatos e/ou atitudes.

E estes problemas econômicos só começam a se resolver quando Ray entende que o dinheiro não estava na franquia em si, mas em adquirir terras onde os franqueados pudessem construir as lojas, pagando-lhe arrendamento dos terrenos (ainda hoje, o McDonald’s é um dos maiores proprietários de terras em todo o mundo).

Sua relação com os irmãos McDonald, que sempre foi meio inamistosa, degringolou de vez quando Ray começou a introduzir alterações nas lojas e em seus cardápios sem consultá-los, o que era expresso no acordo deles.

Da quebra do contrato entre eles, à quase bancarrota dos irmãos, Ray não pensou duas vezes antes de atropelar quem estivesse em seu caminho: sua primeira esposa; o casamento de um de seus franqueados – de quem ele “rouba” a mulher, Joan Smith (Linda Cardellini).

Esta história de ganância e poder é trazida às telas sob direção de John Lee Hancock, num filme ágil, com excelente direção de produção de Michael Corenblith, e sequências onde Ray tenta convencer novos franqueados com uma edição primorosa de Robert Frazen.

Pode até fazer você rever sua posição frente a um McLanche Feliz. Feliz para quem? Não perca, o filme!


FOME DE PODER
(The Founder, 2016, 115 minutos)

Direção
John Lee Hancock

Elenco
Michael Keaton
Nick Offerman
John Carroll Lynch
Linda Cardellini
Laura Dern
Kate Kneeland
Patrick Wilson




O novo filme de Olivier Assayas (o mesmo diretor de “Acima das Nuvens”, 2014), “Personal Shopper”, sofre de um curioso processo de falta de identidade.

Não se estabelece como thriller policial, drama sobrenatural, ou apenas veículo para a inexpressiva Kristen Stewart e seu método de interpretação: cara de enfado e boca entreaberta.

Apesar de menos apática que de costume, Stewart entrega novamente uma personagem que transita pelas bordas do mundo das celebridades, e enfrenta problemas de saúde.

Em “Acima das Nuvens” ela era a assistente pessoal de uma diva do cinema e teatro à beira do ocaso (Juliete Binoche). Aqui, ela é Maureen, a “personal shopper” de uma intratável milionária, Kira (Nora von Waldstätten), no mundo da moda parisiense.

Sua função: escolher, adquirir e retirar peças mais que exclusivas de coleções das mais famosas grifes internacionais para sua patroa, transitando entre Milão, Paris e outras mecas da moda européia.

Paralelamente, tem que lidar com a recente perda de seu irmão gêmeo, com quem dividia mais do que a data de nascimento.

Aparentemente, ambos desenvolveram poderes mediúnicos, e estabeleceram o pacto de que aquele que partisse primeiro voltaria, para contar ao outro o que acontece “depois”.

Isto, mais a venda da antiga casa da família, parece ser um pouco além do que Maureen consegue lidar.

Nem a presença da cunhada, Lara (Sigrid Bouaziz), parece aliviar este fardo.

Pelo contrário.



Como se não bastasse tudo isso, um crime acontece e Maureen se vê completamente envolvida na situação, sendo assediada por alguém que pode ou não ser a pessoa culpada.

E é justamente neste ponto em que o roteiro -- também de autoria do diretor, escrito meio às pressas, para cobrir um projeto norte-americano que não se desenvolveu e aproveitar o envolvimento da estrela, Stewart -- perde completamente o rumo, se transformando de uma história melancólica e lenta sobre a falta de interesse no trabalho e na vida pela personagem principal, num thriller policial/paranormal, de resolução rasa e previsível.

E a culpa nem é da habitual apatia da atriz, neste caso.

A história realmente se enrola desnecessariamente e, quando se resolve, não convence.

Curiosamente, o filme foi muito mal recebido pela crítica do último Festival de Cannes, mas ovacionado pelo público em sua estréia.

E Olivier Assayas acabou recebendo o prêmio de Melhor Diretor pelo júri da competição oficial do Festival.



PERSONAL SHOPPER
(Personal Shopper, 2016, 105 minutos)

Direção
Olivier Assayas

Elenco
Kristen Stewart
Lars Eidinger
Sigrid Bouaziz
Anders Danielsen Lie
Ty Olwin
Nora von Waldstätten

Os dois filmes acima
estão em cartaz no
Cinespaço Miramar Shopping



Carlos Cirne é Crítico de Cinema
e há 15 anos produz diariamente
com o crítico teatral Marcelo Pestana
a newsletter COLUNAS E NOTAS,
de onde os textos acima foram colhidos



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